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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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passado, como uma continui<strong>da</strong>de entre o que está acontecendo com o que<br />

acabou de acontecer. Como se o presente passasse ininterruptamente para<br />

o passado, de onde podemos perceber melhor o presente. Uma história<br />

imediata, que não para de se mover, negando-se à acomo<strong>da</strong>ção. 4 O desejo<br />

de compreender como essa coetanei<strong>da</strong>de é apreendi<strong>da</strong> cognitivamente<br />

e reproduzi<strong>da</strong> ideologicamente aumenta a responsabili<strong>da</strong>de de quem<br />

realiza análises <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> jornalística. Nas últimas déca<strong>da</strong>s, com<br />

o progresso <strong>da</strong>s tecnologias <strong>da</strong> informação e o advento dos meios de<br />

comunicação eletrônicos e digitais, a nossa capaci<strong>da</strong>de de observar ca<strong>da</strong><br />

vez mais longe, mais distante, mais adiante e mais atrás, a percepção do<br />

nosso presente cotidiano se expandiu, se aqueceu e se adensou: o presente<br />

adquiriu um sentido histórico (de passado), fez crescer a consciência<br />

histórica. Mais que antes, passamos a viver simultaneamente a história e<br />

sua mimese, a vi<strong>da</strong> e sua simultânea representação compondo instantes<br />

em que reali<strong>da</strong>de e ficção se distinguem ca<strong>da</strong> vez menos.<br />

Outro aspecto relacionado ao aquecimento do presente cotidiano,<br />

e que justificaria o emprego <strong>da</strong> expressão, é que passamos a viver sob<br />

o signo do acontecimento (o excepcional, o surpreendente) e de seus<br />

ecos (a cobertura jornalística). Não apenas o acontecimento objetivo <strong>da</strong><br />

história positivista, marca<strong>da</strong> por guerras, batalhas, mortes de heróis que<br />

distinguiam as grandes mu<strong>da</strong>nças (e seguem distinguindo), como dizem<br />

os historiadores. Para o analista <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> jornalística especialmente, o<br />

acontecimento enquanto significação no seu sentido cultural e histórico.<br />

Com o advento <strong>da</strong>s novas tecnologias <strong>da</strong> informação, o jornalismo<br />

ganhou um status ain<strong>da</strong> mais contundente como historiador do<br />

presente, historiador de uma história fala<strong>da</strong> e escrita pelos jornalistas e<br />

seus colaboradores, crua, sangrenta, bruta, mal-acaba<strong>da</strong> e mal-articula<strong>da</strong>,<br />

sem refinamento, mas uma história com h.<br />

4 Se quisermos ser preciosistas e rigorosos, imputaríamos ao jornalismo a configuração<br />

<strong>da</strong> história imediata, uma história mais coetânea, selvagem e crua, ain<strong>da</strong> indoma<strong>da</strong>,<br />

relaciona<strong>da</strong> às disputas políticas imediatas. E à historiografia que se dedica ao presente<br />

expandido <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de (dimensão temporal mínima que permita a consoli<strong>da</strong>ção<br />

de representações mais tangíveis), a configuração <strong>da</strong> história do presente propriamente.

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