Jardim de Alah - Academia Brasileira de Letras
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Jean Manzon <strong>de</strong>pois da guerra<br />
Brasil, que esperava com ansieda<strong>de</strong> a revista dos dois endiabrados repórteres. Foi<br />
uma época feliz para todos nós, que trabalhávamos para os Diários. Até que<br />
Manzon saiu, para cuidar <strong>de</strong> sua vida, por conta própria, e nesse rumo acabou se<br />
enriquecendo, vindo a ser um homem razoavelmente rico para São Paulo, tanto<br />
que residia na Rua Escócia, na famosa Gaiola <strong>de</strong> Ouro, o edifício suntuoso<br />
construído por Adolpho Lin<strong>de</strong>mberg, para um grupo <strong>de</strong> incorporadores ricos.<br />
Fomos amigos cordiais, jantamos muitas vezes uns e outros, ou na minha<br />
residência ou na <strong>de</strong>le, e sempre comentamos os sucessos alcançados pela revista<br />
que ele e seu parceiro fizeram para os Associados, com uma perícia digna dos<br />
maiores centros do mundo em matéria jornalística. Cito novamente os Estados<br />
Unidos, afirmando que a Life não nos ficava muito à frente, menos, evi<strong>de</strong>ntemente,<br />
na parte gráfica, por falta <strong>de</strong> equipamento aqui. Manzon gostava <strong>de</strong>ssas<br />
recordações e ainda as animava, lembrando fatos que eu <strong>de</strong>sconhecia, pois<br />
era diretor das empresas e não repórter.<br />
Manzon, casou-se duas vezes, tendo dois filhos que continuam sua obra <strong>de</strong><br />
publicitário, pois nenhum dos dois herdou o talento <strong>de</strong> repórter fotográfico<br />
do pai. Casou-se a última vez com uma paulista, que suponho estar ainda viva,<br />
pois era bem mais moça do que ele. Foi quem recebeu o corpo, na igreja, quando,<br />
na sua proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal, uma quinta on<strong>de</strong> morava em sua passagem<br />
pela península, ele caiu, sofreu traumatismo craniano e faleceu ali mesmo on<strong>de</strong><br />
ocorrera o aci<strong>de</strong>nte.<br />
Manzon foi um gran<strong>de</strong> francês que amou o Brasil como o amam todos os<br />
franceses que conheci até hoje. Era um típico franco-brasileiro, tanto que seus<br />
filhos, ao que me conste, são brasileiros natos, e não pensam, suponho, em <strong>de</strong>ixá-lo,<br />
pois que não para escrever, mas para a continuida<strong>de</strong> do negócio fundado<br />
pelo pai, prosseguem como bons empresários.<br />
Esta é a homenagem que presto a um dos maiores fotógrafos do mundo,<br />
<strong>de</strong>sses cuja câmera, insisto, falava tanto quanto a máquina <strong>de</strong> escrever no tempo,<br />
não hoje, para perpetuar um nome que foi gran<strong>de</strong> no Brasil da imprensa e<br />
gran<strong>de</strong> como profissional da fotografia. Sua câmera <strong>de</strong>veria ser colocada num<br />
museu, por ser, simbolicamente, mágica.<br />
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