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Revista Apólice #208

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comunicação e expressão<br />

por J. B. Oliveira*<br />

Expressões: idiomáticas e dilmáticas...<br />

Expressão idiomática é um modo peculiar de fala<br />

de um determinado idioma, às vezes sem a menor condição<br />

de tradução ou de compreensão em outra língua.<br />

Isso porque, no caso, o sentido – quando existe – não<br />

corresponde à forma, às palavras.<br />

Já tecemos considerações sobre estas duas<br />

formas de linguagem: ad litterame ad sensum. Na<br />

primeira, há plena correspondência entre a forma<br />

e o sentido. É a chamada linguagem literal ou – de<br />

modo mais popular – “ao pé da letra”: a palavra e<br />

o sentido se correspondem harmonicamente e não<br />

há necessidade de interpretação. Já na segunda, a<br />

situação é outra. Trata-se da linguagem figurada e<br />

quem levá-la ao pé da letra “vai dar com os burros<br />

n’água”, isto é, “vai entrar em canoa furada” ou, no<br />

popular, “vai se ferrar”!<br />

Conta-se do cidadão português que estava a<br />

passear no bondinho de San Francisco e ouviu o motorneiro<br />

dizer, claramente, “look out!”. Traduzindo<br />

mentalmente a expressão, olhou para fora...e deu com<br />

a cabeça em um poste! Ora pois, embora “look out”<br />

signifique literalmente “olhar para fora”, trata-se de<br />

uma expressão idiomática de advertência, que se traduz<br />

por “cuidado”!<br />

“To put cat out of the bag”, se traduzido pelas<br />

letras, significa “pôr o gato fora da bolsa”. Seu sentido,<br />

porém, é “contar um segredo”!<br />

A expressão francesa “poser um lapin” que, ao pé<br />

da letra, seria “colocar um coelho”, figurativamente<br />

significa “dar o bolo”, “faltar a um compromisso” ou,<br />

como dizemos nós, “furar”!<br />

E por falar em nós, também devemos dar muito<br />

trabalho a quem queira traduzir nossas expressões<br />

populares, sempre figuradas, ao estilo de “vá plantar<br />

batata”; “vá ver se estou na esquina”; “é nóis na fita”;<br />

“pôr as barbas de molho”; “molhar o biscoito”; “afogar<br />

o ganso” e por aí afora.<br />

Aí acima estão alguns exemplos de expressão<br />

idiomática – também chamada de idiotismo – de difícil<br />

compreensão por causa da incoerência, ou incongruência<br />

entre a forma e o sentido. Mas há também as expressões<br />

dilmáticas. Algumas classificadas de idiotice.<br />

O que dizer, por exemplo, da fala proferida por<br />

ocasião da Reunião do G20, em São Petersburgo: “Ontem<br />

eu disse pro presidente Obama que era claro que ele<br />

sabia que depois que a pasta de dente sai do dentifrício<br />

dificilmente ela volta para dentro do dentifrício”! Em<br />

outro momento, retornando de viagem à Europa, proclamou:<br />

“Em Portugal, da onde... aonde... de onde eu acabei<br />

de vir, o desemprego “bera” 20%, ou seja: um em cada<br />

quatro portugueses estão (sic) desempregados”. Noutro<br />

pronunciamento, também envolvendo a matemática,<br />

declarou: “Na Ucrânia, pagam 13 dólares o milhão de<br />

BTU. Quatro para treze dá sete!...<br />

Sobre o empolgante tema da ecologia, foi taxativa:<br />

“O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça<br />

ao desenvolvimento sustentável, e isso significa que é<br />

uma ameaça pro futuro do nosso planeta e dos nossos<br />

países”. Nessa mesma linha de despautério, pronunciou-<br />

-se sobre outro sério problema: “Eu quero dizer a vocês<br />

que a inflação foi uma conquista destes 10 últimos anos<br />

do governo do presidente Lula e do meu governo.”<br />

Memorável, também, esse primor, proferido em<br />

2015: “Uma vez uma companheira me disse que essa<br />

questão de homem e mulher não tinha problema algum,<br />

porque as mulheres eram a maioria, mas a outra parte, a<br />

outra parte da maioria era integrada por homens, todos<br />

provenientes de uma mulher e, por isso, ficava tudo em<br />

casa: mulher com mulher. Porque os homens podem ter<br />

filhas e mulheres, esposas, mas têm necessariamente – aí<br />

não é pode, têm, necessariamente – uma mãe”!<br />

Na sensível área da saúde, não poupou emoção:<br />

“Nós temos 1,8 médico por mil habitantes, na média<br />

geral. Você sabe que, na média, o cara pode estar com a<br />

cabeça na geladeira e o pé no fogareiro e no meio, aqui,<br />

no umbigo, ele estar com a temperatura normal. Na<br />

distribuição é a mesma coisa, tem gente que tem muito<br />

médico, no Brasil, e tem gente que não tem nenhum,<br />

mas é 1,8.”<br />

Para fechar, voltemos à matemática: “Porque a<br />

matemática, ela tem um poder muito interessante. Ela é<br />

a base de todas as ciências, ou seja, a matemática pode<br />

ser usada em todas as áreas da ciência. Pode também...<br />

é um elemento fundamental para que nós tenhamos<br />

capacidade e melhor condição de usar isso que nos<br />

distingue, que é o conhecimento e que é a aplicação da<br />

lógica e de todos os recursos que a matemática pode<br />

trazer para o país”!<br />

* J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.<br />

É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras<br />

www.jboliveira.com.br – jboliveira@jbo.com.br<br />

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