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edição de 18 de maio de 2020

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entrevista<br />

Daniela Falcão<br />

CEO da Edições Globo Condé Nast<br />

este é um bom<br />

momento para<br />

os veículos<br />

explorarem<br />

o Digital<br />

CEO da Edições Globo Condé Nast, Daniela<br />

Falcão está no cargo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>de</strong> 2017,<br />

sendo responsável também pela direção<br />

editorial dos quatro títulos da casa - Vogue,<br />

Casa Vogue, GQ Brasil e Glamour. Antes, foi diretora<br />

<strong>de</strong> Vogue por um período <strong>de</strong> 11 anos, sem contar<br />

passagens por Folha <strong>de</strong> S.Paulo, Jornal do Brasil,<br />

Trip e TPM. Nascida em Salvador, foi apontada em<br />

2017 como uma das 500 pessoas mais influentes da<br />

moda internacional, segundo a Business of Fashion.<br />

Nesta entrevista, ela revela planos <strong>de</strong> digitalização<br />

<strong>de</strong> algumas publicações, comenta o momento<br />

complicado do setor <strong>de</strong> moda e os impactos <strong>de</strong><br />

médio e longo prazo na relação <strong>de</strong> consumidores<br />

e marcas do segmento.<br />

FELIPE TURLÃO<br />

Com a crise do coronavírus, você notou<br />

um <strong>maio</strong>r interesse das pessoas<br />

pelo noticiário <strong>de</strong> forma geral?<br />

Vejo o jornalismo fortalecido<br />

por dois ângulos diferentes: o da<br />

hard news e o das top news. No<br />

hard news, há um impacto do isolamento,<br />

quando as pessoas têm<br />

mais tempo para interagir com<br />

conteúdo, sejam informações que<br />

obtêm nos veículos ou o entretenimento<br />

em plataformas como<br />

Netflix. O tempo poupado nos<br />

transportes tem sido direcionado<br />

a isso e percebemos o crescimento<br />

<strong>de</strong> audiência, seja do conteúdo<br />

mais caseiro possível ao dos gran<strong>de</strong>s<br />

veículos <strong>de</strong> mídia. Vemos<br />

uma importância ainda <strong>maio</strong>r<br />

em um momento <strong>de</strong> fake news,<br />

inclusive com informações científicas<br />

equivocadas sobre o coronavírus.<br />

Nesse cenário, as fontes<br />

fi<strong>de</strong>dignas crescem <strong>de</strong> forma natural.<br />

Na mídia top news, especificamente<br />

<strong>de</strong> comportamento<br />

no nosso caso, estamos tendo a<br />

chance única <strong>de</strong> testar interações<br />

novas com o público em todos<br />

os formatos digitais e acelerando<br />

algumas experimentações. As<br />

pessoas querem consumir conteúdo<br />

<strong>de</strong> todas as maneiras e vemos,<br />

por exemplo, o sucesso das<br />

lives, algo que fazíamos pouco.<br />

Estamos testando os melhores<br />

formatos e, mesmo na indústria<br />

da moda, veremos mais <strong>de</strong>sfiles e<br />

apresentações <strong>de</strong> coleções feitas<br />

por streaming. Além <strong>de</strong> lives, vemos<br />

oportunida<strong>de</strong>s em webinars,<br />

e o TikTok. Po<strong>de</strong>remos oferecer<br />

mentorias com profissionais especializados,<br />

por exemplo. Há<br />

uma chance gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorarmos<br />

e termos engajamento em<br />

novos formatos digitais que ampliem<br />

o nosso repertório.<br />

Que oportunida<strong>de</strong>s surgem para os<br />

veículos se conectarem mais com as<br />

pessoas?<br />

Claro que não haverá tantas<br />

lives como hoje, mas ações em<br />

horários específicos. Elas vieram<br />

para ficar. Também vejo muita<br />

oportunida<strong>de</strong> nas newsletters<br />

e o The New York Times tem<br />

mostrado o caminho, com uma<br />

reformulação <strong>de</strong> seu morning<br />

briefing que, agora, tem conteúdos<br />

bem específicos, incluindo<br />

um sobre dicas do que fazer<br />

em casa durante a pan<strong>de</strong>mia. O<br />

conteúdo das newsletters tem<br />

ficado mais pessoal, com um jornalista<br />

importante coor<strong>de</strong>nando,<br />

trazendo mais audiência e engajamento.<br />

Nós vamos começar<br />

a fazer newsletters B2B, focada<br />

em empresários <strong>de</strong> moda e dividindo<br />

inteligência e assuntos que<br />

observamos. É um jeito <strong>de</strong> falar<br />

direto, com conteúdo e escala. O<br />

TikTok também se consolidou e<br />

traz agilida<strong>de</strong> e não só na comunicação<br />

com a geração Z. Ele é<br />

