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7. Origem - Dan Brown

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revelaria algo muito diferente. Na verdade, a figura não era o Deus cristão, e sim uma divindade chamada

Urizen – um deus conjurado pela imaginação visionária de Blake. Ali, ele era representado medindo o

céu com um compasso gigantesco, prestando homenagem às leis científicas do Universo.

A obra tinha um estilo tão futurista que, séculos depois, o famoso físico e ateu Stephen Hawking a

havia escolhido como ilustração para a capa do seu livro Deus Criou os Números Inteiros. Além disso,

o atemporal demiurgo de Blake vigiava o Rockefeller Center de Nova York, olhando de cima de uma

escultura art déco intitulada Sabedoria, Luz e Som.

Langdon olhou para o livro, imaginando de novo por que Edmond teria se esforçado tanto para que

ele fosse exposto ali. Seria pura vingança? Um tapa na cara da Igreja Católica?

A guerra de Edmond contra a religião nunca chega ao fim, pensou Langdon, olhando o Urizen de

Blake. A riqueza dera a Edmond a capacidade de fazer o que desejava na vida, mesmo que fosse expor

uma arte blasfema no coração de uma igreja cristã.

Raiva e ressentimento, pensou. Talvez seja simples assim. Justa ou injustamente, Edmond sempre

havia culpado a religião institucionalizada pela morte da mãe.

– Claro, eu tenho pleno conhecimento de que esta pintura não é do Deus cristão – disse Beña.

Langdon se virou para o velho sacerdote com surpresa.

– Tem?

– Sim, Edmond foi muito explícito com relação a isso, mesmo não precisando. Eu conheço as ideias

de Blake.

– E mesmo assim não teve problema em expor o livro?

– Professor – sussurrou o padre, sorrindo –, esta é a Sagrada Família. Dentro dessas paredes, Gaudí

fundiu Deus, ciência e natureza. O tema desta pintura não é nada de novo para nós. – Seus olhos piscaram

misteriosamente. – Nem todos os membros do nosso clero são tão progressistas quanto eu, mas, como o

senhor sabe, para todos nós o cristianismo continua sendo uma obra inacabada. – Ele deu um sorriso

gentil, assentindo de novo na direção do livro. – Fico feliz porque o Sr. Kirsch concordou em não expor

o cartão dele junto com o livro. Considerando sua reputação, não sei como eu explicaria isso,

especialmente depois da apresentação desta noite. – Beña fez uma pausa, com o rosto sombrio. – Mas

sinto que esta imagem não é o que vocês esperavam encontrar, não é?

– O senhor está certo. Estamos procurando um verso de um poema de Blake.

– “Tygre Tygre, chama que arde pura / Nas florestas da noite escura”? – sugeriu Beña.

Langdon sorriu, impressionado ao ver que Beña sabia de cor os primeiros versos do poema mais

famoso de Blake – uma busca religiosa de seis estrofes perguntando se o mesmo Deus que havia criado o

temível tigre também criara o dócil cordeiro.

– Padre Beña? – chamou Ambra, agachando-se e olhando atentamente pelo vidro. – Por acaso, o

senhor tem um celular ou uma lanterna portátil?

– Não, sinto muito. Devo pegar uma lamparina do túmulo de Antoni?

– O senhor poderia, por favor? Seria útil.

Beña se afastou a passos rápidos.

No instante em que ele saiu, ela sussurrou, ansiosa:

– Robert! Edmond não escolheu a página 163 por causa da pintura!

– Como assim? – Não há mais nada na página 163.

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