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E como você vê o fato <strong>de</strong> que muitos<br />
homens hoje se sentem confusos, não<br />
sabem exatamente como agir e o que<br />
se espera <strong>de</strong>les na socieda<strong>de</strong>?<br />
Quando dizem que estão confusos,<br />
tensos, me parece apenas<br />
que precisam ir a um nível mais<br />
profundo <strong>de</strong> consciência a respeito<br />
do tema. De pensar em por que,<br />
afinal <strong>de</strong> contas, nascer homem ou<br />
mulher dá mais ou menos direitos<br />
e oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer coisas<br />
na vida. Acredito que os homens<br />
precisam enten<strong>de</strong>r que, quando se<br />
fala <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, isso<br />
também representa coisas positivas<br />
para eles. Garanto que muitos<br />
homens gostariam <strong>de</strong> viver uma<br />
paternida<strong>de</strong> mais presente e responsável.<br />
Em muitos países eles<br />
têm, por exemplo, direito a licenentreVista<br />
Maribel Vidal<br />
VP <strong>de</strong> planejamento da McCann Santiago<br />
Os Olhares dO<br />
MasculinO e dO<br />
feMininO sãO<br />
cOMpleMentares<br />
Maribel Vidal é vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
planejamento da McCann Santiago e hoje<br />
presi<strong>de</strong> também o Women Lea<strong>de</strong>rship<br />
Council (WLC) do McCann Worldgroup<br />
na América Latina, uma plataforma criada para<br />
avançar na agenda <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e inclusão na<br />
região. Nesta entrevista, ela conta um pouco sobre<br />
a trajetória do conselho, que resultou em um plano<br />
estratégico regional, estruturado e sustentável. Entre<br />
as ações práticas está a meta <strong>de</strong> equiparação salarial<br />
entre homens e mulheres, além da criação <strong>de</strong> planos<br />
<strong>de</strong> mentoria para inspirar jovens profissionais.<br />
CLAUDIA PENTEADO<br />
Falamos tanto do papel das mulheres e<br />
<strong>de</strong> tudo o que lhes concerne, mas qual<br />
é o papel dos homens em toda essa discussão<br />
sobre gênero?<br />
Creio que a discussão ultrapassa<br />
a questão <strong>de</strong> gênero. Quando a<br />
ONU <strong>de</strong>finiu os 17 objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável (ODS),<br />
percebeu que o quinto, que aborda<br />
igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros (“Alcançar a<br />
igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e empo<strong>de</strong>rar<br />
todas as mulheres e meninas”),<br />
talvez seja o mais importante <strong>de</strong><br />
todos, aquele que é chave para<br />
todos os <strong>de</strong>mais. Porque se este<br />
objetivo for cumprido, imediatamente<br />
vários outros serão revertidos<br />
mais rapidamente. Isso prova<br />
que, quando falamos <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> gênero, não se trata <strong>de</strong> uma<br />
questão feminina. É uma questão<br />
<strong>de</strong> homens e mulheres. Tem a ver<br />
com equilíbrio. Homens e mulheres<br />
são importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>. Há<br />
complementarida<strong>de</strong>. O problema<br />
é que, historicamente, as coisas se<br />
<strong>de</strong>senvolveram <strong>de</strong> uma forma que<br />
associou certos atributos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
a homens e não a mulheres, e vice-<br />
-versa. A discussão passa por assegurarmos,<br />
como socieda<strong>de</strong>, que os<br />
direitos e oportunida<strong>de</strong>s para seres<br />
humanos não <strong>de</strong>pendam <strong>de</strong> se ter<br />
nascido homem ou mulher. Essa é<br />
a discussão.<br />
ça paternida<strong>de</strong> nas empresas, mas<br />
não <strong>de</strong>sfrutam porque têm medo<br />
do que dirão seus pares. Quando<br />
falamos <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero falamos<br />
<strong>de</strong> famílias, <strong>de</strong> homens mais<br />
participativos, que escolhem por<br />
exemplo trabalhar meio período.<br />
Há três afirmações que são limitadoras<br />
para os homens, que eles ouvem<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenos, que os acompanha.<br />
Uma é “eu posso”, outra<br />
é “eu sozinho” e a terceira é “sem<br />
chorar”. São afirmações que marcam<br />
o masculino. Assim como há<br />
outras coisas que marcam o feminino,<br />
como ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir entre ser<br />
mãe ou ter uma carreira profissional<br />
<strong>de</strong> sucesso. Todos per<strong>de</strong>mos,<br />
na verda<strong>de</strong>. E entram aí todas as<br />
questões <strong>de</strong> gênero - <strong>de</strong> homossexuais,<br />
<strong>de</strong> transgêneros e assim por<br />
diante. Os olhares do masculino e<br />
do feminino são complementares.<br />
