Revista eMOBILIDADE+ #03
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.
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EVENTOS<br />
Lisbon Green Gas Summit<br />
VISÕES ENVIESADAS<br />
E DISTORCIDAS<br />
Nuno Afonso Moreira,<br />
CEO da Dourogás<br />
do pensarmos que de um dia para o<br />
outro com a eletrificação do consumo<br />
seríamos capazes de descarbonizar toda<br />
a indústria. No setor da mobilidade,<br />
nomeadamente a ligeira, a eletrificação<br />
é uma medida muito positiva. Acreditamos<br />
que irá resolver a questão neste<br />
particular. Mas também é verdade<br />
que os consumos de eletricidade e de<br />
gás natural na mobilidade são muito<br />
semelhantes”, disse o líder da Dourogás,<br />
explicando de seguida o processo iniciado<br />
pelo grupo: “A Sonorgás iniciou há<br />
20 anos a deslocalização dos consumos<br />
de GPL para o gás natural a preparar o<br />
caminho para o que aí vem, para gaseificar,<br />
através dos gases renováveis. Nem<br />
todo o país vive o mesmo panorama,<br />
mas o ideal é que estivesse todo a remar<br />
para o mesmo lado. Há dez anos que já<br />
falamos do biometano. Já construímos<br />
dois projetos, em Mirandela e em Frielas,<br />
já fizemos o primeiro enchimento<br />
de veículos com biometano GNV.”<br />
MUITOS PROJETOS<br />
“E temos outros seis projetos em<br />
preparação para produzirmos uma<br />
quantidade significativa de biometano.<br />
Sendo o maior produtor de gás natural<br />
do país, abastecemos diariamente<br />
mais de mil viaturas pesadas. Não é um<br />
desejo, é uma obrigação, participarmos<br />
na descarbonização, através do biometano,<br />
mesmo que os nossos clientes<br />
ainda vivam na incerteza quanto à sua<br />
utilização. Mas é uma solução imediata.<br />
Também temos dez projetos para produzir<br />
hidrogéneo verde pelo país, para<br />
o podermos integrar na rede de gás,<br />
que será o melhor combustível para a<br />
indústria, aos preços mais baixos, ainda<br />
que a produção deste dependa muito<br />
do custo da eletricidade”, elencou Nuno<br />
Afonso Moreira.<br />
Que também disse ter sido desafiado<br />
pelo Governo a preparar um projeto<br />
para produção de metanol verde, em<br />
associação com outras empresas, projeto<br />
esse que foi aprovado. Será instalada<br />
em Mangualde uma fábrica de dimensões<br />
assinaláveis destinada a produzir<br />
E temos outros seis<br />
projetos em preparação<br />
para produzirmos uma<br />
quantidade significativa<br />
de biometano. Sendo<br />
o maior produtor de<br />
gás natural do país,<br />
abastecemos diariamente<br />
mais de mil viaturas<br />
pesadas<br />
hidrogénio e com o CO 2<br />
da chaminé da<br />
biomassa produzirá metanol. Este será<br />
transportado por ferrovia para o porto<br />
de Leixões e Aveiro. “Julgamos que o<br />
metanol será o combustível para o setor<br />
marítimo”, justificou o gestor, que anunciou<br />
uma novidade absoluta: a Dourogás<br />
já injetou, no final de março, na rede<br />
de gás da REN, 1 gWh de biometano,<br />
importado de Espanha, a que se seguirão<br />
outras adições de maior dimensão. “Até<br />
ao final do ano a nossa atividade será<br />
integralmente com biometano,” concluiu<br />
Nuno Afonso Moreira.<br />
O QUE É O BIOMETANO?<br />
Biometano é o nome dado a um combustível renovável derivado do biogás, constituído<br />
essencialmente por metano (85-95%), este obtido por remoção de dióxido de<br />
carbono e de impurezas (siloxanos, sulfureto de hidrogénio, entre outros), contidas<br />
no biogás. As suas caraterísticas são semelhantes às do gás natural, mas quando<br />
comparado com este reduz substancialmente as emissões CO 2<br />
e metano na atmosfera,<br />
apresentando-se como uma solução inteligente para o ambiente. O biogás é<br />
capturado pela decomposição de resíduos orgânicos, seja em aterros sanitários, das<br />
lamas das ETAR, ou mesmo pelo chorume produzido nas instalações agropecuárias.<br />
Já o hidrogénio verde é produzido por eletrólise da água usando energia de fontes<br />
renováveis e sem emissão de gases poluentes.<br />
DA IMPORTAÇÃO À EXPORTAÇÃO<br />
Ao dizer que o executivo que integra<br />
se associa à energia circular, o ministro<br />
