Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
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Nelson Saldanha<br />
tecnológico, disto resultando o enorme empurrão bibliográfico, a presença<br />
francesa existiu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIII como uma ampla pedagogia cultural,<br />
que possuía valor próprio e que por muito tempo existiu sem apoio em qualquer<br />
hegemonia política ou econômica.<br />
A pedagogia cultural francesa pôs à disposição do mundo mo<strong>de</strong>rno os dois<br />
séculos e pouco que vão <strong>de</strong> Descartes a Bergson: o racionalismo, o iluminismo,<br />
a revolução, o Código Civil, Napoleão, o tradicionalismo, o simbolismo, o impressionismo.<br />
Toda uma versão do humanismo oci<strong>de</strong>ntal, incluindo química e<br />
música, ballet,aEncyclopédie eoDicionário <strong>de</strong> Filosofia <strong>de</strong> Lalan<strong>de</strong>, a pintura heróica<br />
<strong>de</strong> David e <strong>de</strong> Delacroix, as Nimphées <strong>de</strong> Monet e o Bolero <strong>de</strong> Ravel.<br />
As produções <strong>de</strong> Hollywood atravessaram incólumes, transformadas em<br />
motivação juvenil e em “efeitos especiais”, a presença do impressionismo alemão,<br />
do neo-realismo italiano e da nouvelle vague. A vasta pedagogia francesa,<br />
por sua vez, sofreu a presença norte-americana dos quadrinhos (alguns ótimos)<br />
e da forte literatura dos Steinbeck e dos Hemingway. Sobrevive, porém,<br />
a França, como fonte inesgotável, em cada área da ativida<strong>de</strong> cultural, com seus<br />
atributos sempre ameaçados mas sempre preciosos.<br />
A filosofia social da língua inglesa, crescendo como referência nos trabalhos<br />
acadêmicos – e em geral expressando a visão do mundo do neoliberalismo –<br />
vem trazendo novo vigor para a tendência chamada analítica. Esta tendência,<br />
que ocorre também em certos autores alemães, tem uma pequena relação com<br />
Kant e com os lógicos da primeira meta<strong>de</strong> do século XX: ela representa a propensão<br />
<strong>de</strong> certos autores ao formalismo e ao nominalismo. A gran<strong>de</strong> e agônica<br />
reflexão <strong>de</strong> Sartre, bem como as argutas problematizações <strong>de</strong> Foucault, não<br />
parecem ter atualmente continuação a<strong>de</strong>quada.<br />
Mas a França, dizia eu, sobrevive.<br />
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Recife, 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005