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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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Em resumo, a perspectiva que sigo argumenta que o corpo de<br />

categorias e conceitos mediante os quais os indivíduos apreendem e<br />

ordenam significativamente a reali<strong>da</strong>de cultural não é um reflexo<br />

subjetivo de uma estrutura social objetiva, mas uma esfera social<br />

específica dota<strong>da</strong> de uma lógica própria. Em to<strong>da</strong> situação histórica<br />

existe um sistema estabelecido de regras de significação que medeia<br />

ativamente entre os indivíduos e a reali<strong>da</strong>de social. (CABRERA,<br />

2001). Os conceitos e categorias que dão origem às práticas e<br />

relações sociais conformam uma complexa e contraditória rede<br />

cuja natureza não é objetiva nem subjetiva, mas tem lugar através<br />

de mecanismos intersubjetivos específicos. Formam uma estrutura<br />

relacional independente que se desenvolve e mu<strong>da</strong> conforme processos<br />

próprios.<br />

A narratologia, como teoria e método que estu<strong>da</strong> a construção<br />

de sentidos nas relações humanas <strong>narrativa</strong>s, apoia-se em pressupostos<br />

epistemológicos que a inserem nas teorias interpretativas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

(hermenêutica). Essas teorias surgiram nas últimas déca<strong>da</strong>s no interior<br />

de um movimento que hoje está sendo reconhecido como giro linguístico<br />

<strong>da</strong> filosofia, como já observei. Este giro faz parte de um movimento<br />

intelectual amplo e diversificado que se posicionou criticamente em<br />

relação aos paradigmas positivistas nas ciências humanas, cujas origens<br />

estão no racionalismo que se instalou nas ciências em geral desde os<br />

últimos três séculos como uma cosmovisão <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de moderna.<br />

Essa cosmovisão racionalista enfatiza a razão e a ciência como<br />

guias dos homens, únicos meios para explicar o mundo. Coloca ênfase<br />

na necessi<strong>da</strong>de de observar a reali<strong>da</strong>de e as relações humanas desde<br />

uma posição externa, empírica e objetiva. Gradualmente, instalouse<br />

uma fé cega na racionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ciências em geral. Nas ciências<br />

humanas instalou-se o argumento de que os fenômenos sociais são<br />

expressivos por si mesmos e podem ser mensurados através <strong>da</strong>s<br />

mesmas formas racionais <strong>da</strong>s ciências físicas como fenômenos externos<br />

ao analista.

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