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Chicos 47 21.12.2016

e-zine literária de Cataguases - MG

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<strong>Chicos</strong> <strong>47</strong><br />

Ronaldo Cagiano<br />

Nasceu nem Cataguases MG e reside em<br />

São Paulo SP. Publica, regularmente, artigos e<br />

criticas literárias em diversos jornais e revis-tas<br />

do país e do exterior. Entre os vários já publicados<br />

destacam-se: Palavra Engajada (poesia<br />

1989) Exílio (poesia 1990) Palavracesa (poesia<br />

1994) Canção dentro da noite (poesia 1999) Dezembro<br />

indigesto (contos 2001) Concerto para<br />

arranhacéus (contos 2004) Dicionário de pequenas<br />

solidões (contos 2006) O sol nas feridas<br />

(poesia 2011) Moenda de silêncios (novela em<br />

parceria com Whisner Fraga 2012)e Eles não<br />

moram mais aqui (contos 2016).<br />

Catarse do luto, exorcismo da perda<br />

Na literatura, o luto vem sendo abordado de maneiras<br />

distintas por autores nacionais e estrangeiros,<br />

cada qual, à sua maneira, incursionando pela<br />

dor provocada pela morte, de modo a realizar<br />

não apenas a catarse de um passivo existencial,<br />

mas também como tentativa de compreensão<br />

dos mistérios da finitude ou para superação do<br />

trauma da perda.<br />

Nesse mergulho em busca de uma leitura peculiar<br />

ou pessoal da “Indesejada das Gentes”, vamos<br />

percorrer autores e obras paradigmáticos,<br />

que lançam um farol sobre o escuro que os habitam<br />

(ou a seus personagens) nesse momento doloroso,<br />

não apenas para minimizar a angústia de<br />

uma ausência, mas também para estabelecer um<br />

diálogo afetivo e íntimo (e às vezes confessional)<br />

com aqueles que partiram, seja para enfrentar<br />

uma realidade vivida ou na elaboração ficcional<br />

de um luto genérico. Assim, nos deparamos com<br />

uma literatura de atmosfera dilacerante, que vai<br />

deslindando esse processo de aceitação ou compreensão<br />

do luto como condição inafastável e<br />

que deflagra no ser um desejo íntimo e catártico<br />

de transcendência, que leva à percepção do frágil<br />

liame entre a morte e o morrer, entre o nascer<br />

e o partir.<br />

Essa relação com o pesar vai encontrar na bibliografia<br />

os mais pungentes momentos em que a<br />

expressão estética do sofrimento alcança também,<br />

e paradoxalmente, uma dimensão poética,<br />

como em Nada a temer, de Julian Barnes; O ano<br />

do pensamento mágico, de John Didion; Nora<br />

Webster, de Cólm Toibin; O brilho do bronze,<br />

de Boris Fausto; Diário do luto, de Roland<br />

Barthes; A desumanização, de Valter Hugo<br />

Mãe; Os verbos auxiliares do coração, de Péter<br />

Esterházi; e Carta a D – História de um amor, de<br />

André Gorz. São exemplos candentes e apaixonados<br />

de uma intervenção literária que vai além<br />

do simples relato ou do mero sentimento de<br />

exorcismo do terrível impacto que o desaparecimento<br />

de um ente querido é capaz de provocar.<br />

Tais situações, com todas as suas consequências<br />

emotivas muitas vezes incontornável, gera um<br />

estado emocional em que tristeza se mistura à<br />

culpa e acaba por prolongar a melancolia e a<br />

fragilidade e retardar a reconciliação com a realidade<br />

vigente ou com a própria vida.

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