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entrevista<br />
Daniela Falcão<br />
CEO da Edições Globo Condé Nast<br />
este é um bom<br />
momento para<br />
os veículos<br />
explorarem<br />
o Digital<br />
CEO da Edições Globo Condé Nast, Daniela<br />
Falcão está no cargo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>de</strong> 2017,<br />
sendo responsável também pela direção<br />
editorial dos quatro títulos da casa - Vogue,<br />
Casa Vogue, GQ Brasil e Glamour. Antes, foi diretora<br />
<strong>de</strong> Vogue por um período <strong>de</strong> 11 anos, sem contar<br />
passagens por Folha <strong>de</strong> S.Paulo, Jornal do Brasil,<br />
Trip e TPM. Nascida em Salvador, foi apontada em<br />
2017 como uma das 500 pessoas mais influentes da<br />
moda internacional, segundo a Business of Fashion.<br />
Nesta entrevista, ela revela planos <strong>de</strong> digitalização<br />
<strong>de</strong> algumas publicações, comenta o momento<br />
complicado do setor <strong>de</strong> moda e os impactos <strong>de</strong><br />
médio e longo prazo na relação <strong>de</strong> consumidores<br />
e marcas do segmento.<br />
FELIPE TURLÃO<br />
Com a crise do coronavírus, você notou<br />
um <strong>maio</strong>r interesse das pessoas<br />
pelo noticiário <strong>de</strong> forma geral?<br />
Vejo o jornalismo fortalecido<br />
por dois ângulos diferentes: o da<br />
hard news e o das top news. No<br />
hard news, há um impacto do isolamento,<br />
quando as pessoas têm<br />
mais tempo para interagir com<br />
conteúdo, sejam informações que<br />
obtêm nos veículos ou o entretenimento<br />
em plataformas como<br />
Netflix. O tempo poupado nos<br />
transportes tem sido direcionado<br />
a isso e percebemos o crescimento<br />
<strong>de</strong> audiência, seja do conteúdo<br />
mais caseiro possível ao dos gran<strong>de</strong>s<br />
veículos <strong>de</strong> mídia. Vemos<br />
uma importância ainda <strong>maio</strong>r<br />
em um momento <strong>de</strong> fake news,<br />
inclusive com informações científicas<br />
equivocadas sobre o coronavírus.<br />
Nesse cenário, as fontes<br />
fi<strong>de</strong>dignas crescem <strong>de</strong> forma natural.<br />
Na mídia top news, especificamente<br />
<strong>de</strong> comportamento<br />
no nosso caso, estamos tendo a<br />
chance única <strong>de</strong> testar interações<br />
novas com o público em todos<br />
os formatos digitais e acelerando<br />
algumas experimentações. As<br />
pessoas querem consumir conteúdo<br />
<strong>de</strong> todas as maneiras e vemos,<br />
por exemplo, o sucesso das<br />
lives, algo que fazíamos pouco.<br />
Estamos testando os melhores<br />
formatos e, mesmo na indústria<br />
da moda, veremos mais <strong>de</strong>sfiles e<br />
apresentações <strong>de</strong> coleções feitas<br />
por streaming. Além <strong>de</strong> lives, vemos<br />
oportunida<strong>de</strong>s em webinars,<br />
e o TikTok. Po<strong>de</strong>remos oferecer<br />
mentorias com profissionais especializados,<br />
por exemplo. Há<br />
uma chance gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorarmos<br />
e termos engajamento em<br />
novos formatos digitais que ampliem<br />
o nosso repertório.<br />
Que oportunida<strong>de</strong>s surgem para os<br />
veículos se conectarem mais com as<br />
pessoas?<br />
Claro que não haverá tantas<br />
lives como hoje, mas ações em<br />
horários específicos. Elas vieram<br />
para ficar. Também vejo muita<br />
oportunida<strong>de</strong> nas newsletters<br />
e o The New York Times tem<br />
mostrado o caminho, com uma<br />
reformulação <strong>de</strong> seu morning<br />
briefing que, agora, tem conteúdos<br />
bem específicos, incluindo<br />
um sobre dicas do que fazer<br />
em casa durante a pan<strong>de</strong>mia. O<br />
conteúdo das newsletters tem<br />
ficado mais pessoal, com um jornalista<br />
importante coor<strong>de</strong>nando,<br />
trazendo mais audiência e engajamento.<br />
Nós vamos começar<br />
a fazer newsletters B2B, focada<br />
em empresários <strong>de</strong> moda e dividindo<br />
inteligência e assuntos que<br />
observamos. É um jeito <strong>de</strong> falar<br />
direto, com conteúdo e escala. O<br />
TikTok também se consolidou e<br />
traz agilida<strong>de</strong> e não só na comunicação<br />
com a geração Z. Ele é<br />
fundamental para veículos mais<br />
