O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.
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Corroborando e fortalecendo o que foi dito acima a respeito<br />
de outras áreas <strong>da</strong>s ciências sociais, a sociologia do conhecimento<br />
desses dois influentes autores reafirma, portanto, que o homem e sua<br />
socie<strong>da</strong>de são produtos do próprio homem, de seu empalavramento<br />
sucessivo do mundo: a reali<strong>da</strong>de cotidiana, ou o senso comum<br />
compartilhado, é um tecido de significados e relatos intersubjetivos,<br />
produto <strong>da</strong> ação, vontade, pensamento e comunicação entre os<br />
próprios homens. Fica evidente agora que o retorno <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> é<br />
parte do retorno <strong>da</strong> linguagem ao centro do pensamento filosófico,<br />
antropológico e cognitivo, produto <strong>da</strong> recuperação <strong>da</strong> ideia <strong>da</strong><br />
linguagem como objeto primordial de mediação entre o homem e<br />
o mundo exterior a ele, intersubjetivamente institucionalizado através<br />
<strong>da</strong>s inúmeras <strong>narrativa</strong>s humanas, do mar de estórias onde o homem<br />
navega sempre.<br />
Procurei neste capítulo, ain<strong>da</strong> que muito brevemente, situar o<br />
retorno <strong>da</strong>s <strong>narrativa</strong>s no interior do giro linguístico e antropológico, e<br />
<strong>da</strong> guina<strong>da</strong> rumo à linguagem e à interpretação. Este retorno acontece<br />
em sociologia, antropologia e história, na busca geral do significado<br />
que se intensificou em to<strong>da</strong>s as ciências cognitivas. Cresceu nas<br />
últimas déca<strong>da</strong>s a consciência de que a linguagem é a mediadora entre<br />
o homem e o mundo, mediadora <strong>da</strong>s nossas experiências, do nosso<br />
conhecimento sobre a reali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>s representações que construímos,<br />
<strong>da</strong>s sucessivas apresentações discursivas que fazemos dos fenômenos<br />
materiais e sociais, de que a linguagem é o veículo de instituição<br />
e constituição do mundo humano e a <strong>narrativa</strong> é a sua principal<br />
forma expressiva. O retorno <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> se dá, portanto, no interior<br />
desse novo paradigma hermenêutico-interpretativo.<br />
Como diz L. Duch (1998), não existe vi<strong>da</strong> humana à margem<br />
<strong>da</strong> palavra. O ser humano depende decidi<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> linguagem<br />
para conhecer e acercar-se ao mundo. A linguagem é a experiência<br />
humana essencial: faz o ser tornar-se humano. Nós empalavramos<br />
segui<strong>da</strong>mente o mundo porque essa é a forma humana de conhecer.