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Francisco Klörs Werneck <strong>Jesus</strong> dos <strong>13</strong> aos <strong>30</strong> Anos<br />
Os essênios, tal como <strong>Jesus</strong> e os apóstolos, eram curandeiros e exorcistas. Num pequeno<br />
texto intitulado Prece de Nabonide, um rei da Babilônia, que havia sido curado por um<br />
exorcismo, declara: ‘Ele me remiu de meus pecados’. Os essênios acreditavam que um<br />
homem tinha o poder de perdoar os pecados. Isto chocava profundamente os fariseus que<br />
reprovavam <strong>Jesus</strong> quando dizia àqueles que curava: ‘Vai, teus pecados te são<br />
perdoados’.<br />
Os essênios acreditavam que detinham um conhecimento dos mistérios de Deus,<br />
conhecimento esse que escapava aos fariseus. Em um hino de Qumram os ‘hipócritas’ são<br />
repreendidos por ter ‘impedido os sedentes do Conhecimento, pois, quando tinham sede,<br />
recebiam vinagre para beber’. E <strong>Jesus</strong> apostrofou os doutores da Lei ‘porque guardam a<br />
porta da Sabedoria mas não entram nela nem deixam que os outros entrem’.<br />
Como se explica, então, que os essênios não sejam jamais mencionados nos Evangelhos?<br />
É verdade que não são denominados por este nome, mas como ‘os ho-mens do Conselho<br />
de Deus’, ou, ainda, como `a comunidade da Nova Aliança’, fórmula que será repetida<br />
pelos cristãos”.<br />
Por outro lado, como pensa o Padre Daniélou, ‘se os essênios não são jamais citados<br />
nos Evangelhos, a razão parece ser que, para Cristo, eles correspondem aos<br />
verdadeiros israelitas, aos pobres de Israel’. E mais: no momento em que foram escritos<br />
os Evangelhos, a guerra havia dispersado as comunidades essênias. Algumas foram<br />
assimiladas no judaísmo oficial, outras se reagruparam em torno da igreja nascente. Parece<br />
que, neste caso, na Síria, por exemplo, haviam comunidades essênias que foram<br />
integralmente transformadas em comunidades cristãs”.<br />
Outra questão: <strong>Jesus</strong> se considerava um essênio? Suponhamos que não. Ele conhecia a<br />
doutrina essênia: primeiro, pelos membros desta seita que pregavam na sinagoga; segundo,<br />
pelo seu primo João Batista que, segundo a maioria dos exegetas, teve contatos diretos<br />
com o Qumran antes de se transformar em um profeta solitário; terceiro, por muitos de<br />
seus discípulos - e não poucos - que mantinham relações com os discípulos de João Batista:<br />
Simão Pedro, André, Tiago e João. Mas <strong>Jesus</strong> acabou por organizar, ele mesmo, a sua<br />
comunidade e inspirou-se diretamente em certas regras essênias: abolição da propriedade<br />
privada, um tesoureiro (Judas Iscariotes) administrando os bens comuns. A Igreja era dirigida<br />
por 12 apóstolos, da mesma forma que a comunidade de Qumran era dirigida por um<br />
conselho de 12 membros. Entre os apóstolos, havia três que tinham mais importância que<br />
os outros: também eram em número de três os sacerdotes que presidiam o conselho essênio.<br />
É muito difícil admitir não tenha tido contato pessoal com meios essênios. Segundo alguns<br />
(como Danielou), ele se retirou para Qumran depois de ter sido preparado por João Batista<br />
e foi lá no deserto que ele conheceu as tentações do demônio. Ir ao deserto podia significar<br />
‘ir para Qumran’. A hipótese inversa parece mais provável. <strong>Jesus</strong> teria procurado uma<br />
comunidade essênia (mas não necessariamente a de Qumran) depois de ter sido instruido<br />
por João Batista, o qual se preparava, por sua vez, para propagar a sua própria doutrina.<br />
Após estas considerações, parcialmente transcritas do supracitado artigo, passemos<br />
ainda a outros autores. Para uns <strong>Jesus</strong> foi um essênio completo, para outros esteve entre eles e<br />
aprendeu os seus ensinamentos, de alguns dos quais discordou em parte.<br />
(Extrato da reportagem sob o título de<br />
“Salto de mil anos lança luz na história do texto bíblico”,<br />
publicada na edição de 10 de julho de 1962,<br />
de O Jornal, do Rio de Janeiro)<br />
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