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A ESCRAVA ISAURA - BERNARDO GUIMARAES

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meu rival, esse tal senhor Álvaro, que tanto cobiçou a minha Isaura para sua<br />

amizade, que não teve pejo de seduzi-la, acoutá-la e protegê-la pública e<br />

escandalosamente no Recife, esse grotesco campeão da liberdade das escravas<br />

alheias, que protestou me disputar Isaura a todo o risco, ficará de uma vez para<br />

sempre desenganado de sua estulta pretensão. Vê pois, Jorge, quantos interesses e<br />

vantagens se conciliam no simples fato desse casamento.<br />

— Plano admirável na verdade, Leôncio! - exclamou Jorge enfaticamente.<br />

— Tens um tino superior, e uma inteligência sutil e fértil em recursos!... se te<br />

desses á política, asseguro-te que farias um papel eminente; serias um estadista<br />

consumado. Esse Dom Quixote de nova espécie, amparo da liberdade das escravas<br />

alheias, quando são bonitas, não achará senão moinhos de vento a combater. Muito<br />

havemos de nos rir de seu desapontamento, se lhe der na cabeça continuar sua<br />

burlesca aventura.<br />

— Creio que nessa não cairá ele; mas se por cá aparecesse, muito<br />

tínhamos que debicá-lo.<br />

— Meu senhor, — disse André entrando na sala, — aí estão na porta uns<br />

cavalheiros, que pedem licença para apear e entrar.<br />

— Ah! Já sei, — disse Leôncio, — são eles, são as pessoas que mandei<br />

chamar; o vigário, o tabelião e mais outros... bom! Já não nos falta tudo. Vieram<br />

mais depressa do que eu esperava. Manda-os apear e entrar, André.<br />

André sai, Leôncio toca uma campainha, e aparece Rosa.<br />

— Rosa, diz-lhe ele, — vai já chamar sinhá Malvina e Isaura, e o senhor<br />

Miguel e Belchior. Já devem estar prontos; precisa-se aqui já da presença de todos<br />

eles.<br />

— Estou aflito por ver o fim a esta farsa, — disse Leôncio a seu amigo, —<br />

mas quero que ela se represente com certo aparato e solenidade, para inculcar que<br />

tenho grande prazer em satisfazer o capricho de Malvina e melhor iludir a sua<br />

credulidade; mas — fique isto aqui entre nós, — este casamento não passa de uma<br />

burla. Tenho toda a certeza de que Isaura despreza do fundo d'alma esse miserável<br />

idiota, que só em nome será seu marido. Entretanto ficarei me aguardando para<br />

melhores tempos, e espero que o meu plano surtirá o desejado efeito.<br />

— Cá por mim não tenho a menor dúvida a respeito do resultado de um<br />

plano tão maravilhosamente combinado.<br />

Mal Jorge acabava de pronunciar estas palavras, apareceu à porta do salão<br />

um belo e jovem cavalheiro, em elegantes trajos de viagem, acompanhado de mais<br />

três ou quatro pessoas. Leôncio, que já ia pressuroso recebê-los e cumprimentá-los,<br />

estacou de repente.<br />

— Oh!... não são quem eu esperava!... murmurou consigo. – Se me não<br />

engano... é Álvaro!...<br />

— Senhor Leôncio! — disse o cavalheiro cumprimentando-o.<br />

— Senhor Álvaro, — respondeu Leôncio, — pois creio que é a esse senhor,<br />

que tenho a honra de receber em minha casa.<br />

— É ele mesmo, senhor; um seu criado.<br />

— Ah! Muito estimo... não o esperava... queira sentar-se... quis então vir dar<br />

um passeio cá pelas nossas províncias do Sul?...<br />

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