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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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uma <strong>da</strong>s figurasmais proeminentes do estruturalismo linguístico, cunhou<br />

o termo narratologia para designar a teoria e análise <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> a partir<br />

de um estudo sobre a estrutura dos contos de Boccacio, publicado em<br />

1969 (Grammaire du Décamervn), onde ele buscava também construir uma<br />

gramática universal <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong>.<br />

Assim, a análise <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> nasce vincula<strong>da</strong> ao movimento<br />

linguístico conhecido como formalismo russo e ao estruturalismo<br />

antropológico e literário francês. As raízes desses movimentos estão<br />

fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s no esforço dos críticos literários do início do século<br />

passado que rejeitavam o caráter retórico e especulativo <strong>da</strong> <strong>crítica</strong><br />

literária historicista e humanista de até então. Eles buscavam o<br />

espeãficamente literário através <strong>da</strong> observação empírica e sistemática dos<br />

textos. Além do formalismo russo, a nova <strong>crítica</strong> anglo-saxã percorreu<br />

este trajeto. O formalismo russo e a nova <strong>crítica</strong>, movimentos distantes<br />

e seguindo caminhos próprios, pretendiam ambos estabelecer as bases<br />

para uma teoria científica <strong>da</strong> <strong>crítica</strong> literária.<br />

A narratologia nasce no interior desse esforço dos analistas em<br />

decompor as partes componentes <strong>da</strong>s estórias narra<strong>da</strong>s e estabelecer uma<br />

gramática ou sintaxe <strong>narrativa</strong> única. Sofre, assim, muitas influências<br />

dessas ideias e movimentos precursores nos anos subsequentes. Mas a<br />

narratologia gradualmente se desvincula dessas correntes e, nas duas<br />

últimas déca<strong>da</strong>s, principalmente, passa a abranger uma gama muito<br />

mais ampla de campos e de análises acadêmicas. Hoje, além <strong>da</strong> teoria<br />

literária (onde ela mais se desenvolveu), a narratologia é utiliza<strong>da</strong> na<br />

antropologia, na teoria dos atos discursivos (speech acts), na história,<br />

na pragmática, na teoria cognitiva, nas teorias <strong>da</strong> comunicação e<br />

em tantas outras áreas do conhecimento, transformando-se em umà<br />

teoria interpretativa <strong>da</strong> cultura.<br />

Diferentemente do estruturalismo, a narratologia como a<br />

concebo neste livro é um ramo <strong>da</strong>s ciências humanas que estu<strong>da</strong> os sistemas<br />

narrativos no seio <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des. Essa distinção, se ain<strong>da</strong> não está clara<br />

para o leitor, com certeza se tornará cristalina nas páginas seguintes.

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