Chicos 47 21.12.2016
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<strong>Chicos</strong> <strong>47</strong><br />
Os dois opúsculos são uma espécie<br />
de paródia às viagens de exploração a mundos<br />
desconhecidos, comuns no século XVIII. O narrador,<br />
proibido de "percorrer uma cidade, um<br />
ponto" (p. 77) por razões que, embora não fiquem<br />
claras, estão ligadas a motivos políticos,<br />
resolve empreender uma excursão pelo<br />
"universo inteiro" que representa seu quarto,<br />
tendo como companhia apenas seu criado Joanetti<br />
e sua cadela Rosina. Se na primeira parte<br />
trata de preencher quarenta e dois dias de solidão<br />
e exílio, na segunda parte, escrita trinta<br />
anos mais tarde, "sem pátria" e "sem emprego"<br />
(p. 83), descreve o período de apenas uma<br />
noite no mesmo cômodo de outrora. Irônico,<br />
bem-humorado, crítico, somos apresentados aos<br />
objetos que compõem o quarto e, entre um passo<br />
e outro, o narrador faz comentários sobre temas<br />
que associa de maneira aleatória, em um<br />
prenúncio do que viria a ser conhecido no final<br />
do século XIX como "fluxo de consciência". Tudo<br />
que observa motiva uma reflexão, e se outros<br />
propuseram peregrinar para vistoriar o mundo<br />
de fora, Xavier de Maistre nos convida a uma<br />
jornada para dentro. Talvez o maior mérito desta<br />
obra seja o legado a Machado de Assis (1839-<br />
1908), que, influenciado por seu estilo tortuoso<br />
e por suas tiradas metafísicas, meteu-lhe<br />
"algumas rabugens de pessimismo", como anotaria<br />
nas Memórias póstumas de Brás Cubas.<br />
Avaliação: BOM<br />
(Abril, 2016)<br />
Entre aspas<br />
"(...) a paixão obscurece a inteligência (...)" (p. 65)