NOREVISTA JULHO 2020
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E N T R E V I S T A<br />
para continuar ele queria ingressar outra prossão,<br />
ele então falou comigo no sentido de achar que eu<br />
tinha o perl para ser presidente da AJAM. Eu na<br />
altura era autarca, presidia à Junta de Freguesia do<br />
Cabouco e à Casa de Povo e pronto z um exame,<br />
depois de consultar a minha família, e decidi<br />
experimentar e aceitar este desao e foi assim que<br />
começou.<br />
Isto de ser jovem agricultor tem que se lhe diga.<br />
Vocês são jovens até aos 40 anos e vem aí uma<br />
norma, que já me disse, que a juventude vai até aos<br />
45. Portanto, isto tem aqui uns outros contornos<br />
benécos.<br />
Sim, faz sentido, porque também nós trabalhamos<br />
até mais tarde, porque a reforma normal é aos 66,<br />
mas quem é agricultor normalmente nunca se<br />
reforma àquela data. Essas normas também vêm<br />
na questão de depois serem apoiados e hoje em<br />
dia a atividade do jovem agricultor começa mais<br />
tarde, porque antigamente era tudo mais precoce,<br />
em tudo, na vida das pessoas. Antigamente, as<br />
pessoas casavam-se aos 18 anos e hoje já se casam<br />
aos 30 e alguns ainda estão por casar. Portanto,<br />
na agricultura também é igual. Antigamente, as<br />
pessoas começavam mais cedo a agricultura e<br />
começavam a sua atividade mais cedo. Hoje, é mais<br />
tarde e, portanto, faz todo o sentido que assim seja,<br />
mais por depois poderem usufruir dos apoios ao<br />
jovem agricultor.<br />
César, vamos entrar aqui num ponto mais<br />
melindroso. O valor do leite, nós sabemos que<br />
Portugal está na cauda da Europa com valores<br />
pagos ao produtor, porque estes valores tão<br />
descabidos, tão baixos, qual é o problema destes<br />
valores que se atingem?<br />
Nesse assunto ninguém é dono da verdade e<br />
ninguém sabe. O primeiro ponto que eu acho<br />
que é existe também esse preço assim devido<br />
também a alguma inoperacionalidade das<br />
indústrias e dos distribuidores que estão associados<br />
a essas indústrias, valorizar mais o produto<br />
e conseguirem aumentar o valor do produto.<br />
Depois, numa questão do consumidor, também,<br />
que procura no mercado sempre um preço mais<br />
baixo e existe também uma política da parte da<br />
grande distribuição e dos hipermercados e dos<br />
supermercados de usarem os lacticínios como isco<br />
para outras compras e também tentam sempre<br />
nivelar os preços por baixo. Portugal não é por<br />
norma um país de produção leiteira, não está<br />
enraizado nisto. Acho que o problema do leite em<br />
Portugal é a nível nacional e acho que a nível do<br />
Governo nacional, não do Governo dos Açores<br />
porque acho que estamos até apoiados e sempre um<br />
apoio do Governo Regional, isso não acontece. É<br />
natural que entre produto muito barato e de baixo<br />
valor que vem competir com o nosso produto que<br />
depois faz com que os nossos preços tenham de<br />
baixar muito. Enquanto isto for assim vai ser muito<br />
difícil nós termos um valor mais acrescido no preço<br />
do leite. Há que dar a volta a isto. Um produtor<br />
de leite não tem mãos nisso. Nós não vendemos<br />
leite, nós produzimos leite e cada vez estamos a<br />
produzir leite mais caro, com mais custos e temos<br />
que arranjar, para ter mais rendimento, formas de<br />
aumentar a nossa eciência. Ao longo dos últimos<br />
anos, o que se fez na produção leiteira em São<br />
Miguel e nos Açores é excecional. Nós passámos de<br />
leite albada para tanques de refrigeração recolhida<br />
na exploração, mas não é todos. Queremos que<br />
um dia possamos ser todos assim, mas já 50% do<br />
leite que se recolhe em São Miguel já é tudo de<br />
tanques de refrigeração nas explorações. Há um<br />
desenvolvimento espetacular nessa área, agora<br />
é que não está a ser devidamente valorizada. Já<br />
vínhamos antes da pandemia com diculdades,<br />
o preço já era baixo, durante a pandemia baixa o<br />
preço do leite e após a pandemia nós já sabemos o<br />
que é que irá acontecer.<br />
Porque é que existe uma discrepância entre o valor<br />
pago de leite na ilha Terceira e o valor aqui em São<br />
Miguel?<br />
Nós aqui em São Miguel temos a sorte de ter a<br />
Unileite que é a fábrica da lavoura e tenta sempre<br />
puxar o preço do leite para cima. Há uns 10 anos<br />
que já não há negociações pelo preço do leite. A<br />
AJAM tentou, ainda no meu primeiro mandato,<br />
conseguimos reunir as indústrias, a cooperativa<br />
da Unileite e o Governo à mesma mesa para<br />
discutir o preço do leite, mas sem sucesso e a<br />
partir daí nós percebemos que não faz sentido<br />
08 NOJUL20