revista_aba_nov_2016_v2
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Filósofo pré-socrático, Heráclito de Éfeso (535<br />
a. C. - 475 a.C.) é autor de uma frase que se propaga<br />
ao longo dos séculos: “nada é permanente,<br />
exceto a mudança”. Profundo observador da natureza<br />
e chamado de “pai da dialética”, o pensador é<br />
mencionado frequentemente quando se trata de<br />
inspirar a transformação, sobretudo pessoal. Mas<br />
a frase também poderia ser aplicada ao mundo<br />
dos negócios.<br />
Se promover uma mudança pontual pode<br />
gerar insegurança, o que se dirá da reinvenção,<br />
processo que exige alta dose de coragem? Reinventar-se<br />
é uma decisão complexa. Especialmente<br />
porque não está claro para a maioria das empresas<br />
quando é preciso repensar o portfólio de produtos<br />
e serviços, a gestão, o posicionamento da<br />
marca. Além do “quando”, é comum o questionamento<br />
a respeito do “se”. Ou seja, se a reinvenção<br />
é necessária.<br />
Reinvenção não é panaceia. Ela nasce frequentemente<br />
pela necessidade, quando os fatores estão<br />
jogando contra o negócio. Ou pode acontecer<br />
porque a empresa olhou o mundo, percebeu que<br />
algo estava sendo dito e que era preciso ouvir<br />
esse algo.<br />
O fato é que o mundo se transforma e o público<br />
muda, tal qual as forças da natureza, como<br />
dizia Heráclito. E o ponto importante é que as<br />
mudanças vêm ocorrendo de maneira cada vez<br />
mais rápida, salienta Anders Sjöstedt, fundador da<br />
Hyper Island, escola de origem sueca que promove<br />
programas para que empresas compreendam o<br />
impacto da tecnologia sobre os negócios.<br />
Para Sjöstedt, que participou do ENA <strong>2016</strong>,<br />
em junho (leia mais sobre o evento na pág. 37),<br />
esse caráter mais acelerado das transformações<br />
pode ser divertido, mas também é estressante.<br />
“Nenhuma regra de ontem vale para hoje e você<br />
nunca sabe ao certo se o seu investimento vai funcionar<br />
ou não”. Essa ideia pode soar paralisante<br />
para alguns, mas há momentos em que qualquer<br />
movimento é melhor do que nada. Com a Lego,<br />
esse momento se apresentou de forma drástica<br />
em 2003. O contexto compelia a empresa a dois<br />
caminhos: recuperação ou falência. Sjöstedt cita<br />
o case para mostrar como a reinvenção pode ser<br />
bem-sucedida, mesmo diante de um cenário extremamente<br />
adverso.<br />
Desde o final dos anos 1990, a Lego (fundada<br />
em 1932, na Dinamarca), vinha experimentando<br />
uma sucessão de maus resultados. Com a diversidade<br />
de negócios e uma sequência de más decisões<br />
estratégicas – como expandir a produção<br />
a tal ponto que o Natal de 2002 se tornou um<br />
desastre de vendas, com 40% do estoque parado<br />
nas prateleiras –, a empresa viu seu império ruir<br />
tijolo a tijolo.<br />
A margem de lucro saiu de 15% em 1993 para<br />
28% negativos em 2004. Em 2003, o pior ano da<br />
crise, as vendas caíram 26% e o déficit chegou a<br />
US$ 250 milhões. A companhia estava à beira da<br />
falência e especialistas vaticinavam sua morte,<br />
porque o mundo já não era o mesmo. As crianças<br />
do início do século estavam mais entretidas pelo<br />
universo digital.<br />
Volta às raízes<br />
Foi então que veio a grande mudança. A Lego<br />
resolveu voltar às raízes, à brincadeira – mas de<br />
outro jeito. O <strong>nov</strong>o CEO, Jorgen Vig Knudstorp (o<br />
primeiro a comandar a empresa sem ser membro<br />
da família do fundador, Ole Kirk Christiansen),<br />
analisou os erros da companhia e detectou<br />
que havia a necessidade de fazer ajustes fortes.<br />
“Quando ele assumiu, em 2004, foram cortados<br />
1,9 mil postos de tr<strong>aba</strong>lho, o equivalente a 30% da<br />
mão de obra na época. O total de tipos de peças<br />
produzidas caiu de 13 mil para sete mil. A empresa<br />
também se desfez de unidades de negócios não<br />
lucrativas, como a divisão de games”, conta Vivian<br />
Marques, head de marketing da Lego do Brasil.<br />
Para ajudar no caixa, a família Christiansen injetou<br />
o equivalente a US$ 100 milhões na companhia.<br />
Promovidos os ajustes e com o fluxo reestabelecido,<br />
Knudstorp encampou a fase seguinte:<br />
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