O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
As ideias fun<strong>da</strong>doras do giro linguístico ocorreram<br />
simultaneamente às mu<strong>da</strong>nças de paradigmas em outras áreas do<br />
conhecimento, que concorreram no mesmo período para reforçar<br />
a busca pelo sentido <strong>da</strong>s coisas, fenômenos e relações humanas. Na<br />
antropologia foram influentes as ideias do antropólogo norte-americano<br />
Cliford Geertz (1989), fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> antropologia interpretativa (ou<br />
antropologia hermenêutica). Para ele, fazer etnografia é uma ativi<strong>da</strong>de<br />
muito pareci<strong>da</strong> com a tarefa do crítico literário: é fazer uma leitura<br />
ou interpretação dos significados <strong>da</strong>s estruturas conceituais complexas.<br />
A cultura, segundo Geertz, consiste em estruturas de significado<br />
socialmente estabeleci<strong>da</strong>s às quais as pessoas respondem, e a análise<br />
cultural é, ou deveria ser, uma adivinhação do significado.<br />
De acordo com Geertz, a cultura não deve ser compreendi<strong>da</strong> como<br />
um conjunto de padrões concretos para governar o comportamento,<br />
mas como um conjunto de mecanismos de controle - receitas, regras,<br />
instruções (um fundo acumulado de significantes) que os homens<br />
utilizam para fazer uma construção dos acontecimentos através dos<br />
quais vivem. "Sem os homens certamente não haveria cultura, mas de<br />
forma semelhante e muito significativa, sem cultura não haveria homem"<br />
(GEERTZ, 1989, p. 21). O próprio autor define essa vertente como<br />
antropologia interpretativa e alguns autores chamam a ampla adesão que<br />
houve a este novo paradigma de giro antropológico, por analogia ao giro<br />
linguístico. Os acontecimentos gerados por essa guina<strong>da</strong> linguística <strong>da</strong><br />
antropologia são bastante semelhantes àqueles produzidos pela nova<br />
historiam, historiografia, como vimos no capitulo anterior. Ou seja, parece<br />
ter acontecido um giro profundo de paradigmas nas ciências sociais em<br />
geral, rumo à linguagem e aos processos cognitivos.<br />
Penso que as ideias de Geertz se encontram também, em<br />
alguns pontos, com aquelas do influente sociólogo canadense Erving<br />
Goffman a respeito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de cultural. Para Goffman (2009)<br />
a normali<strong>da</strong>de é construí<strong>da</strong> pelo contraste com o negativo: o falso<br />
revela o autêntico, a normali<strong>da</strong>de é reconstruí<strong>da</strong> e regulamenta<strong>da</strong>