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Divulgação/Alana<br />
Divulgação<br />
Ekaterine Karageorgiadis: “Conteúdos unboxing violam direitos das crianças”<br />
Carlos Tristan orienta marcas a dirigirem suas ações às mães e pais, e não às crianças<br />
Felipe Calixto, Vida <strong>de</strong> Amy,<br />
Canal Duda MH, Manoela Antelo,<br />
Gabriela Saraivah e Marina<br />
Bombonato. O menor dos canais<br />
tem, atualmente, 523 mil<br />
inscritos; o maior, 4,6 milhões.<br />
De acordo com os próprios<br />
Termos <strong>de</strong> Serviço, “o website<br />
do YouTube não é projetado<br />
para jovens menores <strong>de</strong> 18<br />
anos”.<br />
A diretriz é outro ponto<br />
questionado por Dias no inquérito<br />
contra o Google. “O que se<br />
percebe, <strong>de</strong> fato, é que não apenas<br />
a plataforma é utilizada por<br />
crianças e adolescentes, como<br />
virou palco <strong>de</strong> violação <strong>de</strong> direitos,<br />
como no caso em apreço<br />
em que crianças e adolescentes<br />
são expostas a comunicações<br />
mercadológicas abusivas através<br />
dos youtubers mirins”, sugere<br />
o promotor.<br />
“O fenômeno unboxing é<br />
muito amplo e começa com<br />
uma finalida<strong>de</strong> bastante legítima.<br />
Já no universo infantil, ele<br />
se vale da vulnerabilida<strong>de</strong> da<br />
criança e a transforma em um<br />
promotor <strong>de</strong> vendas. Enxergamos<br />
com preocupação o fato<br />
disso fazer parte da formação<br />
<strong>de</strong>ssas crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tão cedo.<br />
Nesse contexto, muitas vezes<br />
as crianças nem falam, mas já<br />
apresentam necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
consumo por conta <strong>de</strong>sse tipo<br />
<strong>de</strong> influência”, acrescenta Ekaterine.<br />
“Se a plataforma tem<br />
como retirar do ar ví<strong>de</strong>os por<br />
violação <strong>de</strong> direitos autorais,<br />
como músicas e ví<strong>de</strong>os, por que<br />
ela não <strong>de</strong>rruba conteúdos que<br />
violam os direitos das crianças?”,<br />
questiona.<br />
HistóricO<br />
Em 2016, o Ministério Público<br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />
(MPF-MG) pediu ao Google para<br />
que em todo o site fosse inserido<br />
um aviso <strong>de</strong> que publicida<strong>de</strong><br />
infantil é proibida e abusiva. O<br />
grupo <strong>de</strong> tecnologia ganhou o<br />
processo.<br />
No ano seguinte, os irmãos<br />
Felipe e Luccas Neto foram advertidos<br />
pelo Conar (Conselho<br />
Nacional <strong>de</strong> Autorregulamentação<br />
Publicitária) por conta<br />
da ação Desafio Felipe Neto vs.<br />
Luccas Neto (Na Netoland), que<br />
consistia em um sorteio no qual<br />
os vencedores passariam um<br />
dia na casa dos youtubers. As<br />
inscrições eram feitas por meio<br />
<strong>de</strong> ligações telefônicas.<br />
O órgão afirmou que o ví<strong>de</strong>o<br />
não <strong>de</strong>ixava claro que a promoção<br />
se tratava <strong>de</strong> um anúncio<br />
publicitário e que as regras para<br />
participação não foram expostas<br />
<strong>de</strong> forma clara.<br />
Mesmo retirando o ví<strong>de</strong>o do<br />
ar, os influenciadores recorreram<br />
da <strong>de</strong>cisão, que foi julgada<br />
em 2018 pelo Conselho <strong>de</strong> Ética.<br />
Em <strong>de</strong>cisão unânime, Felipe<br />
e Luccas foram punidos e o<br />
conteúdo permanece suspenso.<br />
Gran<strong>de</strong> parte do público dos<br />
canais é formada por crianças e<br />
adolescentes.<br />
O qUE diz a lEi?<br />
A resolução <strong>de</strong> 2014 do Conanda<br />
(Conselho Nacional dos<br />
Direitos da Criança e do Adolescente)<br />
consi<strong>de</strong>ra abusiva a prática<br />
<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação<br />
mercadológica à criança<br />
