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Lady Killers_ Assassinas Em Série - Tori Telfer

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03. Melancolia

Ser uma mulher assassina se revelou algo bem solitário.

Nenhuma das mulheres neste livro parece ter tido

amigos próximos. Tillie tinha sua prima Nellie, Raya

tinha Sakina, Anna e Alice tinham seus amados filhos. E

só. O casamento e a maternidade não foram fontes de

conforto para a maioria dessas mulheres por motivos

óbvios. E, até onde posso afirmar, as únicas pessoas

que se aproximaram delas ou tentaram compreendê-las

foram sacerdotes, jornalistas e um ocasional médico ou

advogado de defesa — em outras palavras, pessoas que

lhes foram enviadas depois de terem sido presas,

quando era tarde demais para salvá-las de si mesmas.

Por falar em solidão, o termo mise en abyme, que significa

literalmente “lançado no abismo”, passou a me lembrar

dessas mulheres. A frase evoca o sentimento de uma

parede de espelhos: uma imagem de uma imagem, algo se

multiplicando na infinitude. Ouço isso e vejo Elizabeth

Báthory em seus salões cavernosos, ecoando no abismo,

sem ninguém para oferecer um reflexo em resposta, a não

ser sua própria realidade distorcida. Vejo Mary Ann Cotton,

condenada a se repetir vezes sem conta, reencenando

eternamente uma paródia sombria de casamento e

maternidade. Vejo as camponesas de Nagyrév, como se

cada um de seus assassinatos fosse uma peça dentro de

Hamlet, uma história minúscula refletida em uma maior,

contribuindo para a ideia de que as coisas que aconteceram

e as que ainda estavam por acontecer eram totalmente

inevitáveis.

De algum modo, não me sinto incomodada pelo fato de

que somos todos obcecados por assassinos em série. E

talvez eu devesse me sentir assim. (Mark Seltzer, professor

da UCLA que escreveu longamente sobre violência, chama

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