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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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ou internauta, procurando envolvê-lo e provocar certos efeitos de<br />

sentido. Exploram o fático para causar o efeito de real (a objetivi<strong>da</strong>de e<br />

a veraci<strong>da</strong>de) e o fictício para causar efeitos emocionais (subjetivi<strong>da</strong>des,<br />

emocionali<strong>da</strong>des). Tudo depende <strong>da</strong> intenção do narrador midiático<br />

e <strong>da</strong>s estratégias dele. É preciso analisar ca<strong>da</strong> caso para constatar se<br />

a <strong>narrativa</strong> midiática é predominantemente fática, fictícia ou híbri<strong>da</strong>,<br />

verificar a intencionali<strong>da</strong>de do narrador manifesta no texto, e os efeitos<br />

pretendidos. Na parte deste livro sobre procedimentos operacionais<br />

de uma análise o leitor encontrará dicas para identificar no texto as<br />

intenções de seu narrador, tanto as fáticas quanto as fictícias.<br />

O mais importante aqui é observar que a forma <strong>narrativa</strong> está<br />

muito mais presente na mídia do que se imagina. Os jornalistas,<br />

produtores, diretores e editores de TV e de cinema, os roteiristas e<br />

publicitários sabem que os homens e mulheres vivem <strong>narrativa</strong>mente o<br />

seu mundo, que eles e elas constroem temporalmente suas experiências.<br />

E exploram com astúcia, premeditação e profissionalismo o discurso<br />

narrativo, para causar efeitos de sentido. Fazem isso tanto quando o<br />

efeito pretendido é o efeito de real como quando o efeito desejado<br />

é a emoção. Mesmo em um anúncio gráfico onde só há a fotografia<br />

de um homem ou de uma mulher em uma situação estática (quando<br />

aparentemente não há um estado explícito de transformação), por<br />

exemplo, o efeito pretendido pode ser remeter a audiência a um mundo<br />

possível, onde as coisas se passam de uma forma idealiza<strong>da</strong>. Ou seja,<br />

o anúncio de uma única foto publicitária realça aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

pessoas, de como elas são e de como deveriam ser, procura remeter a<br />

imaginação para as vi<strong>da</strong>s individuais, para as estórias e biografias de<br />

ca<strong>da</strong> um, criando desejos a partir de imaginários pessoais, remetendo<br />

a <strong>narrativa</strong>s imaginárias. Mesmo quando a imagem revela o flagrante<br />

de um só momento e nenhum estado de mu<strong>da</strong>nça aparente, a foto<br />

pode insinuar mu<strong>da</strong>nça, estimular estórias ao redor do tema. Basta<br />

descobrir os indícios e as marcas do texto (<strong>da</strong> foto) que estimulam uma<br />

estória, e a <strong>narrativa</strong> saltará aos olhos. O que estamos sugerindo é que<br />

o analista procure na mídia estórias (<strong>narrativa</strong>s) onde aparentemente

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