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7. Origem - Dan Brown

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La Casita jamais foi o nosso destino final.

Trêmulo, Julián deu as costas para o bispo, olhando para além da entrada de veículos da casa de

campo, para a estrada rural que se estendia à frente deles. A distância, por entre as árvores, podia

vislumbrar as torres iluminadas de uma construção gigantesca.

El Escorial.

A menos de 1,5 quilômetro, parecendo uma fortaleza na base do Monte Abantos, ficava uma das

maiores estruturas religiosas do mundo – o fabuloso El Escorial, da Espanha. Com mais de três hectares

de área, o complexo abrigava um mosteiro, uma basílica, um palácio real, um museu, uma biblioteca e

uma série das mais apavorantes câmaras funerárias que Julián já vira.

A Cripta Real.

O pai de Julián o havia levado à cripta quando ele estava com apenas 8 anos, guiando o menino pelo

Panteón de Infantes, um labirinto de câmaras que transbordavam de túmulos de crianças da família real.

Julián jamais se esqueceria de quando viu o horrendo túmulo “bolo de aniversário”: um enorme

sepulcro redondo que parecia um bolo branco em camadas e continha os restos de 60 crianças da família

real, todas postas em “gavetas” que deslizavam para dentro do “bolo” por toda a eternidade.

O terror de Julián ao ver aquela tumba medonha foi eclipsado alguns minutos depois quando seu pai o

levou para ver o lugar de descanso final de sua mãe. Julián tinha esperado encontrar um túmulo de

mármore digno de uma rainha, mas em vez disso o corpo da mãe estava numa caixa de chumbo numa sala

de pedra nua no fim de um corredor comprido. O rei explicou que, no momento, a mãe de Julián estava

enterrada em um pudridero – uma “câmara de apodrecimento” –, onde os cadáveres reais ficavam

durante 30 anos, até que da carne só restasse pó, e então eram transferidos para os sepulcros

permanentes. Julián se lembrava de ter precisado de toda a força que possuía para lutar contra as

lágrimas e a ânsia de vomitar.

Em seguida seu pai o levou para o topo de uma escada íngreme que parecia descer para sempre na

escuridão subterrânea. Ali as paredes e os degraus não eram mais de mármore branco, e sim de uma

majestosa cor âmbar. A cada três degraus, velas votivas lançavam uma luz tremeluzente na pedra

marrom-amarelada.

O pequeno Julián levantou a mão e segurou o antigo corrimão de corda, descendo com o pai, um

degrau de cada vez… para o fundo das trevas. Na base da escada o rei abriu uma porta ornamentada e

ficou de lado, sinalizando para o menino entrar.

O Panteão dos Reis, disse seu pai.

Mesmo aos 8 anos, Julián tinha ouvido falar daquela sala – um local de lendas.

Tremendo, passou pela soleira e se viu numa resplandecente câmara ocre. Com a forma de um

octógono, a sala cheirava a incenso e parecia entrar e sair de foco à luz desigual das velas que ardiam no

lustre do teto. Julián foi para o centro, girando lentamente, sentindo-se frio e pequeno naquele espaço

solene.

Todas as oito paredes continham nichos fundos onde caixões pretos idênticos estavam empilhados do

chão ao teto, cada qual com uma placa dourada. Os nomes nos caixões vinham das páginas dos livros de

história de Julián: rei Fernando… rainha Isabel… rei Carlos V, sacro imperador romano.

No silêncio Julián sentiu o peso da mão amorosa do pai no ombro e a seriedade do momento o

dominou. Um dia meu pai será enterrado nesta mesma sala.

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