26.03.2020 Views

7. Origem - Dan Brown

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

E, finalmente, um cientista num laboratório usando uma camiseta em que estava escrito: NO PRINCÍPIO

O HOMEM CRIOU DEUS.

Langdon estava começando a se perguntar se alguém tinha ouvido de fato o que Edmond estava

dizendo: As leis da física sozinhas podem criar a vida. A descoberta do amigo era fascinante e

obviamente incendiária, mas, para Langdon, ela suscitava uma pergunta abrasadora que ele ficou

surpreso por ninguém fazer: Se as leis da física são tão poderosas a ponto de criar a vida… quem criou

as leis?

A pergunta, claro, resultava numa estonteante sala de espelhos intelectual e fazia tudo voltar ao ponto

de partida. A cabeça de Langdon estava latejando e ele sabia que precisaria de uma longa caminhada

sozinho para ao menos começar a entender as ideias de Edmond.

– Winston – disse ele acima do som da televisão. – Poderia, por favor, desligar isso?

Num instante, a tela ficou escura e a sala, em silêncio.

Langdon fechou os olhos e soltou o ar.

O doce silêncio reina.

Ficou parado um momento saboreando a paz.

– Professor? – chamou Winston. – Imagino que tenha gostado da apresentação do Edmond, não é?

Se gostei? Langdon pensou na pergunta.

– Achei empolgante e também desafiadora – respondeu. – Esta noite Edmond deu muita coisa para o

mundo pensar, Winston. Acho que a questão agora é o que acontece em seguida.

– O que acontece em seguida depende da capacidade de as pessoas deixarem de lado suas crenças

antigas e aceitarem novos paradigmas. Edmond me confessou há algum tempo que seu sonho,

ironicamente, não era destruir a religião… e sim criar uma nova religião: uma crença universal que

unisse as pessoas, em vez de dividir. Achava que, se pudesse convencê-las a reverenciar o universo

natural e as leis da física que nos criaram, todas as culturas celebrariam a mesma história da Criação em

vez de guerrear para decidir qual dos seus mitos antigos é mais exato.

– É um objetivo nobre – disse Langdon, percebendo que o próprio William Blake tinha escrito uma

obra com tema semelhante intitulada Todas as Religiões São Uma Só.

Sem dúvida, Edmond tinha lido.

– Edmond achava profundamente aflitivo – continuou Winston – que a mente humana tenha a

capacidade de elevar uma ficção óbvia ao status de verdade divina e depois se sentir encorajada a matar

em nome disso. Ele acreditava que as verdades universais da ciência poderiam unir as pessoas, servindo

como um ponto de encontro para as gerações futuras.

– Em princípio é uma bela ideia – respondeu Langdon. – Mas, para algumas pessoas, os milagres da

ciência não bastam para abalar suas crenças. Há quem insista que a Terra tem dez mil anos, apesar das

montanhas de provas científicas mostrando o contrário. – Ele fez uma pausa. – Mas suponho que aconteça

a mesma coisa com os cientistas que se recusam a acreditar na verdade das escrituras religiosas.

– Na verdade, não é a mesma coisa – contrapôs Winston. – E ainda que possa ser politicamente

correto tratar com equanimidade os pontos de vista da ciência e da religião, essa estratégia é

perigosamente equivocada. O intelecto humano sempre evoluiu rejeitando informações desatualizadas em

troca de novas verdades. Foi assim que a espécie evoluiu. Em termos darwinianos, a religião que ignora

fatos científicos e se recusa a mudar seus pontos de vista é como um peixe preso num lago ressecado que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!