JUL/SET 2021Fábio SusselPesquisador Científico do Instituto de Pesca e Apresentador Canal #VaiAquaPirassununga, SPfabiosussel@hotmail.comFermentados: moda ou tendência?Quero acreditar que seja uma tendência. Independentede ser nos moldes do Bokashitradicional (mais líquido) ou dos fermentados comtextura mais similares a uma massa, minha percepçãoé que esta alternativa prebiótica, probióticae alimentar se apresenta ao setor produtivocom uma nova roupagem e novos conceitos deusos. Inclusive mais específico para certas situaçõese especialmente reduzindo custos de produção,atrelado a melhora do valor nutricional de certosalimentos. Simples? Não, não muito simples. Mastambém nada complexo. É questão de entendero processo como um todo e suas aplicabilidades.Originalmente (no Japão), o Bokashi foi desenvolvidopara fertilização de plantas, principalmenteorquídeas e outras plantas ornamentais. Ao longodo tempo foi adaptado/ajustado para uso na aquicultura.Inicialmente para sistemas extensivos. Mas,atualmente, vem sendo trabalhado muito forte nossistemas intensivos e superintensivos. Além da fertilizaçãoda água em si, do fornecimento de pré eprobióticos, também já vem sendo usado, em suaversão mais pastosa/massa, como fonte de alimentodireto tanto para peixes quanto para camarões.Parece que a transformação (através da fermentação)de alimentos de baixo valor nutricional (farelosde arroz, de trigo, de mandioca etc...) emcompostos alimentares de alto valor nutricional,tem se mostrado eficiente do ponto de vista produtivoe econômico. Sem contar os benefícios dafunção biorremediadora.Falando em biorremediação, há relatos de efeitosbenéficos destes fermentados tanto a nível demelhora da flora intestinal quanto do ambiente decultivo. Inclusive como forte aliado a melhor convivênciacom a doença da mancha branca e a NIM,no caso do cultivo de camarões. Tanto no combatedireto a estes vírus, já que processos fermentativosem pH próximo de 4,0 são ricos em bactériasácido-láticas (Lactobacillus, Pediococcus, Bifidobacteriumetc...) as quais produzem ácidos orgânicoscom função antimicrobiana, como também atravésda inibição de víbrios. No caso destes últimos, ospolissacarídeos gerados no processo de fermentaçãosão de um tipo de carboidrato pouco digerívelpelos víbrios, inibindo a proliferação destes.De fato, do ponto de vista teórico, há embasamentotécnico suficientemente bem lastreadopara sustentar certa eficácia no combate a NIM ea mancha branca. Na prática, vários são os pontosa serem considerados para que realmente isto seconfirme.Na Fenacam’21, que foi realizada entre 16 e 19de novembro de 2021, os fermentados estiveramem pauta tanto nas palestras quanto nos stands ecorredores da feira. Seja conversando com pesquisadoresou empresários, o assunto esteve em evidência.Fórmulas comerciais de Bokashi, contendovitaminas, minerais, melaço em pó, cepas debactérias e leveduras, foram lançadas. Na verdade,coisa que já existia há alguns anos, mas agora começaa tomar viés comercial. Igual se tem centro/depósito de distribuição de ração, agora vamos tertambém centro de distribuição de Bokashi. Sinalque resultados positivos no campo já devem estarocorrendo.É uma tecnologia que tem história, tem o reconhecimentoda academia, tem lastro, vem sendotestada há anos e que, portanto, reuni característicaspara ser mais uma ferramenta aliada do produtor.É fundamental ter o discernimento que istoé apenas um item a mais do processo, sem o viésde depositar todas as expectativas que uma “receitamilagrosa” irá resolver todos os problemas dacriação. As vezes, promessas de que um produtoou nova tecnologia possam ser a solução para mui-60PARCEIROS NA 24° ED:
Figura 1. Exemplos de Bokashi tradicional (mais líquido). © Ronaldo Yamadatos problemas podeacabar “queimando”o seu real potencial.Neste sentido, se oBokashi será moda outendência, não serásomente o tempo queirá dizer, mas tambémo modo como a novatecnologia será trabalhadae apresentadaao mercado.#VaiAqua!JUL/SET 2021PARCEIROS NA 24° ED:61