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edição de 21 de janeiro de 2019

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Divulgação/Alana<br />

Divulgação<br />

Ekaterine Karageorgiadis: “Conteúdos unboxing violam direitos das crianças”<br />

Carlos Tristan orienta marcas a dirigirem suas ações às mães e pais, e não às crianças<br />

Felipe Calixto, Vida <strong>de</strong> Amy,<br />

Canal Duda MH, Manoela Antelo,<br />

Gabriela Saraivah e Marina<br />

Bombonato. O menor dos canais<br />

tem, atualmente, 523 mil<br />

inscritos; o maior, 4,6 milhões.<br />

De acordo com os próprios<br />

Termos <strong>de</strong> Serviço, “o website<br />

do YouTube não é projetado<br />

para jovens menores <strong>de</strong> 18<br />

anos”.<br />

A diretriz é outro ponto<br />

questionado por Dias no inquérito<br />

contra o Google. “O que se<br />

percebe, <strong>de</strong> fato, é que não apenas<br />

a plataforma é utilizada por<br />

crianças e adolescentes, como<br />

virou palco <strong>de</strong> violação <strong>de</strong> direitos,<br />

como no caso em apreço<br />

em que crianças e adolescentes<br />

são expostas a comunicações<br />

mercadológicas abusivas através<br />

dos youtubers mirins”, sugere<br />

o promotor.<br />

“O fenômeno unboxing é<br />

muito amplo e começa com<br />

uma finalida<strong>de</strong> bastante legítima.<br />

Já no universo infantil, ele<br />

se vale da vulnerabilida<strong>de</strong> da<br />

criança e a transforma em um<br />

promotor <strong>de</strong> vendas. Enxergamos<br />

com preocupação o fato<br />

disso fazer parte da formação<br />

<strong>de</strong>ssas crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tão cedo.<br />

Nesse contexto, muitas vezes<br />

as crianças nem falam, mas já<br />

apresentam necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

consumo por conta <strong>de</strong>sse tipo<br />

<strong>de</strong> influência”, acrescenta Ekaterine.<br />

“Se a plataforma tem<br />

como retirar do ar ví<strong>de</strong>os por<br />

violação <strong>de</strong> direitos autorais,<br />

como músicas e ví<strong>de</strong>os, por que<br />

ela não <strong>de</strong>rruba conteúdos que<br />

violam os direitos das crianças?”,<br />

questiona.<br />

HistóricO<br />

Em 2016, o Ministério Público<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

(MPF-MG) pediu ao Google para<br />

que em todo o site fosse inserido<br />

um aviso <strong>de</strong> que publicida<strong>de</strong><br />

infantil é proibida e abusiva. O<br />

grupo <strong>de</strong> tecnologia ganhou o<br />

processo.<br />

No ano seguinte, os irmãos<br />

Felipe e Luccas Neto foram advertidos<br />

pelo Conar (Conselho<br />

Nacional <strong>de</strong> Autorregulamentação<br />

Publicitária) por conta<br />

da ação Desafio Felipe Neto vs.<br />

Luccas Neto (Na Netoland), que<br />

consistia em um sorteio no qual<br />

os vencedores passariam um<br />

dia na casa dos youtubers. As<br />

inscrições eram feitas por meio<br />

<strong>de</strong> ligações telefônicas.<br />

O órgão afirmou que o ví<strong>de</strong>o<br />

não <strong>de</strong>ixava claro que a promoção<br />

se tratava <strong>de</strong> um anúncio<br />

publicitário e que as regras para<br />

participação não foram expostas<br />

<strong>de</strong> forma clara.<br />

Mesmo retirando o ví<strong>de</strong>o do<br />

ar, os influenciadores recorreram<br />

da <strong>de</strong>cisão, que foi julgada<br />

em 2018 pelo Conselho <strong>de</strong> Ética.<br />

Em <strong>de</strong>cisão unânime, Felipe<br />

e Luccas foram punidos e o<br />

conteúdo permanece suspenso.<br />

Gran<strong>de</strong> parte do público dos<br />

canais é formada por crianças e<br />

adolescentes.<br />

O qUE diz a lEi?<br />

A resolução <strong>de</strong> 2014 do Conanda<br />

(Conselho Nacional dos<br />

Direitos da Criança e do Adolescente)<br />

consi<strong>de</strong>ra abusiva a prática<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação<br />

