Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
última página<br />
ücahiddin Şentürk/iStock<br />
marcas, veículos<br />
e audiência<br />
stalimir vieira<br />
coisa mais importante que um veículo<br />
<strong>de</strong> comunicação tem para ven<strong>de</strong>r<br />
A<br />
é a audiência. Por isso, as marcas que po<strong>de</strong>m<br />
pagar, ocupam espaços generosos em<br />
eventos <strong>de</strong> audiências espetaculares, como<br />
a Copa do Mundo, por exemplo. Em segundo<br />
lugar, vem o padrão <strong>de</strong> vínculo que<br />
a marca quer estabelecer com o evento. O<br />
objetivo: potencializar essa presença, através<br />
da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afinar a mensagem<br />
com emoção da audiência. No processo<br />
criativo das campanhas torna-se natural a<br />
exigência <strong>de</strong> que as peças “faturem”<br />
o momento <strong>de</strong> emoção<br />
coletiva. Todos os raciocínios<br />
têm <strong>de</strong> estar, necessariamente,<br />
comprometidos com referências<br />
próprias do espetáculo.<br />
O curioso é que nunca se saberá<br />
o quanto o sucesso ou o<br />
insucesso do evento no atendimento<br />
à expectativa da audiência<br />
afetou ou não a imagem das<br />
marcas. Aparentemente não se<br />
cria uma inter-relação claramente<br />
perceptível. A audiência parece não ver<br />
na propaganda e em sua caprichosa produção<br />
uma expressão crível <strong>de</strong> que a marca<br />
esteja alinhada com um sentimento.<br />
A Copa do Mundo é um exemplo clássico.<br />
As marcas X, Y e Z patrocinam o evento<br />
numa condição “imaginada” <strong>de</strong> torcedoras<br />
da seleção brasileira. Supõem seus<br />
gestores que o sucesso do Brasil, além <strong>de</strong><br />
sustentar a audiência por mais tempo,<br />
criará para a marca uma relação natural<br />
com os “bons sentimentos” <strong>de</strong>spertados.<br />
E nisso investem, aprovando narrativas<br />
repletas <strong>de</strong> patriotismo e fé, contando<br />
histórias exemplares e construindo personagens<br />
icônicos. Trata-se <strong>de</strong> um envolvimento<br />
visceral com o objetivo <strong>de</strong> pegar a<br />
“As mArcAs<br />
X, Y e Z<br />
pAtrocinAm o<br />
evento numA<br />
condição<br />
imAginAdA <strong>de</strong><br />
torcedorAs<br />
dA seleção<br />
brAsileirA”<br />
carona mais eficaz possível na euforia <strong>de</strong>sejada.<br />
Mas se isso fosse verda<strong>de</strong>, o contrário<br />
também seria.<br />
Eliminada a seleção, os sentimentos <strong>de</strong><br />
frustração e <strong>de</strong>rrota da audiência po<strong>de</strong>riam,<br />
igualmente, alcançar a imagem das<br />
marcas. Não é o que ocorre, no entanto.<br />
Elas continuam intactas em seu prestígio<br />
e valor. Mesmo que tenham contratado<br />
figuras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> representativida<strong>de</strong>, ligadas<br />
à disputa e que saiam <strong>de</strong>la <strong>de</strong>rrotadas.<br />
As críticas dos torcedores, dirigidas a<br />
dirigentes, treinadores e jogadores, costumam<br />
traduzir uma percepção<br />
<strong>de</strong> que não correspon<strong>de</strong>ram<br />
aos investimentos feitos no objetivo<br />
<strong>de</strong> ganhar o campeonato.<br />
As marcas mais evi<strong>de</strong>ntes no<br />
evento seriam percebidas como<br />
apostadores que confiaram seu<br />
dinheiro e seu prestígio na seleção<br />
tanto quanto os torcedores<br />
disponibilizaram seu tempo e<br />
sua emoção. Talvez isso seja<br />
<strong>de</strong>terminante para que passem<br />
ao largo <strong>de</strong> associação negativa<br />
à <strong>de</strong>rrota. Serão tão “vítimas”<br />
quanto os comuns dos mortais que<br />
se iludiram com uma possível conquista.<br />
Aparentemente, há uma espécie <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong><br />
não combinada entre audiência,<br />
veículo e patrocinadores, no sentido <strong>de</strong><br />
que cada um fez a sua parte. A tradição e<br />
o prestígio do meio blindam os <strong>de</strong>mais envolvidos<br />
contra a sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota. Já<br />
não é o que ocorre quando os “problemas”<br />
envolvem a mídia digital, mesmo quando<br />
o canal dispõe <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> audiência. Um<br />
fato isolado, “<strong>de</strong>nunciado” e multiplicado<br />
pela mesma mídia digital, é suficiente para<br />
<strong>de</strong>sestabilizar as relações comerciais do<br />
canal com seus anunciantes. Ou seja, audiência<br />
é o mais importante. Mas quem dá<br />
segurança às marcas é a força da marca do<br />
veículo <strong>de</strong> comunicação.<br />
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
62 <strong>30</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark