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SCMedia News | Revista | Novembro 2020

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78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“O paradoxo da escolha”<br />

Barry Shwartz, 15 milhões de visualizações, 2005<br />

Existe um dogma oficial nas civilizações modernas ocidentais, tão entranhado em nós que nem o questionamos,<br />

de que, para maximizar o bem-estar de todos na sociedade, se tem de maximizar a liberdade de cada um, o que<br />

por sua vez se consegue maximizando a escolha individual.<br />

O leque de escolha é bom, por oposição a ausência de escolha, mas é mau quando se torna excessivo,<br />

defende Barry Schwartz. Por outras palavras, os limites são essenciais. No mundo em que vivemos, menos é<br />

definitivamente mais.<br />

Barry Schwartz fala-nos da epifania que<br />

teve quando foi comprar calças de ganga<br />

recentemente, as quais antigamente eram dum<br />

tipo único, muito desconfortáveis até serem<br />

usadas e lavadas algumas dezenas de vezes.<br />

Agora é possível sair duma loja com umas calças<br />

totalmente ajustadas, mas com um sentimento<br />

desagradável de que alguma coisa podia ser<br />

melhor.<br />

Basta ir a um supermercado na Europa ou nos<br />

Estados Unidos para nos sentirmos rodeados de<br />

escolha, por exemplo só nas dezenas de tipos de<br />

molhos para salada disponíveis. Implicitamente,<br />

tudo o que nos rodeia veicula a ideia de que a<br />

nossa autonomia se apoia na multitude de opções<br />

que são postas à nossa disposição, sejam sobre a<br />

nossa saúde, finanças ou trabalho. Mas será que<br />

isto nos torna mais felizes? Na realidade, tornanos<br />

miseráveis, segundo Barry Schwartz, por<br />

quatro razões principais.<br />

Primeiro, como a investigação científica, mas<br />

também o senso comum muitas vezes mostra,<br />

o excesso de opções pode paralisar-nos, em vez<br />

de nos libertar. Quanto mais temos por onde<br />

escolher menos sabemos pelo que optar, ficamos<br />

submersos nos critérios que devemos ter em<br />

conta e mais tempo temos de despender para<br />

obter um resultado reflectido. Segundo, seja<br />

qual for a opção escolhida, menos satisfeitos<br />

ficamos, porque há mais de que temos de abdicar,<br />

é o chamado custo de oportunidade que subtrai<br />

da nossa satisfação. Terceiro, há um escalar das<br />

expectativas. Quando alguém diz “antigamente<br />

é que era bom”, o que normalmente está a dizer<br />

é que antes, num passado não muito longínquo,<br />

havia mais surpresas agradáveis porque o<br />

dia-a-dia era bem mais limitado. O segredo da<br />

felicidade é manter as expectativas baixas. Por<br />

fim, com tantas escolhas à nossa disposição,<br />

a responsabilidade do que nos acontece é só<br />

nossa. Já não podemos culpar o universo, não há<br />

desculpa para o falhanço, e isso torna-se muito<br />

deprimente. O paradoxo é que estamos muito<br />

melhor do que antes, mas sentimo-nos muito pior.<br />

No fim, a má redistribuição da escolha no<br />

mundo equivale à má redistribuição da riqueza.<br />

Se todos tivéssemos alguma escolha, mas não<br />

demasiada, todos seriamos mais felizes.<br />

Barry Shwartz é um psicólogo americano, professor<br />

de Teoria Social e Acção Social no Swarthmore<br />

College, publicando frequentemente editoriais no<br />

The New York Times, em que aplica a sua pesquisa a<br />

eventos correntes.

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