Há diversos indicadores <strong>de</strong> que,<br />
em equipes formadas por homens<br />
e mulheres <strong>de</strong> maneira equilibrada,<br />
os resultados são melhores. Há<br />
menos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, se<br />
retêm mais talentos, o produto final<br />
é melhor, os colaboradores são<br />
mais felizes, há mais inovação. Por<br />
quaisquer perspectivas, a complementarida<strong>de</strong><br />
é boa.<br />
E sob a perspectiva do po<strong>de</strong>r, como<br />
você vê a discussão? Sobre homens<br />
estarem dispostos a abrir mão <strong>de</strong>le?<br />
Creio que é uma outra discussão.<br />
O que é o po<strong>de</strong>r? Porque o<br />
po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> ser o homem ter um<br />
trabalho mais flexível, que lhe dê a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passar mais tempo<br />
com os filhos, com a família. Este é<br />
outro po<strong>de</strong>r. O po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> escolher.<br />
São outros referenciais <strong>de</strong> sucesso<br />
e <strong>de</strong> realização.<br />
A nossa geração já não per<strong>de</strong>u essa<br />
corrida?<br />
Espero que não. Cada geração<br />
tem sua luta, seu <strong>de</strong>safio. Realizamos<br />
um estudo, chamado The truth<br />
about youth, que <strong>de</strong>monstra uma<br />
transformação planetária <strong>de</strong> consciência.<br />
Quando se compara pessoas<br />
acima <strong>de</strong> 35 anos e a geração<br />
entre 18 e 35 anos, percebemos nos<br />
millennials mais valores relacionados<br />
a direitos humanos, benefícios<br />
sociais, olhar para o coletivo,<br />
abertura para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos<br />
das minorias e erradicar problemas<br />
profundos da socieda<strong>de</strong> como a<br />
pobreza e a injustiça. Certamente<br />
é uma geração que terá pais mais<br />
comprometidos, por exemplo. Mas<br />
sinto que não precisaremos esperar<br />
tanto. As novas gerações, claro,<br />
fazem as mudanças avançarem,<br />
mas algumas <strong>de</strong>las precisam ocorrer<br />
agora, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das pessoas<br />
que estão em posições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
neste momento. Muitas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
<strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> políticas públicas.<br />
No Chile, por exemplo, o custo <strong>de</strong><br />
empregar mulheres é maior do que<br />
o <strong>de</strong> empregar homens, o saldo do<br />
pacote <strong>de</strong> encargos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que<br />
vem com filhos, etc, é das mulheres.<br />
Para uma empresa, contratar<br />
uma mulher, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />
do salário - se é maior ou menor<br />
do que dos homens - sai mais caro<br />
do que contratar um homem. Este<br />
é um tema <strong>de</strong> política pública, que<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> que se tome a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />
dividir a conta <strong>de</strong> filhos, igualmente<br />
entre homens e mulheres.<br />
O que levou você a se envolver em<br />
questões femininas?<br />
A motivação <strong>de</strong> buscar mais<br />
espaço para as mulheres vem há<br />
muito tempo. Mas creio que se acelerou<br />
há alguns anos, observando<br />
a pouca participação <strong>de</strong> mulheres<br />
em cargos <strong>de</strong> direção.<br />
Você teve entraves na sua carreira por<br />
ser mulher?<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista pessoal não, e<br />
nunca senti que por ser mulher tenha<br />
<strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ter oportunida<strong>de</strong>s.<br />
Principalmente nos primeiros anos<br />
da minha vida profissional, nunca<br />
senti que gênero era uma <strong>de</strong>svantagem<br />
para mim. Mas po<strong>de</strong> ser porque<br />
a publicida<strong>de</strong> é naturalmente<br />
mais aberta. Em outras indústrias,<br />
é algo extraordinário que mulheres<br />
cheguem a cargos executivos.<br />
Sendo que não há razões objetivas<br />
para isso ocorrer. No caso do Chile<br />
e da América Latina em geral, há<br />
mais mulheres nas universida<strong>de</strong>s,<br />
por exemplo. Mas na publicida<strong>de</strong> a<br />
questão se tornou emblemática, especialmente<br />
nos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong><br />
criação. E isso é mundial. Dou aula<br />
em universida<strong>de</strong>s e sempre percebi<br />
que as mulheres viam a área<br />
<strong>de</strong> criação como um <strong>de</strong>stino mais<br />
natural para homens. E o curioso<br />
é que 80% dos produtos e campanhas<br />
que esses homens criam são<br />
<strong>de</strong>stinados a mulheres. Há alguns<br />
22 <strong>30</strong> <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark