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Jornal das Oficinas 169

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ORDENADOS ACIMA DA MÉDIA, TAXA DE EMPREGABILIDADE A 100%<br />

E POSSIBILIDADE DE PROGRESSÃO NUMA CARREIRA DE VANGUARDA.<br />

MAS, AFINAL, ONDE PARAM OS PINTORES DO RAMO AUTOMÓVEL?<br />

O JORNAL DAS OFICINAS FOI À PROCURA DE RESPOSTAS E CONVERSOU<br />

COM UM PROFISSIONAL DA ÁREA por Jorge Flores<br />

Em busca do profissional perdido. Este bem poderia<br />

ser o título que vai na cabeça dos responsáveis<br />

<strong>das</strong> empresas especializa<strong>das</strong> em repintura automóvel.<br />

Não apenas no mercado oficinal português, como<br />

em toda a Europa. Ordenados acima da média, taxa<br />

de empregabilidade a 100%, forte possibilidade de progressão<br />

numa carreira de vanguarda e de futuro assegurado.<br />

E entidades formadoras à disposição. Mas, afinal,<br />

porque existe tão pouca oferta de pintores perante tanta<br />

procura? Porque têm os gestores oficinais tanta dificuldade<br />

para renovar uma classe profissional cada vez<br />

mais envelhecida? João Calha, key account manager &<br />

training center leader da Axalta Coating Systems Portugal,<br />

acredita que falta, sobretudo, “valorizar” a profissão.<br />

“Temos de perceber que não podemos mudar tudo<br />

de um dia para o outro. O trabalho de divulgação tem<br />

de ser feito de uma forma consistente, ao longo do tempo.<br />

De raiz. Deverá ser dirigido às escolas e a uma população<br />

mais jovem, no sentido de esta valorizar a profissão.<br />

Hoje, é um trabalho de laboratório, equipamentos<br />

de segurança e limpo. Não é algo que se aprende facilmente,<br />

visto que tem uma componente técnica grande<br />

e requer habilidade no uso dos materiais. Mas é uma<br />

profissão tecnologicamente evoluída, com ferramentas<br />

digitais, bem paga e de emprego garantido. Com futuro.<br />

Mas os mais jovens, hoje, preferem os cursos de mecatrónico,<br />

que, muitas vezes, vai dar ao desemprego”, lamenta<br />

João Calha ao nosso jornal.<br />

O problema podia estar relacionado com a inexistência<br />

de cursos de formação. Mas não é o caso. Existem<br />

vários exemplos. A começar por marcas como a Mercedes-Benz<br />

e pela Toyota, através dos centros da Salvador<br />

Caetano (ambas para alimentarem a própria rede)<br />

ou entidades como o CEPRA, a Santa Casa da Misericórdia,<br />

através da Aldeia de Santa Isabel, ou o próprio<br />

Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP)<br />

em várias delegações pelo país. Acontece que, muitas<br />

vezes, o número de inscritos não chega para formar<br />

uma turma. E muitos dos que se inscrevem acabam<br />

por desistir a meio da formação. “O problema é de tal<br />

maneira grave, que o <strong>Jornal</strong> Expresso, dois anos seguidos,<br />

colocou os pintores do ramo automóvel entre as<br />

10 profissões mais carentes de profissionais”, acrescenta<br />

Virgílio Maia, diretor de marketing e comunicação<br />

da Axalta Coating Systems Portugal.<br />

Mercado preocupado<br />

Os gestores oficinais contactados pelo <strong>Jornal</strong> <strong>das</strong> <strong>Oficinas</strong><br />

manifestaram a sua preocupação com a escassez<br />

de pintores do ramo automóvel. Pedro Ramos, responsável<br />

da oficina Maniquecar, em Alcabideche, considera<br />

que a falta de profissionais é um problema que não<br />

afeta apenas a repintura automóvel, mas sim o setor<br />

na sua globalidade. Na sua opinião, as áreas da chapa<br />

e pintura são as mais graves. Mas não esquece as<br />

rececionistas. “Não há”, afirma. Em relação aos pintores,<br />

concretamente, para si, “faltam centros de formação”,<br />

lamenta. “Os cursos existem, mas falta informação.<br />

As pessoas desconhecem que podem ganhar entre<br />

€1200 a €1300, mais do que muitos ‘doutores’. Não<br />

existe essa perceção. Também ignoram o facto de ser<br />

uma profissão de futuro, porque, de pintura, os automóveis<br />

nunca deixarão de necessitar”, explica. E acrescenta:<br />

“Mas preferem todos ir para mecatrónica”. Segundo<br />

Pedro Ramos, esta situação obriga o mercado<br />

a contratar “profissionais estrangeiros”, porque portugueses,<br />

“não há. Nem bons nem maus”, diz.<br />

Uma sugestão? “Sensibilizar as pessoas para esta profissão,<br />

através de campanhas. Explicar que é uma profissão<br />

com muitas condições. Muitos têm medo dos<br />

pós e receiam que seja uma atividade suja. Não é o<br />

caso. Era necessário maior envolvimento <strong>das</strong> associações<br />

do setor”, defende o responsável da Maniquecar,<br />

cuja repintura automóvel representa entre 60 a 65%<br />

do seu negócio, com tendência para aumentar. “Assim<br />

haja profissionais”. Ao serviço, nesta área, tem três bate-chapas<br />

e cinco pintores.<br />

A oficina 11 Auto, por seu turno, dedica-se quase em<br />

exclusivo à repintura, apesar de ter serviços de mecânica<br />

como complemento do negócio. Significa isto que<br />

sente, como poucos, a carência de massa laboral. Hugo<br />

Silva, responsável da oficina de Mafra, reconhece<br />

que tal limitação obriga a impor uma “sobrecarga horária<br />

aos funcionários. Estamos sempre a pedir-lhes<br />

mais uma hora extra”. No seu entender, faltam cursos<br />

de formação em chapa e pintura. “Os centros preferem<br />

dar cursos de mecatrónica, onde basta uma sala<br />

de formação. Não tem grandes investimentos. Para dar<br />

formação na nossa área, é preciso outra logística e investimento<br />

maiores, como numa estufa, por exemplo”,<br />

explica ao <strong>Jornal</strong> <strong>das</strong> <strong>Oficinas</strong>.<br />

www.jornal<strong>das</strong>oficinas.com Dezembro I 2019 11

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