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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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A análise busca verificar como se produz sentido através de expressões<br />

<strong>narrativa</strong>s. Mas faz isso para entender como os sujeitos coconstroem<br />

significados em uma situação de correlação, de diálogo ou de força,<br />

de troca argumentativa <strong>da</strong>s interpretações possíveis, e muitas vezes até<br />

divergentes, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social.<br />

Ou seja, os discursos narrativos se constroem através de<br />

estratégias comunicativas (atitudes organizadoras do discurso) e<br />

recorrem a operações e a opções (modos) linguísticos e extralinguísticos<br />

táticos para realizar certas intenções e objetivos. A organização<br />

<strong>narrativa</strong> do discurso, ain<strong>da</strong> que espontânea e intuitiva, não é aleatória:<br />

realiza-se em contextos pragmáticos e políticos e produz certos efeitos<br />

(consciente ou inconscientemente desejados). Quando um narrador<br />

qualquer configura um discurso na sua forma <strong>narrativa</strong>, ele introduz<br />

necessariamente uma força ilocutiva eperlocutiva (para utilizar expressões<br />

dos filósofos ingleses J. Austin e J. Searle) responsável pelos efeitos que<br />

vai gerar no seu destinatário.<br />

A comunicação <strong>narrativa</strong> gera, assim, certo tipo de relação entre os<br />

interlocutores e pressupõe, além de um código comum e uma empatia<br />

mínima entre òs interlocutores, um universo compartido, uma cultura<br />

comum. A comunicação <strong>narrativa</strong> pressupõe, portanto, uma estratégia<br />

textual que interfere na organização do discurso e que o estrutura na<br />

forma de sequências encadea<strong>da</strong>s de certa maneira, e em uma retórica<br />

própria para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> finali<strong>da</strong>de deseja<strong>da</strong>. Implica competência e<br />

utilização de recursos, códigos, articulações sintáticas e pragmáticas: o<br />

narrador investe na organização <strong>narrativa</strong> do seu discurso e solicita uma<br />

determina<strong>da</strong> interpretação por parte do seu destinatário. A partir desse<br />

entendimento (ou divergência), nos <strong>da</strong>mos conta de que as <strong>narrativa</strong>s<br />

não são apenas, nem principalmente, puras representações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,<br />

mas formas de organizar nossas ações em função de estratégias culturais<br />

em contexto. As <strong>narrativa</strong>s e narrações são dispositivos discursivos que<br />

utilizamos socialmente, em contexto, de acordo com nossas pretensões.<br />

Narrativas e narrações são formas de exercício de poder e de hegemonia

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