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— Alto lá, senhor Martinho! penso que não é pessoa competente para dar<br />
ou tirar direito a quem lhe parecer. O senhor bem sabe que eu sou depositário dessa<br />
escrava, e que com todo o direito e consentimento da autoridade a tenho debaixo de<br />
minha proteção.<br />
— Esse direito, se é que se pode chamar direito a uma arbitrariedade,<br />
cessou, desde que V. Sa. nada tem alegado em favor da mesma escrava. E demais,<br />
— continuou apresentando um papel, — aqui está ordem expressa e terminante do<br />
chefe de polícia, mandando que me seja entregue a dita escrava. A isto nada se<br />
pode opor legalmente.<br />
— Pelo que vejo, senhor Martinho, — disse Álvaro depois de examinar<br />
rapidamente o papel que Martinho lhe entregara, — ainda não desistiu de seu<br />
indigno procedimento, tornando-se por um pouco de dinheiro o vil instrumento do<br />
algoz de uma infeliz mulher? Reflita, e verá que essa infame ação só pode inspirar<br />
asco e horror a todo o mundo.<br />
Martinho achando-se acostado pela policia, julgou-se com direito de<br />
mostrar-se áspero e arrogante, e, portanto, com imperturbável sangue-frio:<br />
— Senhor Álvaro, — respondeu, — eu vim a esta casa somente com o fim<br />
de exigir em nome da autoridade a entrega de uma escrava fugida, que aqui se acha<br />
acoutada, e não para ouvir repreensões, que o senhor não tem direito de dar-me.<br />
Trate de fazer o que a lei ordena e a prudência aconselha, se não quer que use de<br />
meu direito...<br />
— Qual direito?!...<br />
— De varejar esta casa e levar à força a escrava.<br />
— Retira-te, miserável esbirro! — bradou Álvaro com força, não podendo<br />
mais sopear a cólera. — Desaparece de minha presença, se não queres pagar caro<br />
o teu atrevimento!...<br />
— Senhor Álvaro!... veja o que faz!<br />
O Dr. Geraldo, não achando muita razão em seu amigo, por prudência até<br />
ali se tinha conservado silencioso, mas vendo que a cólera e imprudência de Álvaro<br />
ia excedendo os limites, julgou de seu dever intervir na questão, e aproximando-se<br />
de Álvaro, e puxando-lhe o braço:<br />
— Que fazes, Álvaro? — disse-lhe em voz baixa. — Não vês que com esses<br />
arrebatamentos não consegues senão comprometer-te, e agravar a sorte de Isaura?<br />
mais prudência, meu amigo.<br />
— Mas... que devo eu fazer?... não me dirás?<br />
— Entregá-la.<br />
— Isso nunca!... — replicou Álvaro terminantemente.<br />
refletir.<br />
Conservaram-se todos silenciosos por alguns momentos. Álvaro parecia<br />
— Ocorre-me um expediente, — disse ele ao ouvido de Geraldo, — vou<br />
tentá-lo.<br />
E sem esperar resposta aproximou-se de Martinho.<br />
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