Edição 24 - Revista Aquaculture Brasil
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JUL/SET 2021
Fábio Sussel
Pesquisador Científico do Instituto de Pesca e Apresentador Canal #VaiAqua
Pirassununga, SP
fabiosussel@hotmail.com
Fermentados: moda ou tendência?
Quero acreditar que seja uma tendência. Independente
de ser nos moldes do Bokashi
tradicional (mais líquido) ou dos fermentados com
textura mais similares a uma massa, minha percepção
é que esta alternativa prebiótica, probiótica
e alimentar se apresenta ao setor produtivo
com uma nova roupagem e novos conceitos de
usos. Inclusive mais específico para certas situações
e especialmente reduzindo custos de produção,
atrelado a melhora do valor nutricional de certos
alimentos. Simples? Não, não muito simples. Mas
também nada complexo. É questão de entender
o processo como um todo e suas aplicabilidades.
Originalmente (no Japão), o Bokashi foi desenvolvido
para fertilização de plantas, principalmente
orquídeas e outras plantas ornamentais. Ao longo
do tempo foi adaptado/ajustado para uso na aquicultura.
Inicialmente para sistemas extensivos. Mas,
atualmente, vem sendo trabalhado muito forte nos
sistemas intensivos e superintensivos. Além da fertilização
da água em si, do fornecimento de pré e
probióticos, também já vem sendo usado, em sua
versão mais pastosa/massa, como fonte de alimento
direto tanto para peixes quanto para camarões.
Parece que a transformação (através da fermentação)
de alimentos de baixo valor nutricional (farelos
de arroz, de trigo, de mandioca etc...) em
compostos alimentares de alto valor nutricional,
tem se mostrado eficiente do ponto de vista produtivo
e econômico. Sem contar os benefícios da
função biorremediadora.
Falando em biorremediação, há relatos de efeitos
benéficos destes fermentados tanto a nível de
melhora da flora intestinal quanto do ambiente de
cultivo. Inclusive como forte aliado a melhor convivência
com a doença da mancha branca e a NIM,
no caso do cultivo de camarões. Tanto no combate
direto a estes vírus, já que processos fermentativos
em pH próximo de 4,0 são ricos em bactérias
ácido-láticas (Lactobacillus, Pediococcus, Bifidobacterium
etc...) as quais produzem ácidos orgânicos
com função antimicrobiana, como também através
da inibição de víbrios. No caso destes últimos, os
polissacarídeos gerados no processo de fermentação
são de um tipo de carboidrato pouco digerível
pelos víbrios, inibindo a proliferação destes.
De fato, do ponto de vista teórico, há embasamento
técnico suficientemente bem lastreado
para sustentar certa eficácia no combate a NIM e
a mancha branca. Na prática, vários são os pontos
a serem considerados para que realmente isto se
confirme.
Na Fenacam’21, que foi realizada entre 16 e 19
de novembro de 2021, os fermentados estiveram
em pauta tanto nas palestras quanto nos stands e
corredores da feira. Seja conversando com pesquisadores
ou empresários, o assunto esteve em evidência.
Fórmulas comerciais de Bokashi, contendo
vitaminas, minerais, melaço em pó, cepas de
bactérias e leveduras, foram lançadas. Na verdade,
coisa que já existia há alguns anos, mas agora começa
a tomar viés comercial. Igual se tem centro/
depósito de distribuição de ração, agora vamos ter
também centro de distribuição de Bokashi. Sinal
que resultados positivos no campo já devem estar
ocorrendo.
É uma tecnologia que tem história, tem o reconhecimento
da academia, tem lastro, vem sendo
testada há anos e que, portanto, reuni características
para ser mais uma ferramenta aliada do produtor.
É fundamental ter o discernimento que isto
é apenas um item a mais do processo, sem o viés
de depositar todas as expectativas que uma “receita
milagrosa” irá resolver todos os problemas da
criação. As vezes, promessas de que um produto
ou nova tecnologia possam ser a solução para mui-
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PARCEIROS NA 24° ED: