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edição de 30 de julho de 2018

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E como você vê o fato <strong>de</strong> que muitos<br />

homens hoje se sentem confusos, não<br />

sabem exatamente como agir e o que<br />

se espera <strong>de</strong>les na socieda<strong>de</strong>?<br />

Quando dizem que estão confusos,<br />

tensos, me parece apenas<br />

que precisam ir a um nível mais<br />

profundo <strong>de</strong> consciência a respeito<br />

do tema. De pensar em por que,<br />

afinal <strong>de</strong> contas, nascer homem ou<br />

mulher dá mais ou menos direitos<br />

e oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer coisas<br />

na vida. Acredito que os homens<br />

precisam enten<strong>de</strong>r que, quando se<br />

fala <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, isso<br />

também representa coisas positivas<br />

para eles. Garanto que muitos<br />

homens gostariam <strong>de</strong> viver uma<br />

paternida<strong>de</strong> mais presente e responsável.<br />

Em muitos países eles<br />

têm, por exemplo, direito a licenentreVista<br />

Maribel Vidal<br />

VP <strong>de</strong> planejamento da McCann Santiago<br />

Os Olhares dO<br />

MasculinO e dO<br />

feMininO sãO<br />

cOMpleMentares<br />

Maribel Vidal é vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

planejamento da McCann Santiago e hoje<br />

presi<strong>de</strong> também o Women Lea<strong>de</strong>rship<br />

Council (WLC) do McCann Worldgroup<br />

na América Latina, uma plataforma criada para<br />

avançar na agenda <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e inclusão na<br />

região. Nesta entrevista, ela conta um pouco sobre<br />

a trajetória do conselho, que resultou em um plano<br />

estratégico regional, estruturado e sustentável. Entre<br />

as ações práticas está a meta <strong>de</strong> equiparação salarial<br />

entre homens e mulheres, além da criação <strong>de</strong> planos<br />

<strong>de</strong> mentoria para inspirar jovens profissionais.<br />

CLAUDIA PENTEADO<br />

Falamos tanto do papel das mulheres e<br />

<strong>de</strong> tudo o que lhes concerne, mas qual<br />

é o papel dos homens em toda essa discussão<br />

sobre gênero?<br />

Creio que a discussão ultrapassa<br />

a questão <strong>de</strong> gênero. Quando a<br />

ONU <strong>de</strong>finiu os 17 objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável (ODS),<br />

percebeu que o quinto, que aborda<br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros (“Alcançar a<br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e empo<strong>de</strong>rar<br />

todas as mulheres e meninas”),<br />

talvez seja o mais importante <strong>de</strong><br />

todos, aquele que é chave para<br />

todos os <strong>de</strong>mais. Porque se este<br />

objetivo for cumprido, imediatamente<br />

vários outros serão revertidos<br />

mais rapidamente. Isso prova<br />

que, quando falamos <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gênero, não se trata <strong>de</strong> uma<br />

questão feminina. É uma questão<br />

<strong>de</strong> homens e mulheres. Tem a ver<br />

com equilíbrio. Homens e mulheres<br />

são importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>. Há<br />

complementarida<strong>de</strong>. O problema<br />

é que, historicamente, as coisas se<br />

<strong>de</strong>senvolveram <strong>de</strong> uma forma que<br />

associou certos atributos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

a homens e não a mulheres, e vice-<br />

-versa. A discussão passa por assegurarmos,<br />

como socieda<strong>de</strong>, que os<br />

direitos e oportunida<strong>de</strong>s para seres<br />

humanos não <strong>de</strong>pendam <strong>de</strong> se ter<br />

nascido homem ou mulher. Essa é<br />

a discussão.<br />

ça paternida<strong>de</strong> nas empresas, mas<br />

não <strong>de</strong>sfrutam porque têm medo<br />

do que dirão seus pares. Quando<br />

falamos <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero falamos<br />

<strong>de</strong> famílias, <strong>de</strong> homens mais<br />

participativos, que escolhem por<br />

exemplo trabalhar meio período.<br />

Há três afirmações que são limitadoras<br />

para os homens, que eles ouvem<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenos, que os acompanha.<br />

