<strong>Chicos</strong> <strong>47</strong> W. J. Solha Waldemar José Solha, escritor, cordelista, ator e artista plástico nascido em Sorocaba (SP), mora em João Pessoa (PB) desde 1962. É autor dos romances: Israel Rêmora (1975), A Canga (1978), A Verdadeira História de Jesus (1979), Zé Américo Foi Princeso no Trono da Monarquia (1984), A Batalha de Oliveiros (1989), Shake-up (1997). PARA FUGIR DOS VIVOS – romance de Eltânia André Não sei se todo mundo sentiu ou vai sentir o mesmo que eu ao ler esse romance: que ele fala do seu leitor. Talvez, no meu caso, porque os dois narradores são filhos de um carpinteiro que morre de pneumonia, como meu pai. Talvez porque um deles é funcionário do Banco do Brasil – do qual sou aposentado, e o outro, escritor – como eu. Depois do enterro do meu pai, ao voltar para a sua casa, vi um de seus chapéus cinzas, pensei em ficar com ele, mas ao levá-lo à cabeça descobri que o velho – que me parecia tão alto - era menor do que eu. No romance, esse é o símbolo maior do morto, objeto de que os filhos têm medo e que a mãe põe num altar. PARA FUGIR DOS VIVOS – dessa mineira de Cataguases radicada em São Paulo - é um livro triste. “Aprendi muito cedo que vida é solidão”, diz o primeiro narrador. E, noutro ponto: “não acredito nos homens, não acredito nas religiões, nem na política ou na filosofia, sequer no alívio material do consumo. Não há escapatória, quando se encara a vida a sangue frio. (...) Convivo com o vazio”. Mais adiante: “Nada muda com sua morte. Os ônibus continuam a circular, o comércio não fecha as portas, a engrenagem da vida funciona no mesmo ritmo”. Eltânia André habilidosamente constrói seus personagens pelas palavras que usam. A mulher com quem o bancário se casa é uma réplica da mãe que ele teve: “estou casada com um homem imprestável, não tem expediente para nada, é tudo eu: essa droga dessa lâmpada está queimada há dois dias e você nem se toca...” E a mãe, num passado um tanto distante: “Engenheiro! Engenheiro é profissão de gente rica. Ponha-se no seu lugar, (...) vá estudar para passar no concurso do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica, isso sim é um destino promissor para você”. É impressionante quando ele enche, aqui e ali, meias páginas de expressões em que emperra, tipo “medroso medroso medroso medroso”, “burro burro burro burro”, ou “fracassado”, “estúpido”, “verme verme verme verme”. Miguel acaba, por essas e outras, um personagem difícil de esquecer. A parte final do romance, que é o seu livro, contrasta enormemente com a inicial, do irmão. Na sua narração, as paixões dominantes são o futebol e uma colega de quem não tem coragem de se aproximar. Na do outro, as referências são a Coleridge, Camus, Thomas Mann e assemelhados, e confissões como “uma resenha com crítica positiva da minha obra na Folha de São Paulo, página inteira, é uma descarga de libido superior a uma boa trepada. Ganhar prêmios nacionais: a foda perfeita; internacionais – o ápice do orgasmo”. A forte lembrança de uma infância extremamente angustiante une, desune os irmãos. Cada um segue seu rumo, até que – anos depois da morte do pai terrível, morre a terrível mãe e eles vão à casa dela e se desfazem de tudo. “Por fim, o caminhão veio e, em poucos minutos, os homens deixavam ecos pela casa vazia”.
<strong>Chicos</strong> <strong>47</strong> Clips SODOMA & GOMORRA, de José Heitor, volta, restaurada, ao chão onde foi exposta pela primeira vez, há <strong>47</strong> anos. Galeria do Cine Brasil, Além Paraíba MG. José Heitor - Escultura em madeira Com fotografias de Rodrigo Salgado e Carlos T. Moura, textos de Carlos T. Moura, o volume oferece-nos uma panorâmica da obra deste extraordinário escultor mineiro. José Heitor é figura ímpar nas artes da Zona da Mata Mineira. Para adquiri-la, os interessados podem contatar o Depto. De Cultura - Cine Brasil - (32) 3462-9614 em Além Paraíba - MG.