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ORDENADOS ACIMA DA MÉDIA, TAXA DE EMPREGABILIDADE A 100%<br />
E POSSIBILIDADE DE PROGRESSÃO NUMA CARREIRA DE VANGUARDA.<br />
MAS, AFINAL, ONDE PARAM OS PINTORES DO RAMO AUTOMÓVEL?<br />
O JORNAL DAS OFICINAS FOI À PROCURA DE RESPOSTAS E CONVERSOU<br />
COM UM PROFISSIONAL DA ÁREA por Jorge Flores<br />
Em busca do profissional perdido. Este bem poderia<br />
ser o título que vai na cabeça dos responsáveis<br />
<strong>das</strong> empresas especializa<strong>das</strong> em repintura automóvel.<br />
Não apenas no mercado oficinal português, como<br />
em toda a Europa. Ordenados acima da média, taxa<br />
de empregabilidade a 100%, forte possibilidade de progressão<br />
numa carreira de vanguarda e de futuro assegurado.<br />
E entidades formadoras à disposição. Mas, afinal,<br />
porque existe tão pouca oferta de pintores perante tanta<br />
procura? Porque têm os gestores oficinais tanta dificuldade<br />
para renovar uma classe profissional cada vez<br />
mais envelhecida? João Calha, key account manager &<br />
training center leader da Axalta Coating Systems Portugal,<br />
acredita que falta, sobretudo, “valorizar” a profissão.<br />
“Temos de perceber que não podemos mudar tudo<br />
de um dia para o outro. O trabalho de divulgação tem<br />
de ser feito de uma forma consistente, ao longo do tempo.<br />
De raiz. Deverá ser dirigido às escolas e a uma população<br />
mais jovem, no sentido de esta valorizar a profissão.<br />
Hoje, é um trabalho de laboratório, equipamentos<br />
de segurança e limpo. Não é algo que se aprende facilmente,<br />
visto que tem uma componente técnica grande<br />
e requer habilidade no uso dos materiais. Mas é uma<br />
profissão tecnologicamente evoluída, com ferramentas<br />
digitais, bem paga e de emprego garantido. Com futuro.<br />
Mas os mais jovens, hoje, preferem os cursos de mecatrónico,<br />
que, muitas vezes, vai dar ao desemprego”, lamenta<br />
João Calha ao nosso jornal.<br />
O problema podia estar relacionado com a inexistência<br />
de cursos de formação. Mas não é o caso. Existem<br />
vários exemplos. A começar por marcas como a Mercedes-Benz<br />
e pela Toyota, através dos centros da Salvador<br />
Caetano (ambas para alimentarem a própria rede)<br />
ou entidades como o CEPRA, a Santa Casa da Misericórdia,<br />
através da Aldeia de Santa Isabel, ou o próprio<br />
Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP)<br />
em várias delegações pelo país. Acontece que, muitas<br />
vezes, o número de inscritos não chega para formar<br />
uma turma. E muitos dos que se inscrevem acabam<br />
por desistir a meio da formação. “O problema é de tal<br />
maneira grave, que o <strong>Jornal</strong> Expresso, dois anos seguidos,<br />
colocou os pintores do ramo automóvel entre as<br />
10 profissões mais carentes de profissionais”, acrescenta<br />
Virgílio Maia, diretor de marketing e comunicação<br />
da Axalta Coating Systems Portugal.<br />
Mercado preocupado<br />
Os gestores oficinais contactados pelo <strong>Jornal</strong> <strong>das</strong> <strong>Oficinas</strong><br />
manifestaram a sua preocupação com a escassez<br />
de pintores do ramo automóvel. Pedro Ramos, responsável<br />
da oficina Maniquecar, em Alcabideche, considera<br />
que a falta de profissionais é um problema que não<br />
afeta apenas a repintura automóvel, mas sim o setor<br />
na sua globalidade. Na sua opinião, as áreas da chapa<br />
e pintura são as mais graves. Mas não esquece as<br />
rececionistas. “Não há”, afirma. Em relação aos pintores,<br />
concretamente, para si, “faltam centros de formação”,<br />
lamenta. “Os cursos existem, mas falta informação.<br />
As pessoas desconhecem que podem ganhar entre<br />
€1200 a €1300, mais do que muitos ‘doutores’. Não<br />
existe essa perceção. Também ignoram o facto de ser<br />
uma profissão de futuro, porque, de pintura, os automóveis<br />
nunca deixarão de necessitar”, explica. E acrescenta:<br />
“Mas preferem todos ir para mecatrónica”. Segundo<br />
Pedro Ramos, esta situação obriga o mercado<br />
a contratar “profissionais estrangeiros”, porque portugueses,<br />
“não há. Nem bons nem maus”, diz.<br />
Uma sugestão? “Sensibilizar as pessoas para esta profissão,<br />
através de campanhas. Explicar que é uma profissão<br />
com muitas condições. Muitos têm medo dos<br />
pós e receiam que seja uma atividade suja. Não é o<br />
caso. Era necessário maior envolvimento <strong>das</strong> associações<br />
do setor”, defende o responsável da Maniquecar,<br />
cuja repintura automóvel representa entre 60 a 65%<br />
do seu negócio, com tendência para aumentar. “Assim<br />
haja profissionais”. Ao serviço, nesta área, tem três bate-chapas<br />
e cinco pintores.<br />
A oficina 11 Auto, por seu turno, dedica-se quase em<br />
exclusivo à repintura, apesar de ter serviços de mecânica<br />
como complemento do negócio. Significa isto que<br />
sente, como poucos, a carência de massa laboral. Hugo<br />
Silva, responsável da oficina de Mafra, reconhece<br />
que tal limitação obriga a impor uma “sobrecarga horária<br />
aos funcionários. Estamos sempre a pedir-lhes<br />
mais uma hora extra”. No seu entender, faltam cursos<br />
de formação em chapa e pintura. “Os centros preferem<br />
dar cursos de mecatrónica, onde basta uma sala<br />
de formação. Não tem grandes investimentos. Para dar<br />
formação na nossa área, é preciso outra logística e investimento<br />
maiores, como numa estufa, por exemplo”,<br />
explica ao <strong>Jornal</strong> <strong>das</strong> <strong>Oficinas</strong>.<br />
www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com Dezembro I 2019 11