Uma é “eu posso”, outra<br />

é “eu sozinho” e a terceira é “sem<br />

chorar”. São afirmações que marcam<br />

o masculino. Assim como há<br />

outras coisas que marcam o feminino,<br />

como ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir entre ser<br />

mãe ou ter uma carreira profissional<br />

<strong>de</strong> sucesso. Todos per<strong>de</strong>mos,<br />

na verda<strong>de</strong>. E entram aí todas as<br />

questões <strong>de</strong> gênero - <strong>de</strong> homossexuais,<br />

<strong>de</strong> transgêneros e assim por<br />

diante. Os olhares do masculino e<br />

do feminino são complementares.<br />

Há diversos indicadores <strong>de</strong> que,<br />

em equipes formadas por homens<br />

e mulheres <strong>de</strong> maneira equilibrada,<br />

os resultados são melhores. Há<br />

menos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, se<br />

retêm mais talentos, o produto final<br />

é melhor, os colaboradores são<br />

mais felizes, há mais inovação. Por<br />

quaisquer perspectivas, a complementarida<strong>de</strong><br />

é boa.<br />

E sob a perspectiva do po<strong>de</strong>r, como<br />

você vê a discussão? Sobre homens<br />

estarem dispostos a abrir mão <strong>de</strong>le?<br />

Creio que é uma outra discussão.<br />

O que é o po<strong>de</strong>r? Porque o<br />

po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> ser o homem ter um<br />

trabalho mais flexível, que lhe dê a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passar mais tempo<br />

com os filhos, com a família. Este é<br />

outro po<strong>de</strong>r. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> escolher.<br />

São outros referenciais <strong>de</strong> sucesso<br />

e <strong>de</strong> realização.<br />

A nossa geração já não per<strong>de</strong>u essa<br />

corrida?<br />

Espero que não. Cada geração<br />

tem sua luta, seu <strong>de</strong>safio. Realizamos<br />

um estudo, chamado The truth<br />

about youth, que <strong>de</strong>monstra uma<br />

transformação planetária <strong>de</strong> consciência.<br />

Quando se compara pessoas<br />

acima <strong>de</strong> 35 anos e a geração<br />

entre 18 e 35 anos, percebemos nos<br />

millennials mais valores relacionados<br />

a direitos humanos, benefícios<br />

sociais, olhar para o coletivo,<br />

abertura para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos<br />

das minorias e erradicar problemas<br />

profundos da socieda<strong>de</strong> como a<br />

pobreza e a injustiça. Certamente<br />

é uma geração que terá pais mais<br />

comprometidos, por exemplo. Mas<br />

sinto que não precisaremos esperar<br />

tanto. As novas gerações, claro,<br />

fazem as mudanças avançarem,<br />

mas algumas <strong>de</strong>las precisam ocorrer<br />

agora, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das pessoas<br />

que estão em posições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

neste momento. Muitas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> políticas públicas.<br />

No Chile, por exemplo, o custo <strong>de</strong><br />

empregar mulheres é maior do que<br />

o <strong>de</strong> empregar homens, o saldo do<br />

pacote <strong>de</strong> encargos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que<br />

vem com filhos, etc, é das mulheres.<br />

Para uma empresa, contratar<br />

uma mulher, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

do salário - se é maior ou menor<br />

do que dos homens - sai mais caro<br />

do que contratar um homem. Este<br />

é um tema <strong>de</strong> política pública, que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> que se tome a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />

dividir a conta <strong>de</strong> filhos, igualmente<br />

entre homens e mulheres.<br />

O que levou você a se envolver em<br />

questões femininas?<br />

A motivação <strong>de</strong> buscar mais<br />

espaço para as mulheres vem há<br />

muito tempo. Mas creio que se acelerou<br />

há alguns anos, observando<br />

a pouca participação <strong>de</strong> mulheres<br />

em cargos <strong>de</strong> direção.<br />

Você teve entraves na sua carreira por<br />

ser mulher?<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista pessoal não, e<br />

nunca senti que por ser mulher tenha<br />

<strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ter oportunida<strong>de</strong>s.<br />

Principalmente nos primeiros anos<br />

da minha vida profissional, nunca<br />

senti que gênero era uma <strong>de</strong>svantagem<br />

para mim. Mas po<strong>de</strong> ser porque<br />

a publicida<strong>de</strong> é naturalmente<br />

mais aberta. Em outras indústrias,<br />

é algo extraordinário que mulheres<br />

cheguem a cargos executivos.<br />

Sendo que não há razões objetivas<br />

para isso ocorrer. No caso do Chile<br />

e da América Latina em geral, há<br />

mais mulheres nas universida<strong>de</strong>s,<br />

por exemplo. Mas na publicida<strong>de</strong> a<br />

questão se tornou emblemática, especialmente<br />

nos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />

criação. E isso é mundial. Dou aula<br />

em universida<strong>de</strong>s e sempre percebi<br />

que as mulheres viam a área<br />

<strong>de</strong> criação como um <strong>de</strong>stino mais<br />

natural para homens. E o curioso<br />

é que 80% dos produtos e campanhas<br />

que esses homens criam são<br />

<strong>de</strong>stinados a mulheres. Há alguns<br />

22 <strong>30</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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