NOREVISTA JULHO 2020
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R E P O R T A G E M<br />
administrativas, com efeitos socialmente<br />
inigualitários generalizados. Estes exemplos de<br />
concentração de dados digitais, a impregnação<br />
de algoritmos por preconceitos discriminatórios,<br />
os sistemas de crédito social ilustram o que tem<br />
sido designado como a sociedade vigilância.<br />
Acontece que, como sempre aconteceu, as<br />
transformações tecnológicas, as chamadas<br />
novas tecnologias disruptivas, podem ser<br />
desenhadas e aplicadas de diversas maneiras e<br />
com consequências sociais alternativas. Tudo<br />
está a acontecer rapidamente e a crise pandémica<br />
é também um momento de encruzilhadas.<br />
As tecnologias digitais, nomeadamente as<br />
envolvidas na resposta à crise sanitária,<br />
económica e social estão a ser tecnicamente<br />
desenhadas e socialmente utilizadas com o<br />
agravamento de novas desigualdades? Ou<br />
poderão ser tecnicamente desenhadas e<br />
socialmente utilizadas para a redução das<br />
desigualdades sociais, incorporando nos seus<br />
protocolos e aplicações critérios de respeito pelas<br />
liberdades democráticas, pelos diretos humanos<br />
e pelo sentido de justiça social?”<br />
A terceira questão designa-se pelas<br />
desigualdades e pela ciência, ao que o orador<br />
sublinha que “as possibilidades de enfrentar<br />
no imediato a pandemia do COVID-19 e<br />
as expectativas de obtenção de soluções<br />
para a doença no médio prazo têm sido em<br />
grande parte depositadas na opinião pública,<br />
na ciência e nos cientistas, nos médicos,<br />
biólogos e outros especialistas. Nos últimos<br />
meses, cientistas, universidades, centros de<br />
investigação, laboratórios, ensaios clínicos,<br />
projetos de pesquisa, conhecimentos cientícos,<br />
necessidades de mais conhecimento cientíco,<br />
controvérsias cientícas, tudo isto passou a<br />
fazer parte da conversação pública, em certa<br />
medida nas atuais circunstâncias a cultura<br />
cientíca dos cidadãos parece ter dado um<br />
passo mais avançado. É certo que a esfera<br />
pública atravessa também por fake news, teorias<br />
obscurantistas, mensagens de desinformação e<br />
opiniões anticientícas veiculadas por bolhas<br />
nas redes sociais e por políticos autoritários,<br />
pelo Trump ou pelo Bolsonaro. No entanto,<br />
os vários inquéritos feitos a vários países do<br />
mundo mostram que a maioria das pessoas<br />
está a atribuir grande utilidade, credibilidade e<br />
conança à ciência e aos cientistas, no sentido em<br />
que as políticas públicas e ações quotidianas dos<br />
cidadãos sejam mais informadas pelo conhecimento<br />
cientíco em que a opinião pública atribui<br />
credibilidade à ciência e aos cientistas. Então as<br />
possibilidades são também maiores das desigualdades<br />
sociais serem conhecidas e enfrentadas de maneira<br />
mais esclarecida. Neste sentido, o contributo das<br />
ciências sociais é particularmente relevante para<br />
o conhecimento das desigualdades e para agir de<br />
maneira informada na contenção e desagravamento<br />
das desigualdades sociais perante esta situação<br />
extraordinária de pandemia”.<br />
20 NOJUL20