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01_TNSC_T20-21_La-Wally_Programa-Digital

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É quando saímos do teatro que percebemos que, de

todas as belezas que ouvimos, nenhuma praticamente

ficou na memória. Não saímos a trautear, ainda entusiasmados

pelo que escutámos, «Toréador, en garde,

toréador, l’amour l’amour t’attend», mas saímos antes

com a sensação de que passámos duas horas a ouvir

boa música e um bom espetáculo que, «hélas», não nos

deixará memórias específicas e duradouras. De um

ponto de vista que retire árias icónicas da equação, La

Wally é muito superior a, por exemplo, Pagliacci ou a La

Gioconda, e até ganha, a meu ver, em ser feita em versão

de concerto, pois concentramo-nos mais na música e

menos na «distração» cénica.

Porém, o público não se importa de esperar meia-

-hora por «Vesti la giubba» e de estar sentado mais

outra meia-hora sem nada de muito mais relevante

para ouvir em Pagliacci. O fascínio da ária na ópera

italiana é fulcral para o sucesso desta, e Ricordi, o

editor e ex-protetor de Catalani, sabia-o bem, e foi

(provavelmente) por perceber essa incapacidade de

Catalani segurar o seu público com esse momento de

catarse melódica que o abandonou à sua sorte.

Se, porém, a música de Catalani padece dessa falta de

sentido do entretenimento popular, já a sua relação

com Ricordi, Toscanini e, principalmente, a sua relação

com o odiado rival Puccini, daria uma boa ópera verista,

ou uma boa tragicomédia italiana, na linha de um

Totò. Ou talvez Fellini, na linha do seu amargo Ensaio de

LA WALLY – ALFREDO CATALANI

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