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— Mas há de acostumar-se em pouco tempo — replicou-lhe Álvaro,<br />
segurando-lhe uma das mãos e sustendo-a com um braço pela cintura. — A senhora<br />
nasceu para brilhar nos salões... mas, se quer retirar-se...<br />
— Não, senhor; continuemos; já agora estamos na final...<br />
Com estas respostas evasivas Álvaro tranqüilizou-se, e em razão dos<br />
movimentos rápidos da quadrilha na marca final, que imediatamente seguiu-se, não<br />
pôde notar a extrema palidez e profundo transtorno das feições de Elvira. A infeliz já<br />
não dançava, arrastava-se automaticamente pela sala; seu espírito não estava ali,<br />
não ouvia nem via outra coisa senão a figura repugnante do Martinho, postada como<br />
esfinge ameaçadora junto à porta da saleta, para a qual ela volvia de quando em<br />
quando olhos cheios de ansiedade e pavor.<br />
E o sangue todo lhe refluía ao coração, que lhe tremia como o da pomba<br />
que sente estendida sobre o colo a garra desapiedada do gavião.<br />
Em tal estado de susto e perturbação, Isaura não atinava com o que devia<br />
responder àquela tão sincera e apaixonada declaração do mancebo. Guardou<br />
silêncio por alguns instantes, o que Álvaro interpretou por timidez ou emoção.<br />
— Não me quer responder? — continuou com voz meiga, — uma só palavra<br />
é bastante...<br />
— Ah! Senhor, — murmurou ela suspirando, o que posso eu responder às<br />
doces palavras que acabo de ouvir de sua boca? Elas me encantam, mas...<br />
Elvira interrompeu-se bruscamente; um súbito estremecimento agitando o<br />
braço de Álvaro o fez olhar para ela com sobressalto e inquietação.<br />
— É ele!... — este som sussurrou-lhe pelos lábios como um gemido rouco e<br />
convulsivo; acabava de avistar Martinho, entrando na sala em que se achavam, e<br />
sentiu mortal calafrio percorrer-lhe todo o como.<br />
— Desculpe-me, senhor — continuou ela — não é possível por hoje ouvir<br />
suas doces palavras; sinto-me mal; preciso retirar-me. Se o senhor tivesse a<br />
bondade de levar-me onde está meu pai...<br />
— Por que não, D. Elvira?... mas oh!... como está pálida!... está sofrendo<br />
muito, não é assim?... quer que eu a acompanhe?... que lhe chame um médico?...<br />
aqui mesmo os há...<br />
— Obrigada, senhor Álvaro; não se inquiete; isto é um mal passageiro,<br />
cansaço talvez; em chegando a casa ficarei boa.<br />
— E quer então retirar-se sem me deixar uma só palavra de consolação e<br />
de esperança?...<br />
— De consolação talvez, mas de esperança...<br />
— Por que não?<br />
— Se nem eu mesma posso tê-la...<br />
— Então não me ama...<br />
— Amo-o muito.<br />
— Então será minha...<br />
— Isso é impossível...<br />
— Impossível!... que obstáculo pode haver?...<br />
— Não sei dizer-lhe, senhor; minha desgraça.<br />
Esta amorosa confidência no momento em que se achava no ponto mais<br />
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