Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
marcas<br />
Gillette divi<strong>de</strong> opiniões com nova<br />
campanha criada pela Grey NY<br />
Filme aborda a masculinida<strong>de</strong> tóxica e foi duramente criticado no<br />
YouTube; especialistas divergem sobre efetivida<strong>de</strong> do posicionamento<br />
LEONARDO ARAUJO<br />
Gillette quer “separar homens<br />
<strong>de</strong> meninos”. A nova<br />
A<br />
campanha da marca <strong>de</strong>seja inspirar<br />
os consumidores a reavaliarem<br />
o que significa ser melhor.<br />
Assim, a empresa também<br />
revê, 30 anos <strong>de</strong>pois, o slogan O<br />
melhor que um homem po<strong>de</strong> ter.<br />
O filme da iniciativa, criado pela<br />
Grey <strong>de</strong> Nova York, viralizou.<br />
Mas nem todo mundo gostou.<br />
“Eu vou parar <strong>de</strong> comprar<br />
Gillette a partir <strong>de</strong> agora”, diz<br />
um dos comentários mais curtidos<br />
do ví<strong>de</strong>o que, até o fechamento<br />
<strong>de</strong>ssa reportagem, tinha<br />
quase um milhão <strong>de</strong> dislikes,<br />
contra mais <strong>de</strong> 500 mil likes.<br />
“A campanha foi planejada<br />
para veiculação nos Estados<br />
Unidos, seguindo um posicionamento<br />
global <strong>de</strong> Gillette.<br />
Toda a comunicação da marca<br />
globalmente está se transformando<br />
e o Brasil faz parte <strong>de</strong>sse<br />
trabalho”, diz Juliana Moretti,<br />
diretora <strong>de</strong> marketing da empresa<br />
no Brasil. “Assim como lá<br />
fora, aqui queremos ressignificar<br />
o que as pessoas enxergam<br />
como masculinida<strong>de</strong>, não apenas<br />
em conceitos, mas também<br />
com iniciativas que po<strong>de</strong>m ajudar<br />
os homens na reflexão e no<br />
diálogo”, afirma a executiva.<br />
“Sabíamos que a campanha<br />
receberia reações diversas.<br />
Acreditamos que as gran<strong>de</strong>s<br />
marcas <strong>de</strong>sempenham um papel<br />
importante <strong>de</strong> influenciar<br />
culturas e <strong>de</strong>vem usar suas<br />
vozes para apoiar e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
questões <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância<br />
para seus consumidores”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
Juliana.<br />
“A ala conservadora tem tido<br />
uma voz significativa nos últimos<br />
tempos. Como se avanços<br />
e retrocessos andassem na<br />
mesma velocida<strong>de</strong>. Esta ala<br />
conservadora com po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
opinião nas re<strong>de</strong>s sociais fez<br />
este fenômeno [a repercussão<br />
negativa] acontecer”, explica<br />
Paulo André Bione, diretor acadêmico<br />
da Miami Ad School.<br />
Bullying, assédio e agressões: masculinida<strong>de</strong> tóxica entra no radar da Gillette e marca recebe críticas <strong>de</strong> parte consi<strong>de</strong>rável do público<br />
“É um <strong>de</strong>ver das marcas dialogar<br />
não só features do produto,<br />
mas questões relevantes do<br />
seu público e para o seu público.<br />
Isso as tornam mais próximas<br />
das pessoas e menos entida<strong>de</strong>s.<br />
Não é mais sobre o meu<br />
produto. É sobre a sua vida e<br />
como eu vou po<strong>de</strong>r participar<br />
<strong>de</strong>la”, analisa Bione.<br />
Já para Marcos Be<strong>de</strong>ndo,<br />
professor <strong>de</strong> branding na pós-<br />
-graduação da ESPM, a Gillette<br />
errou ao querer abraçar um discurso<br />
<strong>de</strong> uma maneira “atabalhoada”.<br />
Para ele, a companhia<br />
nunca teve um posicionamento<br />
focado em causas.<br />
“A mudança <strong>de</strong> marca tem<br />
<strong>de</strong> ser feita com um pouco mais<br />
<strong>de</strong> cuidado”, analisa. “Enquanto<br />
discurso, o filme é bacana.<br />
Está alinhado às questões atuais,<br />
mas é uma abordagem que<br />
a Gillette nunca teve. É como<br />
se eu, que vi três jogos <strong>de</strong> futebol<br />
americano em toda a minha<br />
vida, quisesse ir lá nos Estados<br />
“É um <strong>de</strong>ver das<br />
marcas dialogar<br />
não só features<br />
do produto,<br />
mas questões<br />
relevantes do seu<br />
público e para o<br />
seu público”<br />
Divulgação<br />
Unidos discutir com o americano”,<br />
avalia.<br />
Em comparação, a Nike também<br />
sofreu críticas em 2018 por<br />
sua campanha estrelada pelo<br />
jogador Colin Kaepernick, mas<br />
a empresa trabalhou o discurso<br />
combativo ao longo dos anos.<br />
“A mudança <strong>de</strong>veria ser feita<br />
<strong>de</strong> uma maneira mais gradual.<br />
Marcas estabelecidas como a<br />
Gillette não têm um movimento<br />
rápido. Acho que o processo<br />
foi bem atabalhoado [...]. Posicionamentos<br />
que dão certo só<br />
funcionam quando as pessoas<br />
envolvidas com tal causa aceitam<br />
essa marca”, ressalta Be<strong>de</strong>ndo.<br />
Apesar das críticas, a empresa<br />
reiterou seu posicionamento.<br />
A marca da P&G também<br />
apresentou um programa <strong>de</strong>dicado<br />
a celebrar homens que<br />
façam a diferença e se comprometeu<br />
a doar US$ 1 milhão para<br />
ONGs americanas que combatem<br />
a masculinida<strong>de</strong> tóxica.<br />
jornal propmark - <strong>21</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2019</strong> 41