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7. Origem - Dan Brown

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basílica tão colossal que continuava em construção até hoje, quase 140 anos depois do início.

Olhando a imagem de satélite do famoso Parc Güell, Langdon se lembrou de sua primeira visita ao

local na época em que era estudante universitário: um passeio por uma terra de fantasia com colunas

retorcidas que imitavam árvores sustentando passagens elevadas, nebulosos bancos tortos, grutas com

fontes que lembravam dragões e peixes e um muro branco ondulante, tão nitidamente fluido que parecia a

cauda sinuosa de uma gigantesca criatura unicelular.

– Edmond adorava tudo de Gaudí – continuou Winston. – Em especial o conceito da natureza como

arte orgânica.

A mente de Langdon voltou à descoberta de Edmond. Natureza. Orgânica. A Criação. Pensou nos

famosos Panots de Gaudí em Barcelona – ladrilhos hexagonais encomendados para as calçadas da

cidade. Cada ladrilho tinha um desenho sinuoso idêntico com rabiscos que pareciam sem sentido. Mas

quando todos eram arrumados e girados intencionalmente, surgia um padrão espantoso: uma paisagem

subaquática que dava a impressão de plânctons, micróbios e flora submarina – La Sopa Primordial,

como os moradores da cidade costumavam chamar o desenho.

A sopa primordial de Gaudí, pensou Langdon, de novo espantado com o modo perfeito como a

cidade de Barcelona e a curiosidade de Edmond pela origem da vida se encaixavam. A teoria científica

prevalecente era que a vida tinha começado numa sopa primordial: os oceanos antigos onde os vulcões

expeliam substâncias químicas ricas que ficavam girando, umas ao redor das outras, constantemente

bombardeadas por relâmpagos de tempestades intermináveis… até que de repente, como algum tipo de

golem microscópico, a primeira criatura unicelular saltou para a vida.

– Ambra – disse Langdon –, você é uma curadora de museu. Deve ter discutido arte frequentemente

com Edmond. Alguma vez ele lhe disse especificamente o que o atraía em Gaudí?

– Só o que Winston mencionou. A arquitetura dele parece criada pela própria natureza. As grutas de

Gaudí parecem escavadas pelo vento e a chuva, suas colunas de sustentação parecem ter crescido da

terra e seu trabalho com ladrilhos lembra a vida marinha primitiva. – Ela deu de ombros. – Qualquer que

fosse o motivo, Edmond admirava Gaudí a ponto de ter se mudado para a Espanha.

Langdon olhou para ela, surpreso. Sabia que Edmond possuía casas em vários países ao redor do

mundo, mas nos últimos anos tinha escolhido se estabelecer na Espanha.

– Está dizendo que Edmond se mudou para cá por causa da arte de Gaudí?

– Acredito que sim. Uma vez perguntei a ele: “Por que a Espanha?”, e ele disse que tivera a rara

oportunidade de alugar uma propriedade única aqui, diferente de tudo no mundo. Presumo que estivesse

falando do apartamento dele.

– Onde fica o apartamento?

– Robert – disse ela –, Edmond morava na Casa Milà.

Langdon ficou perplexo.

– Na Casa Milà?

– A própria – respondeu ela, assentindo. – No ano passado, ele alugou todo o último andar e foi

morar na cobertura.

Langdon precisou de um momento para processar a novidade. A Casa Milà era um dos prédios mais

famosos de Gaudí, uma “casa” espantosamente original cuja fachada em camadas e as sacadas ondulantes

lembravam uma montanha escavada, o que havia suscitado seu apelido popular, “La Pedrera” – a

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