18.12.2018 Views

O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A partir de sua aplicação na antropologia, o formalismo de Propp<br />

exerceu uma forte influência sobre os estudos linguísticos e literários,<br />

especialmente sobre o estruturalismo consoli<strong>da</strong>do na metade do século<br />

passado na França. O modelo estruturalista torna-se então, como<br />

reconhece Lopes (1997), o paradigma epistemológico mais forte <strong>da</strong>s<br />

ciências humanas em todo o século XX, rivalizando nesse aspecto com<br />

o funcionalismo e o marxismo. Apesar de a obra de Propp fazer parte <strong>da</strong><br />

pré-história dos estudos <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong>, os estudiosos ressaltam a enorme<br />

importância teórica e metodológica que ela "aportou, para além e acima de<br />

suas eventuais imperfeições" (LOPES, 1997, p. 238).<br />

Embora o próprio Propp tenha negado ser estruturalista e<br />

ter mantido polêmicas em vi<strong>da</strong> para afirmar-se como formalista<br />

(comprando uma briga com Levy Strauss a este respeito), é inegável<br />

sua influência na linguística e na teoria literária estruturalista posterior,<br />

como reconhece um dos estruturalistas mais paradigmáticos: "A relação<br />

entre uma e outra é incontestável [...] encontram-se nos estruturalistas<br />

marcas de uma influência formalista tanto nos princípios gerais quanto<br />

em certas técnicas de análise" (TODOROV, 1970, p. 28).<br />

Se nos ativemos à análise estruturalista de cunho mais literário (a<br />

primeira área a desenvolver processos sistemáticos para a interpretação <strong>da</strong>s<br />

<strong>narrativa</strong>s), seu marco mais significativo situa-se no ano de 1966, quando<br />

é publicado na França um número especial <strong>da</strong> revista Communications<br />

sobre a análise estrutural <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong>, traduzi<strong>da</strong> ao português em<br />

1971, contendo inúmeros artigos sobre o assunto escritos por teóricos<br />

importantes do nascente estruturalismo, como o próprio Roland Barthes<br />

(1971), organizador do volume, Tzvetan Todorov, Claude Bremond, A. J.<br />

Greimas, Umberto Eco, Gerard Genette, Christian Metz e outros. Esse<br />

conjunto de artigos visava, como diz Barthes no capítulo introdutório,<br />

buscar um modelo narrativo único, comum a todo discurso narrativo,<br />

uma estrutura acessívelà análise, apesar <strong>da</strong> varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> como fato<br />

universal, um modelo hipotético de descrição (uma teoria, enfim). Poucos anos<br />

depois <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> revista, o búlgaro-francês T. Todorov (1970),

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!