Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
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José Arthur Rios<br />
Edgard <strong>de</strong> Godói da Matta Machado escrevia, nesse número <strong>de</strong> A Or<strong>de</strong>m,<br />
sobre “nosso mestre Maritain” e resumia suas lições: “Não foi apenas um<br />
mestre <strong>de</strong> doutrina, mas um exemplo humano [...] A ação <strong>de</strong> Jacques Maritain<br />
sobre nós representa algo assim como uma libertação e, ao mesmo tempo,<br />
uma integração.”<br />
Fábio Alves Ribeiro, que <strong>de</strong>sempenharia papel importante no Centro Dom<br />
Vital, <strong>de</strong>dica páginas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> a um resumo da obra capital <strong>de</strong><br />
Maritain, Les Degrés du Savoir. Para ele, o sentido maior do livro estaria no subtítulo,<br />
“distinguir para unir”, a <strong>de</strong>monstração da continuida<strong>de</strong> orgânica entre os<br />
diversos graus do saber humano.<br />
Outros escreveram sobre a contribuição <strong>de</strong> Maritain à Filosofia Política. O<br />
problema da <strong>de</strong>mocracia, na época, era essencial. Para Gladstone Chaves <strong>de</strong><br />
Melo, ninguém apurou como Maritain o verda<strong>de</strong>iro conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia,<br />
distinguindo na concepção <strong>de</strong>mocrática do homem e da socieda<strong>de</strong> um elemento<br />
subjetivo e um elemento objetivo, ou seja, “ um estado <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong>mocrático”<br />
e uma “doutrina <strong>de</strong>mocrática”. E lembrava a essência evangélica da<br />
<strong>de</strong>mocracia.<br />
Em curto ensaio, Guerreiro Ramos, recém-chegado ao Rio, por esse tempo,<br />
e ainda católico praticante, afirmava: “o que uma parte da minha geração <strong>de</strong>ve,<br />
sobretudo a Maritain, é a re<strong>de</strong>scoberta da pessoa humana, este <strong>de</strong>licado universo,<br />
diante do qual, segundo ele, o próprio Deus se <strong>de</strong>tém respeitoso.”<br />
De todos esses <strong>de</strong>poimentos, entretanto, o mais extraordinário – pela importância<br />
do <strong>de</strong>poente e por toda a circunstância do fato narrado – é, sem dúvida,<br />
o <strong>de</strong> Gustavo Corção. Vale transcrevê-lo, pela forma e pela substância:<br />
“Foi em 1936, quando Jacques Maritain voltava <strong>de</strong> Buenos Aires e, <strong>de</strong><br />
passagem, fez uma conferência sobre psicanálise, no Rio. Na véspera eu vira<br />
a notícia da passagem do filósofo e, como já tinha recebido um livro seu,<br />
guar<strong>de</strong>i o recorte com a entrevista e o seu retrato. Uma entrevista como as<br />
outras, uma fotografia como tantas. Mas guar<strong>de</strong>i-as. Ora, à tar<strong>de</strong>, por acaso,<br />
estando no meu quarto, ouvi o rádio do vizinho e percebi que estavam irra-<br />
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