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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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em certa relação conosco. O que constitui a reali<strong>da</strong>de é o sentido de<br />

nossa experiência e não a estrutura ontológica dos objetos. Em outras<br />

palavras, a reali<strong>da</strong>de é uma questão epistemológica, não ontológica<br />

(MÈLICH, 1998). As nossas experiências de mundo sempre têm lugar<br />

através de uma mediação. No mundo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana a mediação não é<br />

teórica (ao contrário <strong>da</strong> ciência), mas natural e intersubjetiva: não só está<br />

pontuado apenas por objetos e coisas, mas por semelhantes com quem<br />

estabelecemos relações de diálogo ou de conflito. Ser humano significa<br />

viver num mundo que está ordenado, que tem e faz sentido, embora esse<br />

sentido tenha sido construído por relações de poder e hegemonias.<br />

É importante observar que não apenas construímos o mundo<br />

ao descrevê-lo, mas antes ain<strong>da</strong>, construímos o mundo ao observá-lo e<br />

percebê-lo. A percepção, o próprio ato de perceber é um ato de interpretar:<br />

isolar, selecionar, concentrar a atenção, priorizar são já partes constitutivas<br />

<strong>da</strong> nossa construção de mundo. O que se apresenta como objeto é<br />

resultado de uma coordenação organiza<strong>da</strong> de certos sinais sensomotri^es<br />

(SCHMIDT, 1997): os observadores não podem falar de um objeto em si<br />

ou de um objeto como tal - podem unicamente descrever linguisticamente<br />

um objeto. O mundo que experimentamos é como é porque nós o<br />

fizemos assim. Como observadores, podemos ter um mundo real, mas<br />

conscientes de que se trata de nossa própria construção. A reali<strong>da</strong>de é<br />

sempre um modelo (ain<strong>da</strong> que contraditório) de mundo, mas sempre<br />

um modelo, uma construção, tanto na ficção como na história.<br />

A noção de discurso assume um papel importante nessa<br />

perspectiva (assim como a noção de <strong>narrativa</strong>) porque o interesse voltase<br />

para a palavra humana, para as significações e as interpretações,<br />

para os atos de fala como práticas sociais. A retórica também ganha<br />

importância como forma de argumentação nas práticas discursivas e<br />

<strong>narrativa</strong>s. Os recursos retóricos, no sentido amplo e mais recente do<br />

termo (uso de metáforas, hipérboles, sinonímias, por exemplo), são<br />

estrategicamente utilizados pelos sujeitos falantes a fim de convencer<br />

seus interlocutores de que aquilo que dizem nos seus atos de fala é

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