fundamental para veículos mais<br />

tradicionais, como o Washington<br />

Post, que tem um formato focado<br />

em entretenimento. Vejo que o<br />

TikTok, as newsletters e as lives<br />

são as gran<strong>de</strong>s três novida<strong>de</strong>s digitais<br />

que vieram para ficar nesse<br />

período. Em geral, percebemos<br />

um crescimento <strong>de</strong> veículos tentando<br />

retomar a importância da<br />

assinatura digital ou física. Ainda<br />

que o assunto <strong>de</strong> momento seja o<br />

coronavírus, há outros assuntos<br />

que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>spertar a atenção<br />

e vejo mais assinaturas digitais.<br />

Talvez os veículos consigam aumentar<br />

a questão das barreiras e<br />

conseguir dinheiro com assinaturas.<br />

É um bom momento para os<br />

veículos explorarem mais o seu<br />

conteúdo digital.<br />

Que impactos ocorreram no jornalismo<br />

<strong>de</strong> moda nessas semanas e como<br />

po<strong>de</strong>mos imaginar o futuro <strong>de</strong>le?<br />

Estamos vendo uma exigência<br />

menor na questão da qualida<strong>de</strong><br />

impecável <strong>de</strong> captação e imagem<br />

para passar uma mensagem. Especialmente<br />

na editoria <strong>de</strong> comportamento,<br />

que trabalha muito<br />

com foto, temos visto muitos<br />

conteúdos feitos <strong>de</strong> forma até caseira,<br />

inclusive na publicida<strong>de</strong>,<br />

que estão dando certo, e aproxi-<br />

mando o leitor <strong>de</strong> quem está falando.<br />

Esse senso <strong>de</strong> doméstico<br />

e informal, e <strong>de</strong> usar o potencial<br />

mais na pós-produção, <strong>de</strong>ve impactar<br />

a captação <strong>de</strong> imagens e<br />

conteúdos. Outra coisa que muda<br />

é darmos voz para especialistas e<br />

histórias especiais. Notamos que<br />

as histórias pessoais têm engajado<br />

muito mais. Se vamos falar,<br />

por exemplo, sobre sonhos estranhos,<br />

em vez <strong>de</strong> apenas um neurocientista,<br />

po<strong>de</strong>mos ter três ou<br />

quatro pessoas que falem sobre<br />

suas experiências particulares,<br />

nos ajudando a criar esse conteúdo<br />

<strong>de</strong> forma colaborativa. Hoje,<br />

partimos <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pauta,<br />

mas não controlamos a narrativa<br />

o tempo inteiro. Por isso, os<br />

veículos <strong>de</strong>vem dar mais espaço<br />

para contadores <strong>de</strong> história reais.<br />

A crise acelerou a digitalização do<br />

conteúdo sobre moda?<br />

Na moda, vemos alguns fenômenos.<br />

As marcas não vão<br />

po<strong>de</strong>r apresentar coleções em<br />

<strong>de</strong>sfiles ou coquetéis, como costumam<br />

fazer, pois, mesmo que<br />

os shoppings reabram em julho<br />

ou agosto, não será possível uma<br />

aglomeração. Mas elas precisam<br />

comunicar. Alguns <strong>de</strong>sfiles pelo<br />

mundo só serão feitos <strong>de</strong> forma<br />

digital e acredito que todos seguirão<br />

esse caminho em <strong>2020</strong>.<br />

Para nós, vamos ter <strong>de</strong> encontrar<br />

maneiras criativas e atraentes <strong>de</strong><br />

falar <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> coleção,<br />

que é a mola mestra tanto sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista comercial como<br />

editorial. Antes, éramos pautados<br />

pelos <strong>de</strong>sfiles e coleções apresentadas<br />

em lojas. Agora, precisaremos<br />

fazer isso <strong>de</strong> maneira virtual.<br />

Percebemos muitas experimentações<br />

nesse período, incluindo<br />

lives com estilistas ou happenings,<br />

sempre na busca pelo melhor<br />

formato. Mas toda comunicação<br />

<strong>de</strong> conteúdo, em <strong>2020</strong>, terá <strong>de</strong><br />

passar pelo digital, quanto mais<br />

canais eu dominar como veículo,<br />

melhor. Algumas coisas jamais<br />

voltarão a ser físicas novamente<br />

e todos os eventos <strong>de</strong> moda precisarão<br />

<strong>de</strong> um componente digital<br />

para ter engajamento. Daqui a<br />

uns <strong>de</strong>z anos, um jovem provavelmente<br />

vai questionar por que antes<br />

<strong>de</strong> <strong>2020</strong> não existiam eventos<br />

virtuais. É uma gran<strong>de</strong> revolução.<br />

16 <strong>18</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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