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A ESCRAVA ISAURA - BERNARDO GUIMARAES

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vocês.<br />

— Por minha parte, disse um dos cavalheiros, — pode ficar tranqüilo, pois<br />

sempre tive horror às moças misteriosas.<br />

— E eu, que não sou mais do que um simples mortal, tenho muito medo de<br />

fadas, — acrescentou o outro.<br />

— E como é, perguntou o Dr. Geraldo, — que vivendo ela assim arredada<br />

da sociedade, pôde resolver-se a deixar a sua misteriosa solidão, para vir a este<br />

baile tão público e concorrido?...<br />

— E quanto não me custou isso, meu amigo! — respondeu Álvaro. — Veio<br />

quase violentada. Há muito tempo que procuro convencê-la por todos os modos, que<br />

uma senhora jovem e formosa, como é ela, escondendo seus encantos na solidão,<br />

comete um crime, contrário às vistas do Criador, que formou a beleza para ser vista,<br />

admirada e adorada; pois sou o contrário desses amantes ciumentos e atrabiliários,<br />

que desejariam ter suas amadas escondidas no âmago da terra. Argumentos,<br />

instâncias, súplicas, tudo foi perdido; pai e filha recusavam-se constantemente a<br />

aparecerem em público, alegando mil diversos pretextos. Vali-me por fim de um<br />

ardil; fiz-lhes acreditar que aquele modo de viver retraído e sem contato com a<br />

sociedade em um país, onde eram desconhecidos, já começava a dar que falar ao<br />

público e a atrair suspeitas sobre eles, e que até a polícia começava a olhá-los com<br />

desconfiança: mentiras, que não deixavam de ter sua plausibilidade...<br />

— E tanta, — interrompeu o doutor. — que talvez não andem muito longe<br />

da verdade.<br />

— Fiz-lhes ver, — continuou Álvaro, — que por infundadas e fúteis que<br />

fossem tais suspeitas, era necessário arredá-las de si, e para isso cumpria-lhes<br />

absolutamente freqüentar a sociedade. Este embuste produziu o desejado efeito.<br />

— Tanto pior para eles, — retorquiu o doutor; — eis aí um indício bem mau,<br />

e que mais me confirma em minhas desconfianças. Fossem eles inocentes, e bem<br />

pouco se importariam com as suspeitas do público ou da policia, e continuariam a<br />

viver como dantes.<br />

— Tuas suspeitas não têm o menor fundamento, meu doutor. Eles têm<br />

poucos meios, e por isso evitam a sociedade, que realmente, impõe duros sacrifícios<br />

às pessoas desfavorecidas da fortuna, e eles... mas ei-los, que chegam... Vejam e<br />

convençam-se com seus próprios olhos.<br />

Entrava nesse momento na ante-sala uma jovem e formosa dama pelo<br />

braço de um homem de idade madura e de respeitável presença.<br />

— Boa noite, senhor Anselmo!... boa noite, D. Elvira!... felizmente ei-los<br />

aqui! — isto dizia Álvaro aos recém-chegados, separando-se de seus amigos, e<br />

apressurando-se para cumprimentar a aqueles com toda a amabilidade e cortesia.<br />

Depois oferecendo um braço a Elvira e outro ao senhor Anselmo, os vai conduzindo<br />

para as salas interiores, por onde já turbilhona a mais numerosa e brilhante<br />

sociedade. Os três interlocutores de Álvaro, bem como muitas outras pessoas, que<br />

por ali se achavam, puseram-se em ala para verem passar Elvira, cuja presença<br />

causava sensação e murmurinho, mesmo entre os que não estavam prevenidos.<br />

— Com efeito!... é de uma beleza deslumbrante! Que porte de rainha!...<br />

— Que olhos de andaluza!...<br />

— Que magníficos cabelos!<br />

— E o colo!... que colo!... não reparaste?...<br />

— E como se traja com tão elegante simplicidade! — assim murmuravam<br />

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