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edição de 21 de janeiro de 2019

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marcas<br />

Gillette divi<strong>de</strong> opiniões com nova<br />

campanha criada pela Grey NY<br />

Filme aborda a masculinida<strong>de</strong> tóxica e foi duramente criticado no<br />

YouTube; especialistas divergem sobre efetivida<strong>de</strong> do posicionamento<br />

LEONARDO ARAUJO<br />

Gillette quer “separar homens<br />

<strong>de</strong> meninos”. A nova<br />

A<br />

campanha da marca <strong>de</strong>seja inspirar<br />

os consumidores a reavaliarem<br />

o que significa ser melhor.<br />

Assim, a empresa também<br />

revê, 30 anos <strong>de</strong>pois, o slogan O<br />

melhor que um homem po<strong>de</strong> ter.<br />

O filme da iniciativa, criado pela<br />

Grey <strong>de</strong> Nova York, viralizou.<br />

Mas nem todo mundo gostou.<br />

“Eu vou parar <strong>de</strong> comprar<br />

Gillette a partir <strong>de</strong> agora”, diz<br />

um dos comentários mais curtidos<br />

do ví<strong>de</strong>o que, até o fechamento<br />

<strong>de</strong>ssa reportagem, tinha<br />

quase um milhão <strong>de</strong> dislikes,<br />

contra mais <strong>de</strong> 500 mil likes.<br />

“A campanha foi planejada<br />

para veiculação nos Estados<br />

Unidos, seguindo um posicionamento<br />

global <strong>de</strong> Gillette.<br />

Toda a comunicação da marca<br />

globalmente está se transformando<br />

e o Brasil faz parte <strong>de</strong>sse<br />

trabalho”, diz Juliana Moretti,<br />

diretora <strong>de</strong> marketing da empresa<br />

no Brasil. “Assim como lá<br />

fora, aqui queremos ressignificar<br />

o que as pessoas enxergam<br />

como masculinida<strong>de</strong>, não apenas<br />

em conceitos, mas também<br />

com iniciativas que po<strong>de</strong>m ajudar<br />

os homens na reflexão e no<br />

diálogo”, afirma a executiva.<br />

“Sabíamos que a campanha<br />

receberia reações diversas.<br />

Acreditamos que as gran<strong>de</strong>s<br />

marcas <strong>de</strong>sempenham um papel<br />

importante <strong>de</strong> influenciar<br />

culturas e <strong>de</strong>vem usar suas<br />

vozes para apoiar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

questões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância<br />

para seus consumidores”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

Juliana.<br />

“A ala conservadora tem tido<br />

uma voz significativa nos últimos<br />

tempos. Como se avanços<br />

e retrocessos andassem na<br />

mesma velocida<strong>de</strong>. Esta ala<br />

conservadora com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

opinião nas re<strong>de</strong>s sociais fez<br />

este fenômeno [a repercussão<br />

negativa] acontecer”, explica<br />

Paulo André Bione, diretor acadêmico<br />

da Miami Ad School.<br />

Bullying, assédio e agressões: masculinida<strong>de</strong> tóxica entra no radar da Gillette e marca recebe críticas <strong>de</strong> parte consi<strong>de</strong>rável do público<br />

“É um <strong>de</strong>ver das marcas dialogar<br />

não só features do produto,<br />

mas questões relevantes do<br />

seu público e para o seu público.<br />

Isso as tornam mais próximas<br />

das pessoas e menos entida<strong>de</strong>s.<br />

Não é mais sobre o meu<br />

produto. É sobre a sua vida e<br />

como eu vou po<strong>de</strong>r participar<br />

<strong>de</strong>la”, analisa Bione.<br />

Já para Marcos Be<strong>de</strong>ndo,<br />

professor <strong>de</strong> branding na pós-<br />

-graduação da ESPM, a Gillette<br />

errou ao querer abraçar um discurso<br />

<strong>de</strong> uma maneira “atabalhoada”.<br />

Para ele, a companhia<br />

nunca teve um posicionamento<br />

focado em causas.<br />

“A mudança <strong>de</strong> marca tem<br />

<strong>de</strong> ser feita com um pouco mais<br />

<strong>de</strong> cuidado”, analisa. “Enquanto<br />

discurso, o filme é bacana.<br />

Está alinhado às questões atuais,<br />

mas é uma abordagem que<br />

a Gillette nunca teve. É como<br />

se eu, que vi três jogos <strong>de</strong> futebol<br />

americano em toda a minha<br />

vida, quisesse ir lá nos Estados<br />

“É um <strong>de</strong>ver das<br />

marcas dialogar<br />

não só features<br />

do produto,<br />

mas questões<br />

relevantes do seu<br />

público e para o<br />

seu público”<br />

Divulgação<br />

Unidos discutir com o americano”,<br />

avalia.<br />

Em comparação, a Nike também<br />

sofreu críticas em 2018 por<br />

sua campanha estrelada pelo<br />

jogador Colin Kaepernick, mas<br />

a empresa trabalhou o discurso<br />

combativo ao longo dos anos.<br />

“A mudança <strong>de</strong>veria ser feita<br />

<strong>de</strong> uma maneira mais gradual.<br />

Marcas estabelecidas como a<br />

Gillette não têm um movimento<br />

rápido. Acho que o processo<br />

foi bem atabalhoado [...]. Posicionamentos<br />

que dão certo só<br />

funcionam quando as pessoas<br />

envolvidas com tal causa aceitam<br />

essa marca”, ressalta Be<strong>de</strong>ndo.<br />

Apesar das críticas, a empresa<br />

reiterou seu posicionamento.<br />

A marca da P&G também<br />

apresentou um programa <strong>de</strong>dicado<br />

a celebrar homens que<br />

façam a diferença e se comprometeu<br />

a doar US$ 1 milhão para<br />

ONGs americanas que combatem<br />

a masculinida<strong>de</strong> tóxica.<br />

jornal propmark - <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 41

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