SCMedia News | Revista | Novembro 2020
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />
“O paradoxo da escolha”<br />
Barry Shwartz, 15 milhões de visualizações, 2005<br />
Existe um dogma oficial nas civilizações modernas ocidentais, tão entranhado em nós que nem o questionamos,<br />
de que, para maximizar o bem-estar de todos na sociedade, se tem de maximizar a liberdade de cada um, o que<br />
por sua vez se consegue maximizando a escolha individual.<br />
O leque de escolha é bom, por oposição a ausência de escolha, mas é mau quando se torna excessivo,<br />
defende Barry Schwartz. Por outras palavras, os limites são essenciais. No mundo em que vivemos, menos é<br />
definitivamente mais.<br />
Barry Schwartz fala-nos da epifania que<br />
teve quando foi comprar calças de ganga<br />
recentemente, as quais antigamente eram dum<br />
tipo único, muito desconfortáveis até serem<br />
usadas e lavadas algumas dezenas de vezes.<br />
Agora é possível sair duma loja com umas calças<br />
totalmente ajustadas, mas com um sentimento<br />
desagradável de que alguma coisa podia ser<br />
melhor.<br />
Basta ir a um supermercado na Europa ou nos<br />
Estados Unidos para nos sentirmos rodeados de<br />
escolha, por exemplo só nas dezenas de tipos de<br />
molhos para salada disponíveis. Implicitamente,<br />
tudo o que nos rodeia veicula a ideia de que a<br />
nossa autonomia se apoia na multitude de opções<br />
que são postas à nossa disposição, sejam sobre a<br />
nossa saúde, finanças ou trabalho. Mas será que<br />
isto nos torna mais felizes? Na realidade, tornanos<br />
miseráveis, segundo Barry Schwartz, por<br />
quatro razões principais.<br />
Primeiro, como a investigação científica, mas<br />
também o senso comum muitas vezes mostra,<br />
o excesso de opções pode paralisar-nos, em vez<br />
de nos libertar. Quanto mais temos por onde<br />
escolher menos sabemos pelo que optar, ficamos<br />
submersos nos critérios que devemos ter em<br />
conta e mais tempo temos de despender para<br />
obter um resultado reflectido. Segundo, seja<br />
qual for a opção escolhida, menos satisfeitos<br />
ficamos, porque há mais de que temos de abdicar,<br />
é o chamado custo de oportunidade que subtrai<br />
da nossa satisfação. Terceiro, há um escalar das<br />
expectativas. Quando alguém diz “antigamente<br />
é que era bom”, o que normalmente está a dizer<br />
é que antes, num passado não muito longínquo,<br />
havia mais surpresas agradáveis porque o<br />
dia-a-dia era bem mais limitado. O segredo da<br />
felicidade é manter as expectativas baixas. Por<br />
fim, com tantas escolhas à nossa disposição,<br />
a responsabilidade do que nos acontece é só<br />
nossa. Já não podemos culpar o universo, não há<br />
desculpa para o falhanço, e isso torna-se muito<br />
deprimente. O paradoxo é que estamos muito<br />
melhor do que antes, mas sentimo-nos muito pior.<br />
No fim, a má redistribuição da escolha no<br />
mundo equivale à má redistribuição da riqueza.<br />
Se todos tivéssemos alguma escolha, mas não<br />
demasiada, todos seriamos mais felizes.<br />
Barry Shwartz é um psicólogo americano, professor<br />
de Teoria Social e Acção Social no Swarthmore<br />
College, publicando frequentemente editoriais no<br />
The New York Times, em que aplica a sua pesquisa a<br />
eventos correntes.