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www.nead.unama.br<br />
Pernambuco? Que destino deu Leôncio ou pretende dar àquela?... por que maneira<br />
se reconciliou com sua mulher?<br />
Eis o que passamos a explicar ao leitor, antes de prosseguirmos nesta<br />
narrativa.<br />
Leôncio, tendo trazido Isaura para sua fazenda, a conservara na mais<br />
completa e rigorosa reclusão. Não era isto só com o fim de castigá-la ou de cevar<br />
sua feroz vingança sobre a infeliz cativa. Sabia quanto era ardente e capaz de<br />
extremos o amor que o jovem pernambucano concebera por Isaura; tinha ouvido as<br />
últimas palavras que Álvaro lhe dirigia — confia em Deus, e em meu amor; eu não te<br />
abandonarei.<br />
— Era uma ameaça, e Álvaro, rico e audacioso como era, dispunha de<br />
grandes meios para pô-la em execução, quer por alguma violência, quer por meio de<br />
astúcias e insídias. Leôncio, portanto, não só encarcerava com todo o rigor a sua<br />
escrava, como também armou todos os seus escravos, que daí em diante distraídos<br />
quase completamente dos trabalhos da lavoura, viviam em alerta dia e noite como<br />
soldados de guarnição a uma fortaleza.<br />
Mas a alma ardente e feroz do jovem fazendeiro não desistia nunca de seu<br />
louco amor, e nem perdia a esperança de vencer a isenção de Isaura.<br />
E já não era só o amor ou a sensualidade que o arrastava; era um capricho<br />
tirânico, um desejo feroz e satânico de vingar-se dela e do rival preferido. Queria<br />
gozá-la, fosse embora por um só dia, e depois de profanada e poluída, entregá-la<br />
desdenhosamente ao seu antagonista, dizendo-lhe: — Venha comprar a sua<br />
amante; agora estou disposto a vendê-la, e barato.<br />
Encetou pois contra ela nova campanha de promessas, seduções e<br />
protestos, seguidos de ameaças, rigores e tiranias. Leôncio só recuou diante da<br />
tortura e da violência brutal, não porque lhe faltasse ferocidade para tanto, mas<br />
porque conhecendo a têmpera heróica da virtude de Isaura, compreendeu que com<br />
tais meios só conseguiria matá-la, e a morte de Isaura não satisfazia o seu<br />
sensualismo, e nem tampouco a sua vingança. Portanto tratou de meditar novos<br />
planos, não só para recalcar debaixo dos pés o que ele chamava o orgulho da<br />
escrava, como de frustrar e escarnecer completamente as vistas generosas de<br />
Álvaro, tomando assim de ambos a mais cabal vingança.<br />
Além de tudo, Leôncio via-se na absoluta necessidade de reconciliar-se com<br />
Malvina, não que o pundonor, a moral, e muito menos a afeição conjugal a isso o<br />
induzissem, mas por motivos de interesse, que em breve o leitor ficará sabendo.<br />
Com esse fim pois, Leôncio foi à corte e procurou Malvina.<br />
Além de todas as más qualidades que possuía, a mentira, a calúnia, o<br />
embuste eram armas que manejava com a habilidade do mais refinado hipócrita.<br />
Mostrou-se envergonhado e arrependido do modo por que a havia tratado, e jurou<br />
apagar com o seu futuro comportamento até a lembrança de seus passados<br />
desvarios. Confessou, com uma sinceridade e candura de anjo, que por algum<br />
tempo se deixara enlevar pelos atrativos de Isaura, mas que isso não passara de<br />
passageiro desvario, que nenhuma impressão lhe deixara na alma.<br />
Além disso assacou mil aleives e calúnias por conta da pobre Isaura. Alegou<br />
que ela, como refinada loureira que era, empregara os mais sutis e ardilosos<br />
artifícios para seduzi-lo e provocá-lo, no intuito de obter a liberdade em troco de seus<br />
favores. Inventou mil outras coisas, e por fim fez Malvina acreditar que Isaura fugira<br />
de casa seduzida por um galã, que há muito tempo a requestava, sem que eles o<br />
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