Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
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José Arthur Rios<br />
iniciava na França a gran<strong>de</strong> fissura da infiltração marxista nos arraiais da Igreja.<br />
“Aujourd’hui les meilleurs vont au pire”, versão na língua <strong>de</strong> Molière do velho<br />
adágio latino – “corruptio optimi pessimi”. 2<br />
Por sua vez, Jackson, escrevendo dias <strong>de</strong>pois a Alceu, sugere que leia no último<br />
número do Roseau d’Or, nem mais nem menos que a obra <strong>de</strong> Maritain, Primauté<br />
du Spirituel; e, acrescenta: “Desejo muito que você o leia. Não pelo que ali<br />
se diz das relações do Estado com a Igreja que, a meu ver, melhor se resumem,<br />
quanto ao que <strong>de</strong>vem ser, nestas poucas palavras: Que o Estado tudo possa,<br />
seja onipotente, mas sob a direção espiritual da Igreja.” Essa leitura e mais a <strong>de</strong><br />
algumas páginas <strong>de</strong> Joseph <strong>de</strong> Maistre seriam, segundo Jackson, não propriamente<br />
remédios para a crise que Alceu atravessava mas “meios <strong>de</strong> você rever<br />
muita coisa <strong>de</strong> você mesmo que vai ficando para trás sob o nevoeiro das preocupações<br />
<strong>de</strong> cada momento”. 3<br />
A sugestão foi aceita. Dias <strong>de</strong>pois, Alceu promete ler o livro indicado, que<br />
estaria recebendo. Revelando, mais, a significação da obra <strong>de</strong> Maritain, Alceu,<br />
invectiva Jackson: “...Seja você o nosso Maritain, que fica, mas não seja o nosso<br />
Garcia Moreno, que passa.” A alusão ao ditador equatoriano, católico que<br />
morreu assassinado, é menos importante do que a expectativa <strong>de</strong> Alceu em relação<br />
à obra do pensador francês: “E nós, cuja inteligência oscila ainda na anarquia<br />
da cultura atropelada, hesitante, contraditória e aérea que recebemos e<br />
continuamente absorvemos em nossas a<strong>de</strong>gas sem or<strong>de</strong>m, precisamos muito<br />
mais <strong>de</strong> um Maritain que seja um rochedo em meio à tempesta<strong>de</strong>, do que um<br />
Moreno que seja apenas um herói.” 4<br />
Rompia o ano <strong>de</strong> 1928. A inteligência católica francesa mal emergia da marola<br />
causada pela con<strong>de</strong>nação da Action Française e <strong>de</strong> seu principal protagonista,<br />
o escritor positivista Charles Maurras, pelo Papa Pio XI. Daniel Rops evoca<br />
esse trágico episódio que ameaçou cindir a Igreja <strong>de</strong> França. “Foi, em toda a<br />
2<br />
LIMA, Alceu Amoroso e FIGUEIREDO Jackson <strong>de</strong>. Correspondência (1919-1928). Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Aca<strong>de</strong>mia <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Letras</strong>, 1991. Tomo I, p. 140.<br />
3<br />
Ib., pp.162-63.<br />
4<br />
Ib., pp. 271-72.<br />
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