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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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seres humanos na medi<strong>da</strong> em que as pessoas falam sobre ele, o discutem<br />

e descrevem, o classificam e demarcam, na medi<strong>da</strong> em que organizam<br />

representações mentais a respeito dele e, por razões cognitivas ou políticas,<br />

atribuem credibili<strong>da</strong>de e legitimi<strong>da</strong>de a essas representações.<br />

Os discursos sobre o mundo, incluindo as <strong>narrativa</strong>s, são práticas<br />

discursivas de construção do mundo. O mundo físico e o mundo<br />

<strong>da</strong>s relações sociais são o referente imprescindível para a criação de<br />

significados, mas a referenciali<strong>da</strong>de é uma atribuição <strong>da</strong> linguagem, não do<br />

referente. Os indivíduos não experimentam suas condições sociais de<br />

existência, mas as constituem significativamente. A experiência não é fruto do<br />

impacto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de sobre a subjetivi<strong>da</strong>de, mas resultado <strong>da</strong> apreensão<br />

discursiva <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. As experiências por si mesmas não prescrevem<br />

condutas: só o fazem ao seiem considera<strong>da</strong>s, pensa<strong>da</strong>s, dota<strong>da</strong>s ou<br />

priva<strong>da</strong>s de relevância. A própria experiência é um acontecimento<br />

linguístico que não ocorre à margem de significados (CABRERA, 2001).<br />

De um ponto de vista epistemológico, o argumento principal<br />

que desenvolvo aqui sobre as <strong>narrativa</strong>s como construção sustenta que<br />

a esfera física não é uma enti<strong>da</strong>de de caráter objetivo, nem as ações<br />

sociais estão determina<strong>da</strong>s com independência <strong>da</strong> consciência. Ao<br />

contrário, sustenta que as <strong>narrativa</strong>s sobre o mundo (físico, histórico ou<br />

ficcional) são discursos sobre o mundo, percepções e descrições sobre<br />

o mundo, não o mundo em si. Nossa maneira de descrever e de contar<br />

o mundo físico e humano revela sempre percepções particulares destes<br />

mundos, formas particulares de perceber e de contá-los.<br />

De um ponto de vista cognitivo, o argumento que estou<br />

seguindo afirma que não ocorre nunca um conhecimento direto de um<br />

determinado fenómeno: conhecer não é reproduzir nem representar o<br />

mundo, mas criá-lo. Dificilmente se poderá apreender o real sem uma<br />

teoria. O real, para ser qualificado como real, deve ser conhecido de algum<br />

modo. E para conhecer necessitamos de alguma linguagem, a linguagem<br />

é a priori. Algo passa a ser real desde o momento em que se encontra

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