Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
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Cícero Sandroni<br />
cher tentou respon<strong>de</strong>r mas foi levado preso, com Cremière, para uma <strong>de</strong>pendência<br />
da alfân<strong>de</strong>ga.<br />
Herói da resistência aos Bourbon ou tipógrafo falsário, quem era realmente<br />
Pierre Plancher? A vida <strong>de</strong>sse editor francês, à época <strong>de</strong> sua chegada ao Brasil<br />
perseguido pelas polícias <strong>de</strong> duas casas reais, permanecia obscura até ser estudada,<br />
quase um século mais tar<strong>de</strong>, por Félix Pacheco. Em Um Francês Brasileiro,<br />
biografia <strong>de</strong> Plancher, publicada em 1924 e mais tar<strong>de</strong> ampliada e editada na<br />
França, em 1930, Pacheco informa que Plancher nasceu em Mans, <strong>de</strong>partamento<br />
<strong>de</strong> Sarthe, na França, a 10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1779. Seu pai, Pierre René<br />
Constant Plancher <strong>de</strong> la Noé, era “avocat en parlement”e“procureur au siège présidial<br />
<strong>de</strong> Mans”. A morte <strong>de</strong> Pierre René a 9 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1789, trinta e cinco dias antes<br />
da queda da Bastilha, <strong>de</strong>ixou o filho órfão aos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sem recursos<br />
e obrigado a procurar meios <strong>de</strong> subsistência na França revolucionária.<br />
A exemplo do que respon<strong>de</strong>u Talleyrand quando perguntado sobre o que<br />
fez durante a Revolução Francesa, o menino Pierre também sobreviveu. Conseguiu<br />
um lugar <strong>de</strong> aprendiz <strong>de</strong> tipógrafo na fundação <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> J. Gillé, em<br />
Paris, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrou habilida<strong>de</strong> e gosto pelos trabalhos gráficos. Percorreu<br />
todos os estágios da profissão, até o <strong>de</strong> proter, isto é, chefe <strong>de</strong> uma oficina <strong>de</strong><br />
impressão. No comércio <strong>de</strong> livros passou <strong>de</strong> empregado a livreiro por conta<br />
própria e mais tar<strong>de</strong> editor bem conceituado na França da sua época. Em toda<br />
essa escalada profissional, conheceu outros tipógrafos, escritores, intelectuais,<br />
filósofos, editores e livreiros que viram os primeiros dias da Revolução, o Terror,<br />
o Diretório, e mais tar<strong>de</strong> a ascensão, a glória e a queda <strong>de</strong> Napoleão. Enquanto<br />
progredia nas artes gráficas e no comércio dos livros, Plancher se aproximou<br />
<strong>de</strong>sses homens e adotou algumas <strong>de</strong> suas idéias. Leitor dos iluministas,<br />
concluiu que só o regime da monarquia constitucional garantiria o exercício da<br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong> expressão.<br />
A 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1815 Luís XVIII retornou ao trono francês. Com a restauração,<br />
a direita agressiva (os ultras), ansiosa pela volta do ancien régime, reunia-se<br />
em torno do con<strong>de</strong> d’Artois, irmão do rei, e começava o “terror branco”, contra<br />
os partidários da Revolução e <strong>de</strong> Napoleão. Corajoso, Plancher continuava<br />
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