NOREVISTA JULHO 2020
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R E P O R T A G E M<br />
riqueza no sentido em que nos permite aceder a<br />
diferentes culturas, entender melhor diferentes<br />
culturas através dessas línguas e até aceder a<br />
diferentes formas de conhecimento e de produção<br />
de conhecimento”, estabelecendo-se assim uma<br />
valiosa oportunidade de aprendizagem. Todavia,<br />
Raquel Matias alerta para o facto de que o estatuto<br />
social que estas populações estrangeiras assumem<br />
na sociedade portuguesa não acarretam o mesmo<br />
peso, reconhecimento e valorização do que as suas<br />
línguas maternas, na medida em que “há línguas<br />
sobre as quais se aufere maior valor em termos<br />
económicos e a nível da economia e da política<br />
internacional como o inglês e o francês e o alemão,<br />
mas há outras línguas que não são valorizadas<br />
da mesma forma pela nossa sociedade e isso tem<br />
implicações na disponibilização de informação”,<br />
que podemos encontrar a vários níveis, no acesso<br />
ao trabalho, no acesso à habitação e no acesso à<br />
saúde, a principal “questão que nos preocupa aqui e<br />
nas escolhas das várias línguas em que poderemos<br />
aceder a essa informação, ou seja, os cidadãos não<br />
estarão de todo no mesmo pé de igualdade para<br />
aceder a essa informação se as suas línguas não<br />
estiverem disponibilizadas”.<br />
No entanto, Raquel Matias arma que a política<br />
de ensino de língua portuguesa para a população<br />
estrangeira, residente em Portugal, “tem sido uma<br />
das prioridades desde há 20 anos para cá, com<br />
políticas nacionais para adultos e para crianças<br />
e jovens que frequentam o sistema de ensino”,<br />
embora se tenha vericado que não tem sido<br />
acessível de igual forma a todas as populações,<br />
sendo que as mais vulneráveis em termos de<br />
precariedade no mercado de trabalho, necessidades<br />
de regularização e exercícios dos seus direitos e<br />
também de baixos níveis de escolaridade “nem<br />
sempre têm sido aquelas que mais fácil acesso<br />
têm tido aos programas de ensino de língua<br />
portuguesa, o que lhes pode dicultar o exercício<br />
dos seus direitos e a criação de uma autonomia<br />
nanceira face a situações possíveis de maior<br />
precariedade e de exploração”. Com o COVID-19,<br />
arma a socióloga, se as situações de desigualdade<br />
se acentuaram em termos gerais, as desigualdades a<br />
este nível também se acentuaram.<br />
Dentro do contexto da pandemia COVID-19,<br />
Raquel Matias alude a vários estudos que<br />
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