tradicionais, como o Washington<br />
Post, que tem um formato focado<br />
em entretenimento. Vejo que o<br />
TikTok, as newsletters e as lives<br />
são as gran<strong>de</strong>s três novida<strong>de</strong>s digitais<br />
que vieram para ficar nesse<br />
período. Em geral, percebemos<br />
um crescimento <strong>de</strong> veículos tentando<br />
retomar a importância da<br />
assinatura digital ou física. Ainda<br />
que o assunto <strong>de</strong> momento seja o<br />
coronavírus, há outros assuntos<br />
que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>spertar a atenção<br />
e vejo mais assinaturas digitais.<br />
Talvez os veículos consigam aumentar<br />
a questão das barreiras e<br />
conseguir dinheiro com assinaturas.<br />
É um bom momento para os<br />
veículos explorarem mais o seu<br />
conteúdo digital.<br />
Que impactos ocorreram no jornalismo<br />
<strong>de</strong> moda nessas semanas e como<br />
po<strong>de</strong>mos imaginar o futuro <strong>de</strong>le?<br />
Estamos vendo uma exigência<br />
menor na questão da qualida<strong>de</strong><br />
impecável <strong>de</strong> captação e imagem<br />
para passar uma mensagem. Especialmente<br />
na editoria <strong>de</strong> comportamento,<br />
que trabalha muito<br />
com foto, temos visto muitos<br />
conteúdos feitos <strong>de</strong> forma até caseira,<br />
inclusive na publicida<strong>de</strong>,<br />
que estão dando certo, e aproxi-<br />
mando o leitor <strong>de</strong> quem está falando.<br />
Esse senso <strong>de</strong> doméstico<br />
e informal, e <strong>de</strong> usar o potencial<br />
mais na pós-produção, <strong>de</strong>ve impactar<br />
a captação <strong>de</strong> imagens e<br />
conteúdos. Outra coisa que muda<br />
é darmos voz para especialistas e<br />
histórias especiais. Notamos que<br />
as histórias pessoais têm engajado<br />
muito mais. Se vamos falar,<br />
por exemplo, sobre sonhos estranhos,<br />
em vez <strong>de</strong> apenas um neurocientista,<br />
po<strong>de</strong>mos ter três ou<br />
quatro pessoas que falem sobre<br />
suas experiências particulares,<br />
nos ajudando a criar esse conteúdo<br />
<strong>de</strong> forma colaborativa. Hoje,<br />
partimos <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> pauta,<br />
mas não controlamos a narrativa<br />
o tempo inteiro. Por isso, os<br />
veículos <strong>de</strong>vem dar mais espaço<br />
para contadores <strong>de</strong> história reais.<br />
A crise acelerou a digitalização do<br />
conteúdo sobre moda?<br />
Na moda, vemos alguns fenômenos.<br />
As marcas não vão<br />
po<strong>de</strong>r apresentar coleções em<br />
<strong>de</strong>sfiles ou coquetéis, como costumam<br />
fazer, pois, mesmo que<br />
os shoppings reabram em julho<br />
ou agosto, não será possível uma<br />
aglomeração. Mas elas precisam<br />
comunicar. Alguns <strong>de</strong>sfiles pelo<br />
mundo só serão feitos <strong>de</strong> forma<br />
digital e acredito que todos seguirão<br />
esse caminho em <strong>2020</strong>.<br />
Para nós, vamos ter <strong>de</strong> encontrar<br />
maneiras criativas e atraentes <strong>de</strong><br />
falar <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong> coleção,<br />
que é a mola mestra tanto sob o<br />
ponto <strong>de</strong> vista comercial como<br />
editorial. Antes, éramos pautados<br />
pelos <strong>de</strong>sfiles e coleções apresentadas<br />
em lojas. Agora, precisaremos<br />
fazer isso <strong>de</strong> maneira virtual.<br />
Percebemos muitas experimentações<br />
nesse período, incluindo<br />
lives com estilistas ou happenings,<br />
sempre na busca pelo melhor<br />
formato. Mas toda comunicação<br />
<strong>de</strong> conteúdo, em <strong>2020</strong>, terá <strong>de</strong><br />
passar pelo digital, quanto mais<br />
canais eu dominar como veículo,<br />
melhor. Algumas coisas jamais<br />
voltarão a ser físicas novamente<br />
e todos os eventos <strong>de</strong> moda precisarão<br />
<strong>de</strong> um componente digital<br />
para ter engajamento. Daqui a<br />
uns <strong>de</strong>z anos, um jovem provavelmente<br />
vai questionar por que antes<br />
<strong>de</strong> <strong>2020</strong> não existiam eventos<br />
virtuais. É uma gran<strong>de</strong> revolução.<br />
16 <strong>18</strong> <strong>de</strong> <strong>maio</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark