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O RETORNO DA NARRATIVA. Análise crítica da narrativa. MOTTA, Luiz Gonzaga.

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na ausência <strong>da</strong>s referências anteriores, como nos títulos. É preciso<br />

não perder de vista que essa continui<strong>da</strong>de é relativa às sequências<br />

maiores, que por sua vez dependem do sentido integral <strong>da</strong> estória.<br />

Não podemos esgotar nesta seção os procedimentos possíveis<br />

para a análise de uma comunicação <strong>narrativa</strong> noticiosa. Ca<strong>da</strong> análise<br />

pode levar em conta algumas <strong>da</strong>s sugestões acima, dependendo <strong>da</strong><br />

pergunta de pesquisa. Mas será sempre necessário verificar de quem<br />

são as vozes que predominam no texto e o uso estratégico, por elas,<br />

de ca<strong>da</strong> expressão, do léxico, advérbios, tempos verbais, etc. Assim,<br />

a seriali<strong>da</strong>de lógico-temporal (a anteriori<strong>da</strong>de, o antes), a atuali<strong>da</strong>de<br />

(o momento de risco, ruptura ou discordância) e a posteriori<strong>da</strong>de (o<br />

depois, o que fica em aberto, as expectativas levanta<strong>da</strong>s) devem ser<br />

sempre relaciona<strong>da</strong>s aos sujeitos falantes e às suas intenções no jogo<br />

comunicativo. As vozes que se manifestam precisam ser identifica<strong>da</strong>s e<br />

medi<strong>da</strong>s em termos de espaço ou tempo, e relaciona<strong>da</strong>s às estratégias<br />

discursivas dos atores sociais envolvidos no conflito noticiado.<br />

Espero que a opção conceituai e epistemológica aqui sugeri<strong>da</strong> para<br />

a análise <strong>da</strong> <strong>narrativa</strong> jornalística se torne mais clara ao longo de todo este<br />

livro. Muitos procedimentos aqui indicados são completados por sugestões<br />

na parte sobre a metodologia. Relembro apenas que a lógica <strong>narrativa</strong> só<br />

irá se revelar nas duras notícias do dia a dia se observarmos como elas<br />

li<strong>da</strong>m e organizam o tempo. O tempo no relato noticioso é anárquico e<br />

muitas vezes invertido. Para recuperar a lógica e a sintaxe <strong>narrativa</strong>s que<br />

estão por trás dessa aparência difusa teremos de reconfigurar os relatos<br />

como uni<strong>da</strong>des temáticas, intrigas que contenham princípio, meio e final,<br />

a fim de reconstruir uma estória integral. Sugiro isso porque acredito que<br />

é assim que o leitor, ouvinte, telespectador ou internauta procede em<br />

seu ato de recepção, quando o sentido é refigurado em sua integrali<strong>da</strong>de.<br />

Reunindo to<strong>da</strong>s as informações dispersas nas diversas notícias a respeito<br />

de um assunto único, o analista junta as pontas, recompõe a seriali<strong>da</strong>de,<br />

reorganiza a cronologia <strong>da</strong> intriga e tem então em suas mãos a obra, o<br />

objeto de sua análise.

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