utilizando-se, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>de</strong><br />
linguagem infantil, representação<br />
<strong>de</strong> criança, pessoas ou celebrida<strong>de</strong>s<br />
com apelo ao público<br />
infantil, personagens ou apresentadores<br />
infantis, <strong>de</strong>senho<br />
animado, bonecos ou similares<br />
e promoções com distribuição<br />
“quAndo os<br />
influenciAdores<br />
fAlAm <strong>de</strong> produtos,<br />
eles se tornAm<br />
portA-vozes <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>terminAdA<br />
mArcA. É muito<br />
fácil que isso<br />
fujA do controle”<br />
<strong>de</strong> prêmios ou brin<strong>de</strong>s ou com<br />
competições ou jogos com apelo<br />
infantil.<br />
Segundo o Conar, os anúncios<br />
não po<strong>de</strong>m “empregar<br />
crianças e adolescentes como<br />
mo<strong>de</strong>los para vocalizar apelo<br />
direto, recomendação ou<br />
sugestão <strong>de</strong> uso ou consumo,<br />
sendo admitida, entretanto, a<br />
participação <strong>de</strong>les nas <strong>de</strong>monstrações<br />
pertinentes <strong>de</strong> serviço<br />
ou produto”. O conselho consi<strong>de</strong>ra<br />
também irregular as campanhas<br />
infantis com verbos no<br />
imperativo ou publicida<strong>de</strong> velada.<br />
EvOlUçãO dO MErcadO<br />
Para Carlos Tristan, CMO<br />
e cofundador da Squid, uma<br />
plataforma especializada em<br />
marketing <strong>de</strong> influência com<br />
microinfluenciadores, ocorrências<br />
como essa po<strong>de</strong>m ser<br />
positivas para que o mercado<br />
aprenda e crie para si novas regras.<br />
“Essa discussão é válida<br />
porque o relacionamento com<br />
influenciadores digitais, apesar<br />
<strong>de</strong> já ser prática do dia a dia, é<br />
ainda muito novo. Não existe<br />
uma receita <strong>de</strong> bolo, é necessário<br />
testar os formatos que funcionam”,<br />
afirma.<br />
O especialista acredita na relevância<br />
<strong>de</strong> investimentos mais<br />
assertivos para outros formatos<br />
publicitários além do unboxing,<br />
em que as marcas obtêm maior<br />
segurança em relação às entregas<br />
e resultados. “Às vezes o<br />
investimento é maior, mas com<br />
retorno muito mais robusto. O<br />
i<strong>de</strong>al para um relacionamento<br />
entre uma marca e um influenciador,<br />
seja o pagamento realizado<br />
em dinheiro ou produtos,<br />
é trabalhar com contratos, contrapartidas<br />
e monitoramento. É<br />
um processo melhor construído”,<br />
explica.<br />
Ainda <strong>de</strong> acordo com o CMO,<br />
a reputação <strong>de</strong> suas marcas é<br />
um dos principais motivos para<br />
se planejar melhor as ações digitais.<br />
“Quando os influenciadores<br />
falam <strong>de</strong> produtos, eles<br />
se tornam porta-vozes <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />
marca. É muito fácil<br />
que isso fuja do controle e repercuta<br />
negativamente quando<br />
não há uma preocupação com<br />
o histórico <strong>de</strong> quem está falando<br />
por você”. Tristan reforça<br />
ainda a importância <strong>de</strong> direcionar<br />
as ações, mesmo que infantis,<br />
não às crianças, mas sim a<br />
seus responsáveis. “No fim das<br />
contas, são os adultos que têm<br />
o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra e tomam <strong>de</strong>cisões”,<br />
aponta.<br />
A orientação vai <strong>de</strong> encontro<br />
ao que propõe também o Instituto<br />
Alana. “As crianças não<br />
compreen<strong>de</strong>m a diferença <strong>de</strong><br />
conteúdo e publicida<strong>de</strong>. Então,<br />
por que não falar com o adulto?<br />
Com esse público é possível<br />
abordar os diferenciais dos produtos<br />
sem apelar ao imaginário<br />
infantil para ven<strong>de</strong>r”, encerra<br />
Ekaterine.<br />
jornal propmark - <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 15