mercadológica à criança<br />

utilizando-se, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>de</strong><br />

linguagem infantil, representação<br />

<strong>de</strong> criança, pessoas ou celebrida<strong>de</strong>s<br />

com apelo ao público<br />

infantil, personagens ou apresentadores<br />

infantis, <strong>de</strong>senho<br />

animado, bonecos ou similares<br />

e promoções com distribuição<br />

“quAndo os<br />

influenciAdores<br />

fAlAm <strong>de</strong> produtos,<br />

eles se tornAm<br />

portA-vozes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminAdA<br />

mArcA. É muito<br />

fácil que isso<br />

fujA do controle”<br />

<strong>de</strong> prêmios ou brin<strong>de</strong>s ou com<br />

competições ou jogos com apelo<br />

infantil.<br />

Segundo o Conar, os anúncios<br />

não po<strong>de</strong>m “empregar<br />

crianças e adolescentes como<br />

mo<strong>de</strong>los para vocalizar apelo<br />

direto, recomendação ou<br />

sugestão <strong>de</strong> uso ou consumo,<br />

sendo admitida, entretanto, a<br />

participação <strong>de</strong>les nas <strong>de</strong>monstrações<br />

pertinentes <strong>de</strong> serviço<br />

ou produto”. O conselho consi<strong>de</strong>ra<br />

também irregular as campanhas<br />

infantis com verbos no<br />

imperativo ou publicida<strong>de</strong> velada.<br />

EvOlUçãO dO MErcadO<br />

Para Carlos Tristan, CMO<br />

e cofundador da Squid, uma<br />

plataforma especializada em<br />

marketing <strong>de</strong> influência com<br />

microinfluenciadores, ocorrências<br />

como essa po<strong>de</strong>m ser<br />

positivas para que o mercado<br />

aprenda e crie para si novas regras.<br />

“Essa discussão é válida<br />

porque o relacionamento com<br />

influenciadores digitais, apesar<br />

<strong>de</strong> já ser prática do dia a dia, é<br />

ainda muito novo. Não existe<br />

uma receita <strong>de</strong> bolo, é necessário<br />

testar os formatos que funcionam”,<br />

afirma.<br />

O especialista acredita na relevância<br />

<strong>de</strong> investimentos mais<br />

assertivos para outros formatos<br />

publicitários além do unboxing,<br />

em que as marcas obtêm maior<br />

segurança em relação às entregas<br />

e resultados. “Às vezes o<br />

investimento é maior, mas com<br />

retorno muito mais robusto. O<br />

i<strong>de</strong>al para um relacionamento<br />

entre uma marca e um influenciador,<br />

seja o pagamento realizado<br />

em dinheiro ou produtos,<br />

é trabalhar com contratos, contrapartidas<br />

e monitoramento. É<br />

um processo melhor construído”,<br />

explica.<br />

Ainda <strong>de</strong> acordo com o CMO,<br />

a reputação <strong>de</strong> suas marcas é<br />

um dos principais motivos para<br />

se planejar melhor as ações digitais.<br />

“Quando os influenciadores<br />

falam <strong>de</strong> produtos, eles<br />

se tornam porta-vozes <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

marca. É muito fácil<br />

que isso fuja do controle e repercuta<br />

negativamente quando<br />

não há uma preocupação com<br />

o histórico <strong>de</strong> quem está falando<br />

por você”. Tristan reforça<br />

ainda a importância <strong>de</strong> direcionar<br />

as ações, mesmo que infantis,<br />

não às crianças, mas sim a<br />

seus responsáveis. “No fim das<br />

contas, são os adultos que têm<br />

o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra e tomam <strong>de</strong>cisões”,<br />

aponta.<br />

A orientação vai <strong>de</strong> encontro<br />

ao que propõe também o Instituto<br />

Alana. “As crianças não<br />

compreen<strong>de</strong>m a diferença <strong>de</strong><br />

conteúdo e publicida<strong>de</strong>. Então,<br />

por que não falar com o adulto?<br />

Com esse público é possível<br />

abordar os diferenciais dos produtos<br />

sem apelar ao imaginário<br />

infantil para ven<strong>de</strong>r”, encerra<br />

Ekaterine.<br />

jornal propmark - <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 15

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