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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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anteriormente explicado, produz certas significações e dá sentido às<br />

coisas e aos nossos atos. A partir dos enunciados narrativos colocamos<br />

as coisas em relação umas com as outras, em uma ordem e perspectiva,<br />

em um desenrolar lógico e cronológico. E assim que compreendemos a<br />

maioria <strong>da</strong>s coisas do mundo. Mas, quais são os enunciados narrativos<br />

predominantes na mídia, e que efeitos de sentido produzem?<br />

As <strong>narrativa</strong>s podem ser, como já vimos, factuais e imaginárias,<br />

permanecendo ambas <strong>narrativa</strong>s. As <strong>narrativa</strong>s factuais, por um lado,<br />

procuram estabelecer relações lógicas e cronológicas <strong>da</strong>s coisas físicas<br />

e <strong>da</strong>s relações humanas reais ou fáticas. As <strong>narrativa</strong>s ficcionais, por<br />

outro, procuram estabelecer relações lógicas e cronológicas <strong>da</strong>s coisas<br />

imagina<strong>da</strong>s ou fictícias. Ambas, entretanto, são ativi<strong>da</strong>des miméticas<br />

(imitativas) <strong>da</strong>s ações humanas, metáforas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e guar<strong>da</strong>m com o<br />

referente empírico uma relação mais ou menos íntima, dependendo <strong>da</strong><br />

intenção de ver<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> uma delas.<br />

A historiografia e o jornalismo são exemplos <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong><br />

objetiva, relatos que pretendem se aproximar do real. Os narradores<br />

<strong>da</strong> história e do jornalismo procuram, por estratégias e artimanhas<br />

próprias (veremos isso em detalhes no capítulo sobre metodologia),<br />

manter a objetivi<strong>da</strong>de do relato, representar fielmente o real: procuram<br />

contar desde uma visão externa dos fatos, para provocar a falsa imagem<br />

que os fatos falam por si mesmos. Os contos populares, os mitos e a<br />

literatura são exemplos de <strong>narrativa</strong>s fictícias, fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na imaginação,<br />

sem o compromisso de representar fielmente o real (o mundo do<br />

como se). Os narradores dos mitos e <strong>da</strong> literatura não se atêm aos<br />

fatos nem procuram ser fiéis à reali<strong>da</strong>de. Ao contrário, criam suas<br />

<strong>narrativa</strong>s, remetem em maior ou menor grau à fantasia, e não evitam<br />

contaminá-las com seus próprios valores morais, éticos e estéticos.<br />

Nesse caso, não são os fatos que falam, é um narrador quem media<br />

mais explicitamente entre a reali<strong>da</strong>de e a audiência. Embora a literatura<br />

ou o cinema, por exemplo, necessitem contar ficcionalmente estórias<br />

minimamente verossímeis para obter a verossimilhança, certo grau

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