O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.
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Por exemplo, conceitos operacionais <strong>da</strong> teoria literária podem ser úteis<br />
quando aplicados à intriga temática sugeri<strong>da</strong>. Essa aplicação proporcionará<br />
ao analista identificar dimensões antes encobertas ou difusas. Apesar de<br />
seu caráter imanentista, a teoria literária (análise <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> ficcional)<br />
tem já um longo caminho percorrido e pode oferecer conceitos e<br />
procedimentos metodológicos produtivos. A aplicação de conceitos como<br />
ação, encadeamento, sequência, encaixe, analepse (flashback), prolepse<br />
(flashfoivard), conflito, intriga, episódio, ritmo, suspense, desfecho e outros<br />
oriundos <strong>da</strong> narratologia literária pode ser útil para revelar aspectos antes<br />
nebulosos: quem é o narrador jornalístico, como ele organizou sua estratégia<br />
<strong>narrativa</strong> noticiosa em função de efeitos de sentido pretendidos (efeitos<br />
de veraci<strong>da</strong>de ou efeitos estéticos), por exemplo. O caráter argumentativo<br />
<strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> jornalística, a disputa pelo poder discursivo, os jogos de<br />
linguagem e outros aspectos saltarão aos olhos e a configuração <strong>da</strong> história<br />
do presente ganhará coloridos ideológicos novos.<br />
Outro exemplo ain<strong>da</strong> não enfatizado: o analista poderá também<br />
recorrer aos ensinamentos dos roteiristas, cujos conceitos de storyline,<br />
roteiro, script, fio <strong>da</strong> história e outros podem ser úteis ao desdobramento<br />
<strong>da</strong> análise. O aproveitamento <strong>da</strong> narratologia hollywoodiana é citado em<br />
outras partes deste livro e pode ser útil para revelar o caráter argumentativo<br />
<strong>da</strong>s intrigas jornalísticas. O analista poderá recorrer ain<strong>da</strong> à historiografia,<br />
sobretudo à historiografia mais recente que trabalha com o discurso<br />
como prática social de construção de significados, a fim de entender<br />
de que maneira os acontecimentos se transformam em episódios e em<br />
meta<strong>narrativa</strong>s que se cristalizam em aconteámentos-intriga, marcos sociais e<br />
cognitivos que ancoram o presente.<br />
O analista terá necessariamente de recorrer ao texto <strong>da</strong>s notícias<br />
como ponto de parti<strong>da</strong>, nas suas manifestações verbais, visuais e sonoras,<br />
seja ele impresso, televisivo, eletrônico ou de outro suporte. Mas é bom<br />
relembrar que embora tenhamos de partir necessariamente do texto<br />
enquanto produto de uma ativi<strong>da</strong>de discursiva (de uma ação mimética<br />
que produz representação), a opção que recomendo ao longo deste livro