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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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pensamento contemporâneo em to<strong>da</strong>s as dimensões dessa afirmação.<br />

A análise <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> jornalística é um meio caminho entre a análise<br />

<strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> literária (ficcional) e a análise <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> histórica (fática),<br />

integrando elementos dessas duas vertentes em uma síntese <strong>narrativa</strong><br />

nova e singular, que precisa <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de semiótica <strong>da</strong><br />

comunicação jornalística (ver o capítulo sobre metodologia neste livro).<br />

O pressuposto aqui, além dos que assumi nas páginas anteriores,<br />

é que os leitores ou ouvintes (público ou audiência) constroem<br />

cognitivamente significados a partir de informações provenientes<br />

do texto <strong>da</strong> notícia, mas também de informações do contexto e<br />

de suas próprias experiências, memória e cultura. Fato importante,<br />

considerando as lacunas de sentido e a inconclusão <strong>da</strong> fragmenta<strong>da</strong><br />

<strong>narrativa</strong> jornalística. No jornalismo não existe ordem clara nem fixa<br />

entre a informação nova que entra e as informações internas que o<br />

próprio sujeito ativa no ato. A construção de representações mentais<br />

é flexível, mas o objetivo é ser o mais eficar^possível na construção <strong>da</strong><br />

coerência <strong>narrativa</strong>. O leitor procede assim: ele procura, a todo<br />

momento, <strong>da</strong>r maior coerência à estória que lê, vê ou escuta. Uma<br />

estória sobre um incidente qualquer é compreendi<strong>da</strong> por meio<br />

de um processo no qual o leitor constrói uma interpretação de<br />

maneira integra<strong>da</strong> com as intenções originais do narrador-jornalista<br />

ao narrar, e a sua própria experiência e memória. A coerência é<br />

obti<strong>da</strong> pela fusão de horizontes, sucessivas conexões significativas<br />

que o leitor faz procurando ligações entre os fatos relatados com<br />

os seus próprios mundos possíveis culturalmente referenciados, num<br />

processo de correferência. A ordenação e os conectivos utilizados<br />

nessas ligações provêm <strong>da</strong> memória local, mas principalmente<br />

<strong>da</strong> memória de longo prazo que fornece ao leitor- os modelos e<br />

molduras para ele fazer associações espontâneas e intuitivas no<br />

ato de recepção. Assim, o leitor vai fazendo inferências através<br />

<strong>da</strong>s macroproposições do relato e constituindo uma explicação<br />

teórica, vai construindo as sequências até chegar à trama ou enredo<br />

<strong>da</strong> estória (VAN DIJK, 2000, p. 9-35).

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