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A ESCRAVA ISAURA - BERNARDO GUIMARAES

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— Alto lá, senhor Martinho! penso que não é pessoa competente para dar<br />

ou tirar direito a quem lhe parecer. O senhor bem sabe que eu sou depositário dessa<br />

escrava, e que com todo o direito e consentimento da autoridade a tenho debaixo de<br />

minha proteção.<br />

— Esse direito, se é que se pode chamar direito a uma arbitrariedade,<br />

cessou, desde que V. Sa. nada tem alegado em favor da mesma escrava. E demais,<br />

— continuou apresentando um papel, — aqui está ordem expressa e terminante do<br />

chefe de polícia, mandando que me seja entregue a dita escrava. A isto nada se<br />

pode opor legalmente.<br />

— Pelo que vejo, senhor Martinho, — disse Álvaro depois de examinar<br />

rapidamente o papel que Martinho lhe entregara, — ainda não desistiu de seu<br />

indigno procedimento, tornando-se por um pouco de dinheiro o vil instrumento do<br />

algoz de uma infeliz mulher? Reflita, e verá que essa infame ação só pode inspirar<br />

asco e horror a todo o mundo.<br />

Martinho achando-se acostado pela policia, julgou-se com direito de<br />

mostrar-se áspero e arrogante, e, portanto, com imperturbável sangue-frio:<br />

— Senhor Álvaro, — respondeu, — eu vim a esta casa somente com o fim<br />

de exigir em nome da autoridade a entrega de uma escrava fugida, que aqui se acha<br />

acoutada, e não para ouvir repreensões, que o senhor não tem direito de dar-me.<br />

Trate de fazer o que a lei ordena e a prudência aconselha, se não quer que use de<br />

meu direito...<br />

— Qual direito?!...<br />

— De varejar esta casa e levar à força a escrava.<br />

— Retira-te, miserável esbirro! — bradou Álvaro com força, não podendo<br />

mais sopear a cólera. — Desaparece de minha presença, se não queres pagar caro<br />

o teu atrevimento!...<br />

— Senhor Álvaro!... veja o que faz!<br />

O Dr. Geraldo, não achando muita razão em seu amigo, por prudência até<br />

ali se tinha conservado silencioso, mas vendo que a cólera e imprudência de Álvaro<br />

ia excedendo os limites, julgou de seu dever intervir na questão, e aproximando-se<br />

de Álvaro, e puxando-lhe o braço:<br />

— Que fazes, Álvaro? — disse-lhe em voz baixa. — Não vês que com esses<br />

arrebatamentos não consegues senão comprometer-te, e agravar a sorte de Isaura?<br />

mais prudência, meu amigo.<br />

— Mas... que devo eu fazer?... não me dirás?<br />

— Entregá-la.<br />

— Isso nunca!... — replicou Álvaro terminantemente.<br />

refletir.<br />

Conservaram-se todos silenciosos por alguns momentos. Álvaro parecia<br />

— Ocorre-me um expediente, — disse ele ao ouvido de Geraldo, — vou<br />

tentá-lo.<br />

E sem esperar resposta aproximou-se de Martinho.<br />

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