Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
José Arthur Rios<br />
afastar Alceu <strong>de</strong> Maritain e o teriam lançado em labirintos filosóficos nos<br />
quais nunca se sentiu à vonta<strong>de</strong>.<br />
Quanto a Gustavo Corção, jamais se afastou do tomismo ou repudiou o<br />
Maritain filósofo. “A obra filosófica <strong>de</strong> Maritain permanece para mim inalterável,<br />
com reservas na filosofia política contida em Humanismo Integral e Democracia<br />
e Cristianismo.” Apenas nisso discordava <strong>de</strong> seu amigo Alfredo Lage, que<br />
se afastou <strong>de</strong> Maritain somente a partir <strong>de</strong> Le Paysan <strong>de</strong> la Garonne. Para Corção,<br />
os equívocos <strong>de</strong> Maritain, em matéria <strong>de</strong> filosofia política, já teriam começado<br />
em 1936, quando escreveu Humanismo Integral.<br />
Para <strong>de</strong>monstrar sua tese, Corção escreve um livro inteiro, O Século do Nada,<br />
cuja finalida<strong>de</strong> principal é provar as influências e reticências <strong>de</strong> Le Paysan <strong>de</strong> la<br />
Garonne, no que dizia respeito à infiltração comunista no clero e na Esquerda<br />
católica francesa. Enquanto Maritain se esforçava por <strong>de</strong>molir o teilhardismo<br />
como filosofia, seu hegelianismo, Corção procura afirmar as vinculações entre<br />
teilhardismo e marxismo. 27<br />
Corção não se cansa <strong>de</strong> afirmar: “Devo lembrar que não é a obra e a especulação<br />
filosófica <strong>de</strong> Maritain que está na berlinda, nem é também sua filosofia<br />
política, é antes sua política filosófica, ou melhor, é o que faz <strong>de</strong> sua filosofia,<br />
<strong>de</strong> seu prestígio, <strong>de</strong> seu nome e, até mesmo, <strong>de</strong> seu corpo nos ângulos <strong>de</strong>cisivos<br />
da História.” Corção acusa em Maritain certo dualismo psicológico. “Em<br />
contraste com sua enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> especulação abstrata, Maritain evi<strong>de</strong>ncia<br />
uma congênita fraqueza em face das constelações singulares <strong>de</strong> coisas e<br />
pessoas concretas.” 28<br />
Escreveu certa vez: “Os católicos não são o catolicismo. Os erros, a lentidão,<br />
as carências e cochilo dos católicos não comprometem o catolicismo. O<br />
catolicismo não tem que fornecer um álibi às falhas dos católicos.” 29 Na contraluz<br />
<strong>de</strong>sses <strong>de</strong>bates, percebe-se, nos contendores, a veemência <strong>de</strong> uma convicção,<br />
o amor à Verda<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>dicação à Igreja.<br />
27<br />
CORÇÃO, Gustavo. O Século do Nada, pp. 63, 66.<br />
28<br />
Ib., pp. 230, 239.<br />
29<br />
BARRÉ, Jean-Luc. Jacques et Raissa Maritain, les Mendiants du Ciel. Paris, 1996, p. 417.<br />
318