sustenta que há financiamento do PRR<br />
(185 milhões de euros) para projetos<br />
de biometano, mas não esqueceu o<br />
dossier hidrogénio verde: “Já temos<br />
25 contratos assinados para a produção<br />
de hidrogénio verde e biometano,<br />
dotados com 100 milhões de euros de<br />
apoio, para produzir, até ao final de<br />
2025, 113 mWh de gases renováveis.<br />
Já determinámos a compra centralizada<br />
de hidrogénio e biometano, as<br />
suas quantidades e preços de injeção<br />
na rede, orientações importantes para<br />
a segurança dos investidores para que<br />
os projetos arranquem. A tal ponto de<br />
poder permitir a Portugal passar da<br />
condição de importador a exportador<br />
para o mercado europeu.”<br />
Com todos mais ou menos afinados<br />
pelo mesmo diapasão de ideias, pela<br />
Confederação da Indústria (CIP), Armindo<br />
Monteiro afiançou que “sem gás<br />
não teríamos o crescimento económico<br />
que temos tido em Portugal nos últimos<br />
tempos”, “da mesma forma que o<br />
mundo ainda não está preparado para<br />
a dispensa total de combustíveis, deixemo-nos<br />
de fantasias”. E se admitiu<br />
que “a transição energética é inevitável<br />
e desejável”, alertou que são dispensáveis<br />
os “estados de alma.”<br />
Luís Miguel Ribeiro, da AEP, pediu às<br />
empresas energéticas que produzam<br />
e distribuam essa energia a partir de<br />
fontes renováveis e a preços razoáveis.<br />
“É preciso andar rápido e a um custo<br />
economicamente aceitável”, sintetizou<br />
Alexandre Fernandes, presidente da<br />
ENSE. Já Luís Mira, secretário-geral da<br />
CAP, sublinhou que os agricultores estão<br />
interessados em utilizar os resíduos<br />
agrícolas para a produção de gases<br />
renováveis.+<br />
João Filipe Jesus, diretor executivo<br />
da Dourogás, comentou à eMOBI-<br />
LIDADE+ o teor das comunicações<br />
apresentadas, e não sem alguma ironia<br />
apreciou um fato ocorrido recentemente<br />
no terminal de gás natural do<br />
Porto de Sines, quando alguém decidiu<br />
bloquear a entrada e saída de cirternas<br />
naquela instalação:<br />
“Há um movimento que entende que<br />
devemos parar o consumo de gás. Mas<br />
admitamos o seguinte: essas pessoas<br />
podem ter ido a pé, ou de bicicleta,<br />
mas certamente gastaram energia.<br />
Admito, também, que essas pessoas<br />
tomaram banho de manhã e que depois<br />
tomaram um café, servido numa<br />
chávena de porcelana, que alguém<br />
produziu. De vez em quando temos<br />
uma visão muito enviesada e muito distorcida<br />
da realidade em que vivemos.<br />
Ora, nesta realidade, temos que ser<br />
plurais do ponto de vista tecnológico,<br />
agnósticos na arbitragens das tecnologias,<br />
não podemos ter a veleidade de<br />
dizer que tudo é eletrificável como o<br />
único caminho para a descarbonização.<br />
Não é plausível, pois no fim do dia<br />
são as famílias que pagam a transição<br />
energética.”<br />
A respeito da utilização do gás por<br />
veículos automóveis, João Filipe Jesus<br />
explicou que o gás natural representa<br />
atualmente 4% da mobilidade em<br />
Portugal, e que este valor já assegura<br />
menos 10 mil toneladas de CO 2<br />
/ano<br />
quando comparado com os combustíveis<br />
tradicionais. “Já estamos a dar<br />
essa contribuição e se queremos acelerar<br />
a penetração dos gases renováveis<br />
na mobilidade não podemos fechar<br />
essa porta de entrada, que é através<br />
do gás natural”, disse o diretor da<br />
Dourogás.<br />
No que se refere ao carregamento de<br />
veículos com biometano, João Filipe<br />
Jesus explicou que a sua potência<br />
energética é similar à do gás natural:<br />
“Estamos a falar de introduzir biometano<br />
no mix do GNV, nas formas gasosa<br />
ou liquefeita, para poder alimentar os<br />
transportes de grande curso. Nenhum<br />
operador destes transportes deverá<br />
recear a utilização deste gás limpo. É<br />
possível fazer quilómetros ‘verdes’ com<br />
motor de combustão interna, desde<br />
que seja de ciclo Otto e não ciclo<br />
diesel, adaptado a uma tecnologia que<br />
é a do petróleo.”<br />
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